segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um dos poucos comunistas

Todo mundo sabia que o Damião era comunista. Era uma espécie de estigma que ele carregava consigo pela vida toda. Jamais duvidaram que fosse um comunista. No grupo todos diziam, alguns pesarosos, outros nem tanto: “o Damião é comunista como não se faz mais hoje em dia”.
Havia quem dissesse inclusive que o Damião era parente distante do Stalin, algo que ele não desmentia, “minha avó era meio irmã do primo do Stalin, o comunismo é hereditário”, ele alegava.
E se outra certeza havia sobre a predileção do Damião, era que ele não gostava de futebol. Torcia pro Lokomotiv de Moscou, “só pra lembrar dos velhos tempos”, declarava.

Quando o Damião morreu o grupo de amigos resolveu preparar uma cerimônia de despedida estrondosa, como o Damião merecia, afinal de contas o mundo estava perdendo um de seus poucos comunistas.

- O Jeremias sugeriu que se pusesse uma bandeira do PC do B sobre o caixão do falecido. Ideia que teve repúdio total:
- Que isso, o Damião nunca teve preferência política por aqui. Dizia que só se o próprio Marx se candidatasse à Presidência da República, teria o seu voto.
- Sem bandeira então.

O Adão Preto declarou aos berros, como era de costume:
- E uma foto do Stalin?
- Ah! Isso sim. Podemos mandar fazer um caixão personalizado, quiçá escrito: “Damião Stalin Pereira”.
- Boa! Boa!
- Decidido, o Damião merece.

Após mais alguns detalhes, resolveram-se todas as questões do enterro, do velório e da cerimônia. O Adão Preto seria o orador, e faria um discurso sobre a falta do Damião no grupo de amigos e na sociedade civil organizada, a qual Adão preferia chamar de (des)organizada.
Pouco antes da cerimônia, estávamos na casa do Damião, com o aval da Carmem, esposa dele, procurando fotos para ilustrar nossa despedida, e foi aí que tivemos a surpresa de nossas vidas. Damião era capitalista.
- CA-PI-TA-LIS-TA – alguém falou.
Diversas contas em nomes de laranjas, esquemas de lavagem de dinheiro e até fotos com Bill Gates, Bill Clinton e uma série de outros capitalistas famosos no mundo, estavam escondidas nos confins do roupeiro do Damião. Além de tudo aquilo, descobriram uma bandeira do Esporte Clube São José de Porto Alegre, bem dobrada e uma foto na qual Damião aparecia comemorando o título da Segundona, abraçado ao treinador do time na época, Vasques.
Ninguém acreditou no que viu, e por mais que quiséssemos preservar a integridade comunista e de inimigo do futebol do Damião, a notícia vazou, e no velório ninguém acreditava, todos queriam saber:
- Mas e ai, torcia pro Zéquinha mesmo?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Quando Marília anunciou que não ia sozinha, César chegou a suar frio.

- Como assim não vem sozinha?
- Vou levar uma amiga, oras.
- Uma amiga? Mas e o que combinamos?
- Tu não consegue fazer com duas, Césinha? Ouvi maravilhas tuas e tu vai me decepcionar?!
- Não é que vou decepcionar, porém, não sei se consigo com duas mesmo. É muita coisa, preciso de mais tempo, mais concentração, tudo tem que estar no ponto, senão tu sabe o que acaba acontecendo, tudo vem a baixo. Uma série de fatores interferem.
- Sempre pensei que fosse o sonho de todo homem como você.
- Pode ser, mas é algo a se pensar, preciso estar preparado. Mas creio que se eu tiver tudo o que se precisa a gente pode fazer.
- Okey, eu te aviso um pouco antes de irmos então.
- Certo, eu preciso comprar mais ingredientes, afinal de contas, é sempre muito complicado fazer um bolo de framboesa.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O canhão do Albino

Que fosse todos os sábados, embora eu tenha quase certeza que tudo acontecia no meio da semana, mas sempre achei o sábado uma data especial, portanto, era sim no sábado. O areião da pracinha perto de casa, uma das tantas que já morei, era o palco de uma sagaz disputa, onde oito mirradas miniaturas de futuros craques de futebol, quatro pra cada lado, mediam forças para ver quem seria o dono do campinho.

O meu time era sempre o mesmo e entrávamos em campo sob uma ovação que condizia com o tamanho do clássico que disputaríamos, a torcida ensandecida contava com a participação da irmã do nosso atacante, e...bem, da irmã do nosso atacante, que clamava pelo início do jogo, e pela vitória dos guris da rua de baixo (nós).

O sistema de som (Cláudio, um gordinho um pouco mais novo que nós), anunciava efusivamente o nome dos atletas para a imensa torcida que se fazia presente:

- Entra em campo o time da rua de baixo: Zelando as traves e o bem estar das redes da goleira do time, Ricardinho (sim, eu era o goleiro); fazendo o areião levantar, botinando os adversários, o zagueiro é BelZebú. O carque do time, ele que joga com beleza e destreza, no meio campo está o Devagar; e no ataque o homem que trouxe consigo a maior torcida do clássico, o melhor atacante que o time da Rua de Baixo já conheceu, Cenoura.

Pronto, estávamos em campo, nossa estratégia consistia em uma uma única tática que era sempre aplicada á risca: chuta a bola pra frente e se sobrar o Cenoura guarda.

Enquanto mantínhamos conversas definindo a postura do nosso time, o gordinho começou a anunciar o time da Rua de Cima. Tudo estava na mais perfeita paz até ele anunciar o nome que não queríamos ouvir, o mais temido, o menos querido e mais feroz atacante que rondava o bairro: Albino. A confusão começou quando o dito nome foi anunciado. Não podíamos deixar, o Albino era um terror, e não condizia com nosso esteriótipo de franzinos atletas. Além do mais a faixa etária do nosso time era de oito anos e o Albino tinha 19, faço questão de escrever que o Albino tinha DEZENOVE anos. Era inadmissível, mas o que poderíamos fazer? Não havia um regulamento para o jogo, portanto, estávamos em desvantagem, clara e total desvantagem.

Sob nossos imensuráveis protestos, o Tamanduá (capitão do time da Rua da Cima), cedeu e declarou: “o Albino será nosso meio campo e não poderá fazer gol”.

Ufa! Aquela frase foi um alívio para mim, o Albino chutava tal qual o Roberto Carlos, que na época tinha um foguete na perna esquerda. Saldei ao Divino por ter me livrado da incumbência de barrar o melhor atacante que o bairro já viu.

O jogo começou, e o gordinho Cláudio transformou-se no árbitro. A cada lance ele manifestava-se com gestos efusivos, indicando que aquele gordinho cresceria afeminado, o que não nos dizia respeito, afinal era de fato um bom juiz.

Nossa tática começou a dar certo, o Cenoura era um fenômeno, fazia gols de todos os jeitos, de cabeça, joelho, barriga, peito, vez que outra até com o pé. Tem gente que jura ter visto o Cenoura fazendo gol de pescoço. Estávamos vencendo por 1x0. Gol de cenoura. O primeiro tempo acabou.

Fomos exaustos à casamata (a sombra de um pinheiro com poucas folhas), e faceirinhos que estávamos traçamos uma única estratégia: “Pelo amor de Deus vamos ganhar esse jogo, parece que o Albino ta meio bêbado hoje, vamos aproveitar”, eu falei. E de fato o Albino não estava no melhor dos seus dias, não tinha feito uma boa jogada e o Belzebú estava invocado, não queria saber de brincar, embora fosse uns 15 centímetros menor que o Albino, ainda assim estava jogando como se fosse um metro maior.

O jogo reiniciou e segurávamos o 1x0. Faltava menos de dois minutos para o jogo terminar, e sagrarmo-nos campeões do campinho. Foi quando tudo aconteceu. A bola estava nas mãos do Cedenir (goleiro do outro time), quando eu vi o Albino olhando-me com aqueles olhos de fúria, olhos que ofuscavam a minha visão e faziam-me tremer dos pés à cabeça. Eu sabia que algo de muito ruim aconteceria. O Albino estava tramando alguma coisa, e essa coisa não poderia ser boa.

O Cedenir lançou a bola com violência para o Albino que dominou-a no peito, desvencilhou-se do Belzebú com um jogo de corpo criminoso e apontou bem na minha frente, como se tivesse seis metros de altura, eu estava desprevenido, não contava com aquele acontecimento, eis que o Albino, mau caráter que era, desferiu um pontapé estrondoso na esfera futebolística, ali, em plena minha frente, a menos de dois metros de mim. O que aconteceu a seguir foi um milagre, sem dúvidas. Eu defendi. Defendi o chute poderoso do Albino, defendi com o face, é verdade, e em seguida consegui apenas ouvir o som do Belzebú afastando a bola para a lateral e o gordinho Cláudio apitando o final do jogo, antes de eu cair desmaiado, tendo tempo de ouvir alguém berrando eloquentemente: “Mas que defesa!”

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ninguém trabalha de havaianas

Ninguém trabalha no verão! Absolutamente ninguém trabalha no verão. Não que ninguém queira trabalhar no verão, é bom que se diga. Menos ainda que todos estejam de férias no verão. O que acontece é simples, porém, cabe cuidado ao inciar uma explicação, ou diria ainda, uma explanação sobre tal teoria.

Vamos aos fatos. Eis que o sol que no inverno brilha longe – quando brilha – no verão aparece como mais novo melhor amigo de todo e qualquer par de havaianas que encontra-se ali, escondido em meio aos tênis velhos e as sapatos para se usar em casamentos. As havaianas no inverno, perdem em adesão popular até para as pouco discretas botas de chuva. Pois bem, não desvirtuando ao assunto, chegamos, com essa explicação, à uma das causas do por que ninguém trabalha no verão: quem diabos pode ir trabalhar de havaianas? Há exceções e eu bem sei que algumas pessoas trabalham de havaianas, mas sendo sabedor também, que ninguém em um escritório pode trabalhar de havaianas, e de que todos (sem exceção nesse caso) querem trabalhar assim no verão, aí já são cerca de 25% de pessoas que não trabalham no verão. Motivo? A falta das havaianas.

Não vou me ater à vestimenta veranista para justificar a minha tese, pois ainda me caberiam dois ou três parágrafos falando das bermuda/saias, das regatas/blusinhas e ainda do chapéu de palha.

Chapéu de palha, aposto que algum gaiato teve tempo para dizer: “eu não uso chapéu de palha”. Óbvio que não usa chapéu de palha. Aliás, acho que ninguém usa chapéu de palha. Eu não uso chapéu de palha, nunca usei, exceto em uma festa de São João que não vem ao caso agora. Porém, os mais atentos devem entender que o chapéu de palha é alusivo à uma coisa em especial, e digo mais, não é simplesmente uma coisa, é A Coisa, e só digo “coisa”, na falta de uma português mais amplo, que pudesse me ajudar à descrevê-la como de fato ela merece. A Coisa em questão, trata: se da praia, ou alguém nunca ouviu: “eu tava de chapéu de palha, na praia tomando sol”? A Coisa é a praia, o ápice do verão.

Quem trabalha no verão, enfurnado em um escritório, amparado por papeis e mais papeis que nem de longe lembram as dunas, de praias que pouco me importa se são Arroio do Sal ou Curumim? São praias.

Quem é o obcecado pela desgraça que rende alguma coisa abaixo de 35 graus célcios, quando esse mesmo sol que lhe ofusca a vista, vai estar lá em Marambaia, queimando o nariz dos poucos afortunados que já estão lá, degustando o inferninho (do bem), que o verão proporciona?

E Santa Catarina então? Chego a rir da possibilidade de alguém, por mais concentrado que seja, digitando freneticamente em seu computador, ou tentando arrumar a impressora que só fala em espanhol, quando poderia estar logo ali, há uns 400 quilômetros gastando suas energias na subida do Caminho do Rei, na Praia do Rosa, ou ainda testando o seu portuñol na Praia de Ferrugem?

Ninguém trabalha no verão, por causa das havaianas e da praia. Mais das havaianas que da praia, por único motivo em especial; as havaianas também lembram a praia. Portanto, aqui temos o chapéu de palha, na praia tomando sol, e de havaianas, por que ninguém que esteja na praia tomando sol de chapéu de palha, vai estar sem havaianas, isso é óbvio.

No verão ninguém trabalha, e mesmo na primavera, quando a temperatura começa a oscilar entre os 25 e 30 graus célcios, já começamos a parar de trabalhar, ou ainda de raciocinar, vide a baixa qualidade do texto que no instante acabo de escrever, e o senhor/a acaba de ler.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

De Nelson Rodrigues à terapia

Tudo começou na livraria, enquanto Nunes analisava um exemplar de “As mulheres gostam de apanhar”, de Nelson Rodrigues. Marta apenas o analisava, de olhos fixados hora na capa do livro, hora nos olhos de Nunes, que debruçavam-se timidamente nas páginas da obscenidade conjugal e cultural de Rodrigues.

Nunes distraído que era, se quer destinou um único e isolado olhar à Marta, que nem de longe era uma mulher dispensável, pelo contrário, exibia com benevolência as coxas torneadas, do alto de seu metro e setenta e cinco e meio, pois sempre fazia questão de frisar o “e meio”. Ela ali ficou, ladeando o rapaz, e lançando olhares que se transformaram de míseros olhares de soslaio, a secadas usurpadoras, cuja intenção se dava claramente àquele homem baixinho, de poucos cabelos e ainda assim despenteados, usando óculos largos e um leve ar de intelectual.

Nunes percebeu, assim que terminou a leitura do terceiro capítulo do livro que empunhava, que aquela mulher, que nem em sonhos não desejou, estava lhe encarando. “Talvez eu deva pedir se devo-lhe algo”, pensou, pessimista que era o Nunes. Não que de fato fosse areia suficiente para o caminhão de Marta, porém, quem entende as mulheres? E foi aí que uma ideia lhe veio à mente. Olhou a capa do livro que estava agora devolvendo à prateleira; “As mulheres gostam de apanhar”, pensou. Debruçou seu olhar de esguelha à Marta, que ainda o encarava tal qual o estivesse despindo ali mesmo. Nunes, antes de guardar o livro apontou para a capa do mesmo, e certificando-se que Marta ainda o mirava, a encarou e levantou levemente as sobrancelhas, como quem diz: “topas”?

Pé por pé veio Marta, debruçando-se sobre Nunes que estava sentado ali, em frente a estante dos contos/ crônicas. Marta enfiou-lhe o decote na face e quando Nunes quase estava asfixiado, ela perguntou:
- Então tu gosta de bater em mulher, não é?
Nunes viu aí a sua possibilidade de conquistar de fato a sem-vergonha. No papo Nunes era um garanhão incontrolável, ali ele comandava. Da forma mais charmosa que conseguiu, respondeu:
- Há situações em que o controle precisa ser rígido.

- E quais são elas?

- Quem me diz é você – Nunes mantinha o tom de voz mais alto que o de Marta, e engrossava a voz a cada sílaba pronunciada.

- E o que eu poderia dizer? - ela perguntou.
- Me peça para agir. - manifestou-se Nunes, sem pigarrear.
- Pois, aja.
Nunes pegou a bela morena pelo braço, com força, quase que arrastando-a pelo salão da livraria, afinal, era hora de mostrar o quão másculo ele era. Foi quando Marta lhe proferiu a frase que desde então assola os pensamentos de Nunes, os pensamentos e algo mais do nobre homem:
- Gosto de masoquismo, mas quem gosta de bater tem que gostar de sentir dor, topas? - ela sugeriu.
Nunes que nunca havia estado com uma mulher tão mulher, ou com um par de coxas tão par de coxas, ou ainda um com seios tão decotados, respondeu:
- Topo, por que não. ( sem alusões)

- Pois então me espere um minuto, que já volto.
Marta foi ao banheiro e Nunes aproveitou para deslisar pela livraria, contente e faceirinho, eis que resolveu analisar a prateleira de livros que Marta degustava antes de o encarar, e foi aí que tudo ficou claro e, ao final tudo escureceu. Nunes pegou na mão o exemplar que vira Marta devolvendo à estante, que com muita atenção reparou nas escritas: “GLS”, em seu topo. O livro, de capa ilustrada e colorida exibia como título: “Travestis bem dotados, também são mulheres”.
Nelson Rodrigues não habita mais a cabeceira da cama do Nunes, agora o carioca dá espaço a diversos livros de auto-ajuda ou de meditação, cujos títulos variam de: “Esqueça dores do passado” à “Medite para que a dor passe”. Tendo ainda espaço para anatomia, cujos títulos de origem retais não vem ao caso no momento.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Infância

Se alguma coisa pudesse me atingir de alguma forma, qualquer que fosse, não atingiria quando eu era criança. As coisas não acontecem quando se é criança, acontecem sim, quando se cresce, quando se diz que é adulto, por mais infantil que se possa ser. Penso, - coisa que tenho costumado fazer com mais frequencia, toda vez que tenho tempo – e lembro-me o quão mágica foi a minha infância.

Escrevi um parágrafo de uma redação que não sei, mais uma vez, onde vai dar, mas tenho certeza que uns dirão: “ih, bobagens nostálgicas do Ricardo”, e não deixam de ter razão. Não costumo escrever de mim, ou para mim, porém, quando faço, parece que sempre tento lembrar do passado, algo bom que me aconteceu. Não que o presente não seja bom, mas o passado é sempre melhor. Caso contrário não contaríamos histórias aos nossos amigos, e quando transássemos com aquela mulher linda, tão cobiçada por todo o grupo, não contaríamos, afinal, o presente seria mais importante.

O tempo veio passando mas as minhas histórias de guri não se apagaram de minha mente, e uma delas tentarei transmitir aqui, com a pouca capacidade que possuo.




Era verão...ou primavera... o que não vem ao caso, por que ainda há a possibilidade de que fosse outono, o que elimina de vez o inverno da minha listinha. O que interessa por hora, é que estava eu, belo e formoso, ou nem tão belo e nem tão formoso, uma vez que sempre tive esse rostinho desgraçado e sempre tive a estrutura corpórea de uma avestruz anoréxica, porém, estava lá, sentadinho na casa onde morava, morava não moro mais, e pensei (também pensava naquela época),e resolvi: “Vou passear”.
Como eu era independente, tomava atitudes sem consultar minha mãe, que por sua vez estava trabalhando. Era o dono do campinho, que por vezes eu chamava de casa. Saí. Rumei ao desconhecido, entrei em uma trilha sinuosa e ladeada por penhascos tão íngremes que um simples passo errado seria o meu fim. Segui firme por aqueles lados, até encontrar um rio, de onde peixes e sereias me olhavam, tal qual meus amigos de infância. Vivi aventuras, fiz amizades com elfos, gnomos. Isso tudo sem em momento nenhum ter usado qualquer tipo de drogas. E no fina, virei um príncipe e vivi feliz para sempre.


É claro que essa história é fictícia e nada disso aconteceu de fato, mas isso serve para comprovar que mesmo não sendo mais criança, ainda posso sonhar, posso brincar, por mais mangolão que isso seja. E minha imaginação, ah minha imaginação!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Patrícia, a ladra de corações

Sentia-se tentado toda e qualquer vez que ela passasse por ele. Fosse o cheiro suave como flor do campo, fosse a cintura a qual podia agarrar com uma só mão. Quem sabe fosse o cabelo que com ou sem vento, por mágica esvoaçava. Sabe-se que de fato ela lhe tirava o folego, a atenção, excitava-lhe e em uma ocasião quase tomara-lhe a família.

Era assim a Patrícia, que todos sabiam ser uma ladra de corações e derrubadora de lares, mas Claudinei pensou: “Ah não!, Comigo não”. Pensou errado o Claudinei, e o pessoal da empresa todo parou quando ela foi até a sala dele.

Claudinei era novo na empresa, havia duas semanas tinha começado, pois já sabia bem da fama da Patrícia. Patrícia foi levar um café até ele e o tempo parou, tal qual seu queixo onde a baba quase escorria. Ele sabia, sim, sabia que ela era arisca, mas não sabia que um contato direto com aquela mulher poderia o perturbar tanto: “uma ladra de corações”, logo resumiu. Esboçou uma conversa, porém, a voz embargou e ele ficou ali, estaqueado, tentando por força destravar a fala. Não conseguiu.

Patrícia saiu da sala, ele demorou alguns minutos para voltar ao normal.

Nas duas semanas seguintes, Claudinei ensaiava conversas com Patrícia, coisa que até então não havia acontecido. A moça aproximava-se e como por um feitiço, ele travava, era batata. Certa feita, ele a enxergou cruzando o corredor, suave como o vento, vinha se aproximando cada vez mais, ele suava. Ela andava, ele suava, ela andava, ele suava. Ela entrou, ele engasgou:

- Olá seu Claudinei, o senhor está passando bem?
- C...cla..claro, claro. Per...per...perfeitamente bem.

- Ainda bem, o senhor me parece tão jovem e tão saudável, que me sentiria tão mal se algo lhe acontece. Acho que o senhor ainda tem muito pique.
- Pi...pique, claro, tenho sim.
- Gostaria de testar.
- Testar c...c...c...como?
- Sexo.
A vista de Claudeinei escureceu, e ele só recobrou os sentidos quando estava em cima de mesa de sua sala, com dezenas de pessoas ao seu redor, abanando-lhe, e prestando os primeiros socorros. A primeira coisa que viu quando acordou, foi Patrícia com o decote bem acima do seus olhos, assoprando-lhe o rosto.
Claudinei pediu transferência da sua empresa, foi para outra cidade dizendo apenas a frase: “Minha família não”.
Chegou na empresa e não sabe por que, mas quando a via sentia-se tentado toda e qualquer vez que ela passasse por ele. Fosse o cheiro suave como flor do campo, fosse a cintura a qual podia agarrar com uma só mão. Quem sabe fosse o cabelo que com ou sem vento, por mágica esvoaçava. Sabe-se que de fato ela lhe tirava o folego, a atenção, excitava-lhe e em uma ocasião quase tomara-lhe a família.

Quando ela entrou na sua sala, ele pareceu conhecer aquela voz:

- Seu Claudinei, minha irmã, Patrícia me falou muito bem do senhor.
Claudinei se aposentou por invalidez, após o segundo infarto em menos de duas semanas.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Acabe com o mundo você também

Gosto do passado, isso não é novidade. Gosto da história que alguém já viveu, e pode contar para os outros. Sinto-me um tanto impotente perante a isso, pois não tenho história à contar, ou a minha história não pode ser contada. Fato esse, que não condiz só a mim, é uma virtude própria da juventude. Virtude que falo em um sentido irônico da palavra, uma vez que de virtude essa virtude não tem nada, sacas? Pois bem, essa virtude, que não é virtude e sim defeito, é característica de nós jovens. A 'virtude da inutilidade'.

Se eu pensar, coisa que ainda faço, é simples comparar situações e estabelecer um critério único. Ninguém faz o que tem de ser feito, hoje em dia. Não que só os jovens sejam nulos, mas a atualidade também é. Digo, é possível que não se retrate em livros de história que um presidente semi analfabeto pudesse ser um fhürer, ou coisa parecida. Claro, que não nos faz falta um ditador tal qual Hitler, mas é difícil imaginar que Lula bradasse para uma multidão ensandecida, com seus quatro dedos ao ar, gritos que a convocassem para um guerra iminente e prevalecida, e o pior, fazer essa multidão acreditar que a guerra era por um bom motivo. Imagino (ou tento imaginar), Lula, com seu português rebuscado, gritando a plenos pulmões.




Claro, é melhor não imaginarmos uma nova ditadura, uma vez que caso houvesse, não teríamos força para tirar do poder aqueles que lá estariam. Dúvida? Pense. Há alguns anos, cerca de 40, houve força jovem suficiente, senão para deter um governo ditatorial, para opor-se a ele, e aposto o que quiserem comigo, que a juventude atual não faria igual, ah não faria. É provável, claro, que em um duelo de vídeo game, ganhássemos com uma significativa vantagem, porém, política, não é o nosso forte.


Bem verdade que a política atual não nos gera interesse, a menos que se queira cultivar bastas e sedosas bigodeiras, para gerar, além de revolta em toda a comunidade (não só pelo bigode), um cargo vitalício na presidência do Senado Federal, que por mais maculado que seja, ainda assim continua límpido e cristalino aos olhos de quem manda.
Como que desatinadamente, me vem à mente mais alguns resquícios do que aprendi na escola, e penso nas mais estonteantes invenções ou atos solenes. Seria possível que um de nós (se inclua nessa), ganhasse um Nobel da Paz, por levantar-se perante à atrocidades sem o uso de uma arma sequer? Refiro-me ao que nos passado fez Mahatma Gandhi. Confesso que não sei da história dele o que de fato gostaria de saber, mas o mínimo que sei, me faz afirmar que não, nenhum de nós faria igual. Ao passo que a maior revolução que faremos é para os nossos filhos, ou seja, acabar com a água no mundo, quiçá, com um pouco de sorte acabaremos inclusive com o mundo.
Isso, achei a solução mais fácil para todo o nosso problema de impotência, que não confunde-se com a sexual, uma vez que quanto a isso, nós jovens temos fôlego suficiente, mas sim nossa impotência perante ao que deve ser feito pelo mundo. Não faremos o que se deve. e na minha solução proponho que acabemos com o mundo propositalmente. Explico minha teoria da salvação da tal forma: ao compasso que andam a coisa, de clara regressão, se nós não conseguirmos destruir o mundo, gerações futuras o farão, e tomarão os nossos méritos. Caso consigamos acabar com todo um planeta, aí sim, pode anotar, caso haja vida inteligente em outros planetas, dentro de alguns anos, estaremos todos, sem exceção, nos livros de história.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A chinchila do mal

Uma vez conheci uma chinchila do mal. Pouca gente sabe o quanto uma chinchila pode ser cruel. Alguns ainda, não sabem o que é uma chinchila, quem dirá que pode ser maligna. O fato é que existem sim chinchilas tocadas pelo dedo do belzebu e uma delas, eu conheci.
Trabalhei uma época da minha vida, em uma criação de chinchila. E foi lá que me encontrei com o satã de pelo macio e carinha de coelho. Nunca na minha vida fui tão ridicularizado por alguém, o “Mal” (como a chamarei agora) fez de mim gato e sapato.

Era uma manhã nublada, eu alimentava solitário os mais de três mil roedores que ciciavam seus dentinhos na saborosa ração que lhes oferecia. Todos estavam fagueiras, animadas com a ceia do dia. Uma não. Cabe aqui a repetição da frase: Uma não!
Passei por ela, e vi nos seus olhos o ódio, ela carregava naqueles olinhos arregalados, tanta raiva quanto uma chinchila pode carregar. Tudo começou quando eu lhe entreguei inocentemente sua porção de ração do dia, em seguida à olhei, contemplando a reação de felicidade que deveria brotar naquele focinho peludo. Não brotou,ao contrário, a partir daquele momento meu martírio começou.
Sabe-se lá como, a maldita desvencilhou-se das grades que a separavam do mundo, sorrateira que era, me tomou muito esforço. Por horas eu à persegui, desesperado, afinal o animal sozinho me custaria um mês de salário. Corri em círculos por pouco mais de meia hora, quando ela desapareceu. O Mal.

Atônito eu continuava as buscas que julgava inúteis, uma vez que meu fracasso era quase um fato consumado, ficaria sem a chinchila, sem salário, mas minha dignidade aquele monstro não tomaria de mim, não me entregaria sem lutar.
A manhã passou, a tarde se fez e depois da tarde, a noite, a madrugada adentrou e eu ali, de tocaia, o animal não ia vencer assim. Estava atento a qualquer movimento, um simples balançar de papel me ressaltaria e dessa forma o Mal não triunfaria. O sono veio, e tal qual o Mal me venceu.

Acordei, segunda-feira, quando minha colega, que trabalhava coincidentemente em segundas-feiras, me cutucou com a ponta do sapato. - Que tu estás fazendo atirado aí? – perguntou-me - Esperando o Mal chegar – lhe respondi.
- Muito bem, se tu estás drogado, pouco me interessa, o fato é que achei essa chinchila esperando ao lado da porta quando cheguei, sabe me dizer por que não a capturou? Olha a carinha de assustada dela, coitadinha.
Aquela cena não me sai da memória, olhei o animal, procurei o olhar da coitadinha, mas não encontrei, naqueles olhos castanhos, só existia o mal.

sábado, 8 de agosto de 2009

A incrível história da arma imaginária

Lendo uma notícia na última semana, convenço-me de que o ser humano não poupa esforços quando tenta ser estúpido. Temos um cérebro pensante, capaz de raciocinar, quiçá o único ser pensante do mundo sejamos nós, embora eu desconfie muito dos macacos. Todavia, determinadas criaturas humanas não tomam conhecimento do seu cérebro e apelam para a ignorância associativa.

Senão, vejamos: Uma americana, após roubar um automóvel, pôs-se a continuar sua saga legionária e adentrar à uma loja anunciando estar armada. Até ai tudo bem. Os planos da americana foram frustados ao flagrarem o figurino utilizado pela suposta ladra, para efetuar o crime:um biquine.

Após os vendedores da loja alegarem que a moça não apresentava espaço reservado onde coubesse um arma, ela foi presa. Pergunto-me então, o que ela teria dito após questionarem onde ela escondia a arma. Alguma situações me vem a mente.




Situação 1:

- Você não tem onde esconder uma arma – diz o vendedor

A moça o olha, atônita que está, tem pouco tempo para dar-lhe uma resposta convincente, ou isso ou vai presa. Após alguns segundo de silêncio ela grita:
- Tu não conhece a minha vulva! Tu não conhece a minha vulva!


Ainda que a resposta seja espirituosa e a moça não seja completamente desprezível, é pouco provável que algum vivente ousasse procurar a “arma” do crime.


Situação 2:
-Eu to com a arma na mão, mas só os inteligentes podem ver.


Na pior das hipóteses ela seria detida e encaminhada a um hospital próprio destinado a doentes mentais.




Caberia um dia, ou uma tarde para analisar mais algumas possibilidades, contudo, todas as analises me fazem chegar ao ponto que citei antes, os macacos, se já não nos passaram no raciocínio, estão muito próximos, muito próximos.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Querida história, perdoai-nos

Conheci Pelotas. Não conhecia Pelotas, verdade. Não sou o que se possa denominar de um viajante. Viajo quando posso, não quando me convém, se assim fosse, seria um viajante. Não trato com vergonha esse desconhecimento meu, de uma cidade histórica do Rio Grande do Sul. O que me inclino a afirmar, é que gostei de Pelotas.

Tem-se uma sensação de estranha nostalgia quando cruza-se a ponte imperial, talvez a minha imaginação, que quando pouca pode ser chamada de fértil, transpassa o cotidiano e remeta-me ao passado. Imaginei-me, acenando ao imperador que cruzava a ponte, conduzido em uma carruagem imperial, afinal, imperadores usam carruagens imperiais, suponho, do decorrer de séculos passados.
Conheci ruas estreitas, que não fossem os carros, todos os malditos carros que as habitavam e circulavam tal qual imponentes carruagens imperiais, eu diria que voltei ao século XVIII, mas não voltei. E essa nostalgia inexplicável, de algo que eu não vivi é que me chama a atenção, mais adiante à explicarei.

Não que Pelotas seja um exemplo de civilização, não é. Mas não pela história que a circunda, sim pelo desinteresse com que aquilo tudo é tratado. Não só pelo poder público, como também pela população. Levantaria o dedo, se pudesse, e um protesto pela história, em nome da história, apoiado pela história, diria: “Que encerrem aqui as pichações”!

Não cabe a mim, que nada sou, tomar medidas de protesto. Não conheço aquela realidade, quicá haja até motivo para as pichações, embora não acredite nisso. O que alego, é que talvez, a nostalgia que senti, é a dos tempos melhores, dos tempos que não vivi, é claro, mas se os tivesse vivido, teria gostado, e como teria.

O passado me conforta, talvez não pelo que de fato aconteceu, mas me parece que tudo o que passou é sempre melhor. É instintivo do ser humano pensar que tudo o que aconteceu poderia ter sido melhor, e é nisso que penso, se tivesse vivido em mil oitocentos e alguma coisa, teria sido o imperador? É provável que não. Nasci num tempo diferente, o que faz de mim, parte de uma nova geração. Sou da geração que não viveu a história. Da geração que em sua maioria desconhece a história. E o pior de tudo, sou da geração que depreda e história.

Constrangimento, é o que me resta. Peço perdão àqueles que viveram naqueles tempos. Peço perdão aos que tentaram manter a história viva até hoje. Desculpem-me, em nome da minha geração desavergonhada.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Oito amigos e um posto

Todas as sextas-feiras acontecia. Éramos pontuais, tanto quanto o inverno permitia. Não um inverno qualquer, mas sim um inverno maiúsculo, rígido e intenso. Assim sim era o inverno. Sentávamos todos ao redor da mesma mesa, no mesmo local.



Alguns a mais de oito, éramos no começo. O tempo, o trabalho e por vezes as mulheres, nos foram tomando alguns desses. Ao que no fim sobraram oito. Oito, número esse, que pode caber nas duas mãos que temos, friso que muitos de nós tem duas mãos. Cabem nas mãos, sem dúvida, mas ali, a amizade que fizemos, não limitou-se a caber dentro do coração. Muito além das fronteiras cardíacas ela passou, e transcorreu por todos os oito corações, que tenho certeza, acordam no mesmo sentimento.



Assuntos eram variados, invariavelmente o futebol era convocado. Gremistas, em sua maioria, os amigos discordavam, pois havia quem fosse colorado. Havia quem não fosse nem colorado, nem gremista, e só quisesse discordar, caso típico do Tiago.



Ah como sinto falta, mas não sinto falta só do Tiago. Sinto do Cristian, do Rodrigo, do Fábio, do Douglas. Sinto falta do Vinícius, do Gordo. Tento me lembrar do oitavo amigo, e me vem a mente que o oitavo era eu. Não que eu fosse muito significante, não era, mas se pudesse usar um espaço como esse, para dizer o quanto eu fui feliz com vocês, o faria. Penso já estar fazendo, e penso ainda que se cada um de vocês, meus amigos, lerem esse texto, me sentirei melhor.



Infelizmente uso esse tom nostálgico na minha narrativa, pois o tempo, cruel que é, foi nos separando. A gente vai crescendo, não que já não fossemos grandes antes – o Gordo que o diga - , mas muitos de nós cresceram profissionalmente e isso me conforta, outros cresceram intelectualmente, o que convenhamos não era difícil, outros ainda cresceram em ambos, e aí sim tiveram o que mereciam.



Sabe-se, ou eu sei, que sinto falta de todos vocês. Que as risadas que demos foram sinceras, e que os oito do posto nasceram ali, naquele postinho onde reinava o Bolão, mas o que ali foi construído é pra sempre, e transcende a delimitações das bombas de gasolina, e é levado aonde quer que eu esteja.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Orivan, o ex-monstro da ex-zaga

Após o primeiro toque na bola, eles entenderam: estavam diante de um craque. Os lances do Orivan eram mágicos, estupendos, coisa de gênio. O carrinho que dera em Oziel foi qualquer coisa de tirar o fôlego. Que jogador. Zagueiro para ninguém botar defeito.

Muitos dizem até hoje, que Orivan nasceu para ser craque, mas que no decorrer da vida, a carreira de caminhoneiro o chamou mais atenção, pois em primeira mão lhes digo; isso não passa de uma inverdade. E aqui, todos saberão a verdadeira história de Orivan, o zagueiro do caminhão:


O Ah poiseh divulga hoje, uma entrevista exclusiva que realizou com Orivan, o monstro dos gramados. O jogador, que atualmente mora no Acre,mas declara-se gaúcho de coração, embora quisesse ter nascido no Uruguai, ainda afirma ser gremista e revela o por que parou de jogar, e casos engraçados que aconteceram no campo, embora pra ele, futebol não seja uma piadinha.

Ah poiseh: Orivan, muitos dizem que tu foi o melhor zagueiro que já viram jogar. Era de fato assim, tão bom?

Orivan: Tu ta brincando, né? Tu ta de sacanagem? Vai tomar no seu c*” Eu não era bom, eu era fudido. Não passava ninguém por mim. Eu entrava no campo, e não via nada mais, a não ser os meus adversários. Neguinho não botava o pesinho na minha área. Uma vez me confundi e acertei o massagista.

AP: Como assim?

Orivan: Ah, o Mão-de-Fada (como era chamado o massagista do time), entrou no campo depois de uma contusão do Leal, meu companheiro de zaga. Só que eu não vi ele entrando. Achei que neguinho tava querendo se aproveitar do lance e cobrar falta rápida, entrei solando.

AP: E o que aconteceu?


Orivan: Não gosto muito de falar. Foi sem querer, sabe qual é, na minha zaga ninguém entra. O Mão-de-Fada teve que ir pro hospital, e hoje em dia o apelido dele é outro.

AP: Qual é o apelido?

Orivan: Pirata, por favor, não peçam o que aconteceu com a perna dele.

AP: Orivan, qual a real razão pra você ter parado de jogar futebol?

Orivan: Olha. Sabe como é a vida... (Orivan está emocionado)...ela me seduziu. Eu achei que com ela, eu não precisaria do futebol. Tinha tudo. Ela era apaixonante. Era linda, gostosa, charmosa, cozinha que era uma maravilha, lavava as roupas em casa, cuidava do lar. Só que no futebol, eu não tinha tempo pra ela. Ai, larguei.

Neguinho fica dizendo que eu preferi ser caminhoneiro. Não é isso, cara. Eu preferi a Marilene. Só que ela me ferrou. Emprenhou, e depois que eu larguei do futebol, fugiu com as cria, e com as minhas coisas. Não quero falar mais.

Orivan está chorando.

AP: Orivan, tu não quer mais falar sobre isso?

Orivan: Não. Mas eu te amo Marilene, volta pro Ori, vai. Já faz muito tempo. A gente pode ser feliz ainda.

Ta, é isso. Desculpa.

AP: Voltando à sua carreira. Em quais times tu já jogou?

Orivan: Comecei no 14 de Julho, de Livramento, depois, fui pro Gurani de Bagé, e quando eu estava sendo vendido pro Grêmio, ela apreceu. Sabe, era o meu sonho, sou gremista, todo mundo sabe, e acabei com tudo. Eu ia jogar com o Adilson Batista, por que foi la por 94 ou 95, não lembro.

AP: Tu ainda joga?

Orivan: Cara, olha pra mim. Eu sou gordo, grande, e tu não viu o pior. Vou te mostra minhas frieiras e minhas unhas do pé.

AP: Não, não. Não precisa, não faz isso...não, nãããão!


Ele tirou o chinelo havaianas que calçava, em seguida tirou a meia branca e realmente me mostrou o que eu hesitava em ver. Não tenho dúvidas que qualquer necrólogo sentiria náuseas em ver aquilo. Não vou me estender, pois a entrevista é de fato mais importante, além do que lembrar da cena me causa enjôo.

Orivan: Tu viu? Quer que eu jogue?

AP: Não, não, mas quero que tu ponhas a meia de volta.

Passado o susto.

AP: Conte-nos fatos engraçados que ocorreram dentro do campo.

Orivan: Futebol não é piadinha, guri. É isso que as pessoas tem que aprender. Vejo zagueiro de brinquinho por ai. Que isso? Zagueiro se pudesse, tinha que entrar de coturno no campo. Não com essas boiolagem. Não tenho histórias engraçadas, por que eu nunca fui palhaço, mas uma vez...não, deixa quieto.

AP: Pode contar, Ori.

Orivan: Que isso? Ori, só o que me faltava. Mais respeito.


AP: Desculpa.

Orivan: É que uma vez, levamos umas moças pra concentração. Mas isso foi la no 14 de Julho ainda. Na verdade, e concentração foi na casa do Dinélis Falcatrua, e a gente levou uma meia dúzia de puta pra lá. Mas sei la, se o Alçapão (técnico do time) não tivesse chego com a arma la, tudo teria dado certo, é uma pena pro Derlei, que acabou perdendo os ovos, mas enfim, né, nem todo mundo pode procriar. (risos).

AP: Muito obrigado Orivan, pela entrevista exclusiva que tu nos concedeu, esperamos que a tua história sirva de lição para muitos jovens que hoje pensam em jogar futebol.

Orivan: Beleza, então, fico feliz que eu possa ter exposto a minha história, é uma satisfação pra mim poder mostrar pra todos o que não se deve fazer quando se tem um sonho.


Orivan: Ta desligado já, né? Como é que fica aquela história da cervejinha que a gente combinou? Era duas caixas né?


AP: Isso, isso, o combinado era esse.


Orivan: Beleza, então, vai vir um pessoal aqui em casa e tal. Não quero decepcionar né.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Brilham mais ainda

Eu temia, aliás, temia e ainda temo por uma desagregação folclórica que se abata sobre nosso tão apaixonante solo pátria. Ouço histórias, e sempre às ouvi, de feitos passados, mas não de um passado assim tão distante, mas coisas que há poucos anos, ou muitos para os tempos onde a cada dois dias se lança um novo celular, histórias que me fazem ir além, ao imaginar como pessoas simples se faziam célebres e incontestavelmente populares.
Não uma, nem duas vezes, ouvi boatos sobre um senhor, que por volta das 15h, chegava em Porto Alegre, sentava-se em um balcãozinho, ali, naquele bar da Cidade Baixa, e tomava sua cachaça. Era calmo e tranquilo, tratava todos da forma como o tratavam sempre, com todo o respeito possível. Os cabelos brancos revelavam uma experiência que com palavras ele confirmava. Se perguntassem o nome, ele respondia: “Sou o Bezerra”. Insistindo no sobrenome, encolhia-se, talvez tímido, mas acho mais provável que fosse para manter-se anônimo em meio a tantos, e com o chapéu coco sombreando a face, respondia: “da Silva...Bezerra da Silva”.
O talento inegável de Bezerra, não era do tamanho da sua empáfia, Bezerra não à tinha. Colecionou, durante a vida, fãs, que além da morte ainda tem. A maior marca que alguém pode deixar para o mundo, é um legado pós vida. Bezerra o deixou.
O quão diferente um mundo dentro de seu contexto único é capaz de ser, compara a simplicidade, à excentricidade, e premia as duas. Não tem-se notícias de que o lendário rei do pop, Michael Jackson tenha sido, em qualquer momento de sua vida, uma figura simples, do contrário, era excêntrico, talvez perturbado pela ausência da infância a ele privada pela quantidade de talento que possuía.
Michael resolveu viver a infância que não tivera, após a suposta maturidade, não se faz cabível julga-lo, uma vez que jamais o faria. O que tenho a declarar, é que em um mundo onde tão poucos talentos surgem, e tanta porcaria é vendida, muito se perde ao calar da voz suave do astro mais excêntrico que o mundo já viu.
Michael agora é de fato o astro que sempre sonhou em ser. Porém, quando o quiseres ver, não se paga ingresso, não se move multidões, apenas, olha-se para o céu. A estrela que mais brilhar, tenha certeza, representa Michael. E quem sabe ao seu lado, discreta, mas sem menos brilho, esteja o não menos brilhante Bazerra da Silva.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A síndrome da baleia

O Edgar cresceu sem nunca ouvir uma única opinião sobre sua vida sexual. Era ativa, uma vida sexual ativa, disso não se duvidava, porém, nunca uma mulher comentou com ele, qualquer coisa que fosse. Que dissessem então que era ruim, mas aquele silêncio, aquilo o incomodava. Fosse qual fosse a opinião, ele queria saber.
Estava tendo um casinho, como gostava de dizer, com a Joice, e seria ela quem diria a ele qual o seu desempenho embaixo dos lençois, ou em cima, ou em qualquer lugar que fosse. Ia perguntar, a Joice até hoje nunca lhe mentira. Queria uma avaliação. Isso, o seu diagnóstico sexual seria dado pela Joice, de forma única e definitiva.
-Joice, quero te perguntar uma coisa- proferiu suado, após uma sessão de sexo sem pudor.
- Pois, pergunte.
- Como eu sou na cama?
- Poxa, Ed, que coisa pra se perguntar.
- Quero saber. Preciso saber.
Joice notou o pingo de clemência que aquele “preciso” carregava consigo. Matutou. Como diria que o Edgar não era nem bom, nem ruim. Que dava pro gasto. Que não a faria ter orgasmos múltiplos, mas na maioria das vezes a fazia ter orgasmos?
- Diretamente? - ela perguntou
- O máximo possível
- Olha, não sei como descrever.
- Compare à alguma coisa.
-Ao quê?
- Não sei, a alguma coisa. Uma comida, um filme, um artista.
- Um artista, é uma boa!
“Um artista é uma boa”, pensou Edgar enquanto Joice preparava-se para descreve-lo. Torceu para que a moça dissesse que era um Brad Pitt do sexo. Ou ainda fosse pelo lado musical, gostava de jazz o Edgar. Quem sabe fosse comparado a Dave Milles. Quem sabe ela dissesse que era uma lenda da cama.
- Posso te comparar a um filme?
- Filme?
- É.
- Ta, pode.
- Free Willie – disse ela por fim, segura.
- Free Willie?
- É. Não que seja ruim. A maioria das pessoas até já viu. Mas não tem aquela emoção toda. Um filmezinho tranquilo.

Edgar foi-se embora sem olhar para Joice. E desde esse dia, tem aversão à baleias.

sábado, 13 de junho de 2009

O Roubo do sofá (parte 3)

Capítulo 3
A velha cabana

A casa da Tia Rosmarie era esquisita, não que fosse mal decorada, não era, porém, alguma coisa por ali era estranha, maus fluídos, quem sabe, ou apenas fluídos, alguma coisa não dava conta da normalidade. Ninguém nunca tinha entrado na casa da Tia Rosmarie para conversar, a casa dela era um segredo de estado, mais um dos tantos que habitam a mágica, proibitiva e surpreendente Arroio Teixeira.

Diversas fotos antigas circundavam as paredes, que eram de madeira, algo que lembrasse o rústico, mas não propositadamente, era o tempo (e os cupins) corroendo a madeira. O chão coberto de todos os mais variados tipos de tapete, onde instalamo-nos, na sala, o tapete era vermelho, com um xis preto, bem no meio, as pontas do xis estavam embaixo dos diversos sofás que a sala dispunha.

Tia Rosmarie estava desesperada, soluçava, balbuciava palavras indecifráveis, tal qual uma criança que aprendera a falar há cinco dias. Começamos, não com um motivo, menos ainda com eficácia, um interrogatório. O velho Teixeira começou, levemente embriagado:

- Rosmarie. Não é de hoje que conheço a senhora – Teixeira nesse momento rondou seu olhar pela sala, descontraiu-se, sua face era de pavor, quando retomou o assunto – aliás, Rosmarie, percebo o quanto estamos velhos. Há muitos e muitos anos que eu te conheço. Um velho não se deixa enganar com a facilidade de um jovem, já fui tolo Rose, se me permite, e saiba que aprendi com isso, portanto, farei perguntas e quero pura e simplesmente respostas.
Tia Rosmarie voltara subitamente a realidade e olhava para Teixeira com um ar assombrado, perplexa eu diria. Proferiu: - Teixeira, eu fui assaltada, não sou a suspeita.

Todo o ar de superioridade que Teixeira havia imposto na pergunta anterior, se desfez, a expressão confiante tornou-se instantaneamente desacorçoada e ele então defendeu-se com a frase que até hoje não me sai do pensamento. Um argumento inteligente, uma escapada triunfal, era esguio o Teixeira: - Ah, pois é – disse ele.

Interrompi o papo tão produtivo que tinham Teixeira e Rosmarie, começando a prestar maior atenção a detalhes da casa, e ai, não tive dúvida do quão nazista era Rosmarie. O junco que constituía o roda forro era todo marcado com pequenas suásticas. Diversas fotos de Hitler se espalhavam na velha cabana.
Seria possível que vi aquilo? Não, não seria. SIM, seria. É, eu vi aquilo. Meu deus, Tia Rosmarie abraçada a Hitler em uma foto.

- Rosmarie, todos sabemos, e aqui dentro, temos ainda mais certeza do quão a senhora é uma, por assim dizer, admiradora nazista. Todos sabemos também, que a dona Denise, uma senhora negra, quase que retinta, as senhoras nunca tiveram nenhum tipo de desavença? – perguntei.

- Meu rapaz, desavença nunca houve. Ela simplesmente não gosta de mim, são os fatos. Muito embora, em uma certa vez, tivemos uma pequena rixa, mas creio eu que já superada por ambas a partes.

Que rixa seria aquela? Teria motivado o grotesco roubo do sofá? Dona Denise seria capaz de cometer tal atrocidade? Descubra nos próximos capítulos.

sábado, 6 de junho de 2009

O roubo do sofá

Capítulo 2
Rosmarie, Tia

Eis uma parte interessante da história, Tia Rosmarie. Abrirei um capítulo a parte para que tenhamos uma breve aula de conhecimentos gerais sobre a mesma.

Rosmarie Frederich, 89 anos, viúva. Grau de insanidade elevado, jura que era amiga intima do ditador alemão Adolf Hitler. Certo é que esteve presente na Segunda Guerra Mundial, sendo deportada logo após o seu final. Motivos alegados para a deportação: crimes de guerra.

O destino nos escolheu. Dentre todo o turismo pujante teixeirense, nós que estávamos ali, quando a histérica saiu porta a fora aos berros, portanto, nós fomos enviados por alguma força maior, para de alguma forma - ainda que seja difícil encontrar em nós alguma serventia – ajudar, a Tia Rosmarie, solucionar um crime hediondo, com proporções catastróficas, e dimensões assaz destrutivas, que era o roubo do sofá.

O sofá era conhecido pela praia, arrisco-me a dizer que por todo litoral, é difícil achar que não tenha ouvido falar no famoso, misterioso, emblemático e confortável, é bom que se diga que é confortável além de tudo, um sofá tem que ser confortável, sofá da Tia Rosmarie. Sem dicas de decoração, seguirei a narrativa. O sofá da Tia Rosmarie é lenda, e como toda a lenda, por trás dele há uma história, ai vai:

“Era 30 de abril de 1945, A Segunda Guerra ia chegando ao fim. Os japoneses dali há alguns dias se renderiam, e Hitler sabia disso. Estava exausto, a guerra o havia afetado por inteiro, sua sede por poder o havia obcecado, a morte era o caminho mais fácil. Ainda assim, mesmo estando no bancker providenciado por ele, para os momentos mais fatídicos, não esquecia da bela moça loira que conhecera há semanas atrás. Rosmarie.
O fim se aproximava, as coisas não iam bem, porém, eis que desce as escadas, ninguém menos que ela, a musa, a deusa, o xodó de Hitler, Tia Rosmarie, ou melhor, Rosmarie, até então, só Rosmarie.
Sentaram-se ao sofá, onde ao que se sabe, se amaram, e ali o fim ia chegando"...O sofá que após muitos acabaria por ser roubado em Arroio Teixeira.

As reticências que botei ao final da lenda, não estão ali por acaso. Não se tem a clara certeza do que de fato aconteceu, o que se sabe é que há um algo mais nessa história, e assim que o desvendarmos a solução do crime estará por vir.

Após acalmarmos a Tia Rosmarie, entramos em sua casa, e iniciamos a conversa...

Continua nos próximos capítulos

sábado, 30 de maio de 2009

O roubo do sofá (parte 1)

Primeiro Capítulo
Tudo no Sereia

Alguma coisa acontece quando se chega a Arroio Teixeira. Seja o sol, a areia, o mar, as pessoas, o infinito, ou até o vendedor de milho que perambula pela abarrotada e estreita faixa de areia texana, durante o verão. Fato é que o lugar é mágico, místico, iluminado, cabalístico. O que ao certo se sabe, é que não há como ir à Arroio Teixeira sem viver uma história pulsante, isso, pulsante é a palavra certa.
Assim, lembro-me vagamente de situações que vivi em determinadas praias, porém, nenhuma brilha tão claramente em minha absorta mente juvenil, quanto as lembranças dos verões texanos. E foi lá, posso assegurar, que foi lá, que tudo aconteceu, foi lá, que o crime dos crimes, o terror dos terrores aconteceu. O Roubo do sofá da tia Rosmarie.

Era pouco mais das 21h, aliás, era muito mais das 21h, penso eu que já deveria ser algo entre 23h, e eu estava no badalado(até então) bar Sereia, à beira mar Teixeirense. Tranqüilo que estava, bebericando, - que adoro usar a palavra bebericar –discursando, diria quem sabe filosofando sobre qualquer coisa que o ambiente praiano pudesse proporcionar, se a memória não me falha, sobre os seios da Monalisa. Ah sim! Os seios da Monalisa, eram um espetáculo...

Suspeito 1: Monalisa Centero; 21 anos, solteira, balconista do Sereia Bar. Ambiciosa, sexy, e acima de tudo, louca, absolutamente louca por bis branco.

...se faziam presentes, serelepes, firmes e extremamente decotados toda e qualquer vez que pedíamos mais uma rodada de cerveja. Definitivamente, AT (me dei ao direito de abreviar), têm um algo mais em seus ares.
A visão dos seios de Monalisa me desviaram do assunto principal, o crime, o horrendo crime,começou a se desenvolver quando dona Denise, atravessou o espaço o bolicho aos gritos de, “safada, safada, aquela Rosemarie. Ela me paga, ninguém mexe comigo”.

Suspeito 2:Dona Denise: Sócia-proprietária do Sereia Bar, 56 anos, viúva, passado obscuro, e acima de tudo irrevelável. Rixas antigas já foram registradas entre a vítima e a referida pessoa. Em sua ficha criminal, Denise tem apenas um registro, no Revellion de 85 quando fora detida dirigindo um trator (sabe-se lá de quem), despida e alccolizada.

Nossa atenção foi detida à ela por alguns minutos, Denise parecia enlouquecida, algo de muito ruim tinha acontecido, não fazíamos a menor idéia do que, porém, tínhamos certeza de que a história não pararia por ali, Dona Denise é vingativa, e isso explica muita coisa.

A noite ia chegando ao seu fim, até por que já estávamos pra lá de alcoolizados, e sem nenhuma condição para debater, encenar, filosofar, quanto menos desvendar crimes que ainda estavam por ocorrer. Refiro-me a estávamos, pois além de mim, encontravam-se no local, Ari, meu velho e bom amigo, com faro e tino investigativo; Hermenes, que apesar do nome é um galanteador de primeira; e Teixeira, um senhor de idade, conhecedor de todas as ruas do vilarejo, dizendo-se inclusive ser descendente do Velho Teixeira, fundador da praia.

Encaminhávamo-nos para nossas respectivas casas, que não eram longe, nem de onde estávamos, nem umas das outras, inclusive por que as casas em AT não tem como serem distantes. Quando ouvimos o latido do Hitler, o cachorro da tia Rosemarie. Em seguida, vem ela, saltitando e esbravejando em seus esganiçados gritos: “Meu sofá, meu sofá, meu precioso sofá”

Continua nos próximos episódios.

terça-feira, 26 de maio de 2009

As torres, meu vinho...aos Gaúchos



Meu pai, vez que outra me convoca para uma comedida, analisada e derradeira partida de xadrez. Enxadrista que sou, aceito, e a jogatina começa. A partida é um plano de fundo para debates, assuntos das mais diversas estirpes são discutidos e analisados sob o embalo um bom vinho seco.
Em geral, os peões se digladiam enquanto falamos sobre o futebol. É claro, qual seria o assunto senão futebol: - Pra mim, o Tcheco é volante. Tem habilidade pra passar a bola, inteligência, e não é afoito – digo eu após os primeiros combates no tabuleiro.
-É filho, agora me diz, quem vai dar velocidade ao nosso contra-ataque? Quem vai pensar a jogada ali na frente, se o Tcheco ta na volância?
- Ta certo, Tcheco é meia. Tudo ficou claro.
Perco meu peão.
O futebol decorre, até dos peões sobrarem cinzas, e entrarmos definitivamente na zona de combate, na área de perigo, o jogo centraliza-se e cada erro pode custar uma vida. A conversa não é diferente, conforme aumenta o grau hierárquico do jogo, aumenta o tom e a importância da discussão.
Entramos na política, e mais vinho!
- O Lula! Esse sim tem me decepcionado, onde está aquele trabalhista? Onde foi que ele escondeu o metalúrgico que ele tinha em si? Pra mim, virou um humanista- vocifera meu pai.
- Eu já tinha te alertado quanto á isso. Pra mim, quem não investe em educação e quer dar tudo pronto ao povo, não merece muitas honras.
- Saudade do Brizola! (meu pai)
- Saudade do Brizola! (eu)

Ai, perdi minha torre. Meu hoque se foi, sem minha torre, meu tradicional sistema de defesa, meus três zagueiros, foi destruído. A raiva começa a irromper no meu ser, o clima começa a se alterar. Meu pai, olha-me com o queixo ereto, um sinal de superioridade, ele sabe que está em vantagem, e deve pensar: “eu que te ensinei a jogar isso, vou ser teu eterno carrasco”.
O jogo segue, eu já nem dou muita bola para a conversa, quero ganhar, porém, meu pai, puxa outra vez um assunto interessante:
- Se Bento não tivesse feito o que fez, seríamos um povo sem caráter.
- Nem ele acreditava na revolução,pai.
- Mas a fez, o que comprova a fibra do nosso povo.
Levantamo-nos e em uníssono cantamos: “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”. As taças tilintam no ar. UM BRINDE AOS GAÙCHOS!
Surpreendi meu pai, levei o bispo dele. A-ráá, as coisas estão começando a mudar, hein?!
Não lembro-me se fiz essa pergunta á ele, sei que se não à fiz, ele deve ter decifrado meu olhar, por que ao mesmo instante ele derrubou meu cavalo, e olhou-me, desafiador.
A conversa era interessante, o jogo derradeiro, e o vinho... “mais vinho, pai”...era ótimo.
Tudo conspirava para um bela noite entre pai e filho. Mas não, eu não pretendia perder. Sabia que a derrota era eminente, mas não sou assim de me entregar, ta na minha história, se desistisse tão fácil das coisas, não seria do povo que sou, muito menos torceria para o time que torço.
-Aos gregos – diz meu pai, mais uma vez levantado a taça para um brinde, quando começamos a debater as teorias de Platão.
- Aos gregos- eu repito, com o mesmo movimento.
Minha rainha se foi, estou de luto. Meu pai me deixou apenas o Rei. Sou bravo, não vou desistir. Corro com o rei para um lado, para o outro. Enfim, ele me olha, com a expressão de quem me ensinou, e diz: - Xeque...mate.
Realmente, meu pai me ensinou.
Conversas assim, são agradabilíssimas. As tenho com a minha mãe também, mas sem o xadrez, que ela não gosta de jogos, e sem o Tcheco, que ela nem sabe quem é. Porém, conversamos. E como é bom conversarmos com quem sabe mais da vida do que a gente.
Todo e qualquer ser humano tem uma história pra contar, do catador de papel, do porteiro do teu prédio ao prefeito da cidade, ao mais importante empresário do município. Cabe a nós ouvir, com sabedoria, criando assim, um infinito leque de possibilidades e conhecimento.
Espero, que com tudo o que já aprendi, e com tudo que tenho certeza que vou aprender, eu vença a partida de xadrez da minha vida. Que eu perca as peças pelo caminho, por que isso a isso já me acostumei. Agora, o xeque-mate, esse quem me dá, é só o meu pai.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Tu é a Noêmia

Sabe a Noêmia? Já devo ter falado dela, aquela que dizia sempre a famosa frase: “se Deus não quis, é por que não era pra ser".Ta, se não contei, presta atenção ai, caro companheiro, por que vale a pena.
A Noêmia namorou um amigo meu, o Gláucio. Os dois se conheceram numa ambulância, mas outra hora eu conto a história. O que acontece é o seguinte. O Gláucio é um rapaz meio violento. Não que ele seja agressivo, não é isso. Mas ele é um pouco nervoso, acho que explosivo é a palavra certa. Isso, Gláucio explosivo. Pois bem, a Noêmia era crente, mas crente mesmo, de carrega bíblia embaixo do braço, e abanar bandeirinha em Corpus Cristi.
O Gláucio, pobre desgraçado, trabalhava demais, estava sempre estressado e descontava a sua raiva do chefe, em casa, na Noêmia, ou no hamster Hamtaro. Xingava, esbravejava, esbofetiava o ar, enquanto manchava com ofensas a pobre alma imaculada da Noêmia.
Noemia, depois de ouvir todas as lamúrias do seu homem, bradava, ainda que com os olhos baixos, e a insegurança na voz: “Meu bem, se Deus não quis, não era pra ser”.

Não me esqueço disso. Mas não é que não me esqueça por que a história é interessantíssima, ou me marcou uma época da vida. Não, não me esqueço dessa história, por que cada um de nós, cada um dos brasileiros, sim, até mesmo você, que ta ai sentado lendo esse texto medíocre, até mesmo tu tem a Noêmia no teu âmago.
Falta-nos vergonha na cara, falta-nos voz ativa perante à corrupção que nos é imposta, falta-nos imponência para apontarmos o dedo na cara daqueles que pensam que somos estúpidos e inferiores, e dizer-lhes, “olha aqui, eu não sou Noêmia"!
Quer uma triste notícia? Mas triste mesmo. O argentino é assim, o argentino não se omite, é bem verdade que as coisas também não andam as mil maravilhas com os hermanos, mas de todo modo, eles levantam o queixo e o nariz e dizem, “nossotros somos los mejores”, claro, só eles acreditam nisso, mas já é o suficiente.
Ta marcado, meu ilustre leitor, brasileiro é povo festeiro, é solidário, animado, porém, ouse o senhor discordar que a Noêmia não ta ai dentro! Ta vendo, não ousou, tu não duvidou de mim, tu não quis saber de discussão, tu baixou a cabeça ,humildemente, e disse: “ta bom, mas se Deus não quis, é por que não era pra ser.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Lucinha. As coxas...meu nariz



Não sei bem ao que ou à quem me referi quando houve o mal entendido. Ela estava ali, com aquele par de coxas moldadas a mão e feitos no mais distante forno divino. Ah meu companheiro, aquilo sim eram coxas. Mas COXAS, não coxinhas, nem coxetes, coxas, daquelas que se enche a boca para falar, ou para fartar-se com uma bela abocanhada.
Eu não sei por que diabos, eu notei, o certo é que notei. Não podia deixar que me visse. Era filha do meu amigo, Roberto, onde eu estava com a cabeça?
Lucinha tinha agora algo como 19 anos, e eu ali, completamente boquiaberto, degustando com os olhos aquilo tudo que a Terra há de comer. E foi aí onde eu errei. Pensei nesse famoso dito popular e me pronunciei:
-Pois se a Terra não comer, deixa pra mim, que sou canhoto...

Pronto, foi meu erro. Eu estava fadado ao insucesso, ao infortúnio, ao olhar pesado do Roberto, e o pior, além do olhar, o punho pesado do Roberto estava por atingir meu frágil e rinítico nariz. Seria inevitável que eu caísse desmaiado se o brutamontes do Roberto, por ventura desferisse um coice em minha face.
Eu tinha que desfazer a situação, ele ainda estava assimilando a frase, ainda não fizera o efeito total, não tivera sua devida interpretação. Era minha chance, agora ou nunca, ou emendava com alguma outra frase e desvirtuava totalmente o rumo da conversa, ou seria nocauteado em plena praça de alimentação do Praia de Bellas. A luz divina brilhou sobre minha mente e a brilhante frase me irradiou com sua presença:
-...por que esse Mcdonald’s é coisa de outro mundo. O Agenor, lembra do Agenor? Pois é, me contou que outro dia ele comeu um que veio com terra junto, fez um estardalhaço, processou os americanos e tudo. Mas mesmo assim, é coisa de outro mundo, coisa muito boa.

Roberto olhou-me meio desconfiado, mas dissimulou, e a conversa tomou outro rumo.
Poxa, há quanto tempo eu não via o Roberto, ele estava morando na Itália há tantos anos, que me lembro bem, Lucinha ainda tinha quatro ou cinco anos na última vez que à vi. Não ia perder o amigo (e parte do meu nariz) a toa.

Sentaram-se ali, bem a minha frente. E se tenho uma certeza na minha vida, é que a Lucinha estava me dando mole, aquele espetáculo de mulher, àquele espetáculo de coxa, estava me dando mole e eu quieto, indefeso, parado, como se tivesse brochado, como se ela esfregasse àquele par de coxa em mim, e eu negasse fogo. Alias, era tão real, sentia na minha imaginação, ela passando seu pé na minha masculinidade. SENTIA POR QUE DE FATO A DESGRAÇADA ME ACARICIAVA COM PÉ. Meu Deus, que ordinária, Lucinha queria alguma coisa comigo. Ou seria só um teste?

Ajeitei-me, não podia dar o mínimo sinal de excitação, o Roberto perceberia e seria meu fim.
Lucinha continuava, eu falava com Roberto sobre a bolsa de valores e meu libido quase nocauteava-me o queixo. Vez que outra eu soltava gritos de excitação que tinham que ser logo emendados para evitar um duplo sentido. - Pois é, Beto,mas a bolsa sobe, e..AI QUE DEL...icada essa situação, por que se analisarmos bem, é um período instável para investimentos.

Era sempre algo assim, soltei mais de quinze frases levando-me pelo instinto e tendo que negociar com meu português e minha criatividade, para que ambos me salvassem de uma catástrofe.

Conversamos por horas, o Roberto e eu, mas notei que ele olhava-me estranho, será que ele havia percebido? Algo tinha dado na vista do Betinho? Aquela safada da Lucinha, que agora acalmara-se, mas rabiscou em meu guardanapo seu número de telefone, estava sentada a minha frente, fazendo-me caras e bocas, as quais eu nem prestava mais atenção. Roberto em um determinado momento levantou-se e me disse:
- Isso aqui ta estranho, Tchê. Alguma coisa ta me cheirando mal.

Meu Deus, o Roberto descobriu tudo, ia me pegar, a safada tinha me arruinado, perdi um amigo, quem sabe um futuro sócio, um homem influente, e acima de tudo, meu nariz. O Roberto então, exaltado, levantou-se , deu um soco na mesa e proferiu a frase: - Essa merda de Mcdonalds veio com terra de novo. Bem que tu me avisou, bem que tu me avisou.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

O incenso proibido

Sim, assumia. Na verdade não era assim tão assumido, mas se perguntassem, ele assumiria. Era uma pessoa magnífica, todos o admiravam, todos eram seus amigos, ou, caso não fossem, gostariam de ser. Era do tipo amigão, daqueles que ninguém tem reclamação nenhuma. Mas tinha como vício fumar aquele cigarrinho proibido por lei.

Na casa dele, era sempre o mesmo. Os pais o adoravam, o veneravam, era o legítimo filho perfeito, claro, que não sabiam do seu “segredinho”. Mas também, não faziam força para o identificar, era como uma alienação a verdade, não faziam questão nenhuma em saber, ou fingiam que não sabiam o que era ruim. E foi em uma agradável conversa com ele, que cheguei a essa conclusão. Siga meu raciocínio, nobre amigo, e veja se concorda com a minha linha imaginativa.

Saiu do trabalho, do qual estava exausto. A velha intriga entra patrão e funcionário, a labuta sempre é menos remunerada do que de fato deveria ser. O trabalho o estava estressando, ele tinha a maneira perfeita para aliviar a pressão. Fumaria seu baseado. NÃO, não fumaria, estava tentando evitar o vício. Chegaria em casa e descansaria.

Pegou sua moto, uma dessas mobiletes da nova geração, sentou-se no banco, tal qual um cavaleiro do asfalto, e sentiu o vento bater em sua face, na mais pura da sensação de liberdade terrena. Chegou em casa, banhou-se, relaxou enquanto olhava o programa que mais gostava, e foi para o seu quarto, onde permaneceu, por horas, até adormecer no mais profundo, porém inquieto sono.

Virava-se de um lado para outro da cama, nos sonhos, a maldita lhe convocava para o fumo. Não, não era por assim dizer, viciado, mas gostava, era uma tarefa diária, quase como escovar os dentes. Acordava, banhava-se, fazia toda sua fisiologia, fumava um, trabalhava, fumava um e dormia, as vezes não nessa ordem, mas o fazia. Não via como obrigação, nem vício, mas compromisso.

Não resistiu, levantou-se em plena madrugada, pé por pé foi até o quarto dos pais, sorrateiramente, conferiu se ambos dormiam, e de fato o faziam. Voltou ao seu quarto, onde selou a porta, a fechadura estava estragada, o perigo era eminente. Os quartos eram muito próximos, seus pais a qualquer hora poderiam o pegar com a boca na butija, ou no baseado.

Não deu bola para o perigo, a adrenalina lhe subiu as veias, e ele botou o cigarro na boca, acendeu, a fumaça infestou seu quarto, mas aquilo foi tão lindo, tão bom, tudo estava tão perfeito. Lindo, lindo. Plaft, plaft, plaft (onomatopeia para identificar barulho de pantufas encontrando o assoalho)...oh não, tudo estava perdido, nosso herói maconheiro ia ser pego, alguém acordara e sentiria o cheiro, caso não sentisse, o veria com a prova do crime. Eis que a porta do quarto se abre, sua mãe, com a cara mais feia que se é possível fazer, olha pra ele e decepcionada diz, pondo fim ao nosso suspense: :
- Ah não, filhooo! Tu sabe que tua irmã tem asma, por que insiste em acender esses incensos de maçã?

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Protesto contra a falta de cultura

Um destino precário, uma verdade absoluta. Lutava assim por uma solução menos conveniente ao meu âmago. Destinei-me, certa vez a entender que filosofia usávamos para entender a mais pura capacidade de compreensão.
Sim, e ai foi onde peguei você, aposto, que estava lendo atentamente cada palavrinha sem nexo que escrevi ai em cima, apenas pela forma agradável com que soaram aos seus ouvidos, ou ao que saltaram ao seus olhos. Ai que chego, não menosprezo ninguém, mas como é fácil escrever. Claro que nem sempre algo que preste, mas é simples escrever algo que agrade, senão a mim, ao outros.
Sou modesto e todos sabem o quanto me auto-avalio, ou ainda me auto-critico (nem aí se agora tem hífen ou não). Mas de certo modo, escrevendo palavras bonitinhas, engana-se a torcida, ou no caso, o leitor.
Tal análise é feita agora por mim sem a mínima intenção de achincalhar e muito menos depravar o teu conhecimento, nobre leitor, mas sim, na intenção de perguntar-lhe. Em que rumo está andando a nossa cultura? Não afirmo que tu seja um completo aculturado, e acho que de fato não o és, caso contrário não estaria mantendo-se inteirado, ou ao menos nem estaria aqui, lendo. A-haaa! Ler, quem sabe é isso que falta ao nosso povo. Ah, também, quer saber, quem sou eu, para falar de algo que nem eu mesmo sou capaz de definir. Quero voltar a princípios para talvez entender um pouco sobre a mesmice cultural dos nossos tempos.
Em um determinado tempo, a leitura, era específica, não era permitido abuso de linguagem, e a escrita era feita por quem realmente a entendia. Não se permitia declínios de qualidade na cultura literária. Pois é, os tempos vão passando, e a nova ordem sendo estabelecida. Qualquer um escreve, qualquer um lança livros, e qualquer um posta besteiras sem tamanho em um blog de qualidade pífia (caso do ah-poiseh). A tecnologia deveria nos proporcionar mais informação, e mais aprendizado, não foi o que fez, apenas, deturpou um quadro que já era instável, transformando-o assim, em quase clinicamente morto.
Eu estou propondo aqui, uma inovação cultural, claro que fiz toda essa análise incrivelmente sem noção, para promover meu mais novo blog que está saindinho do forno. Tu já deves ter lido ai embaixo a descrição dessa brilhante e estonteante inovação. Então fica a dica, participe dessa inovação, dessa manifestação, e acima de tudo, desse protesto contra a falta de intelecto cultural. Nos ajude, talvez você não ganhe nada com isso, mas pelo menos, tu não vais ficar aqui nesse blog, lendo essas besteiras por mais tempo da tua vida.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

www.tude-cide.blogspot.com

Valho-me desse espaço, pouco lido, pouco frequentado, e muito menos aclamado pela "crítica literária gramandese", para divulgar a nova sensação do mundo blogueiro (espero).
Quatro amigos, e projetos de escritores, ou blogueiros, reunem-se e em consenso tomam a decisão:
Farão um blog interativo, ao pé da letra. No qual a participação do leitor é fundamental para o desenvolvimento da narrativa. Quando um personagem se ve uma situação defitinitiva para a sequencia da história, o leitor entra em ação.
Cada amigo escreverá um capítulo da história, e quando ele terminar, dará três opções de continuação da história, ai, cabe a você, nobra companheiro, julgar o destino traçado por nossos personagens, por votação através do link de comentários, aquele que for mais votado, será o destino utilizado.
Os blogueiros serão:
Cristian (Gló),dono do aclamdo espaço online, http://www.nadacerto.blogspot.com/ , Ricardo(Cadinho), dono desta bela porcaria aqui, Rodrigo(Pudim) filosofa no seu http://www.queridoamigopudim.blogspot.com/, o senso crítico social de Vinícius Schneider (Cotonete), dono do www.semtrava.blogspot.com . As atividades no http://www.tude-cide.blogspot.com/ começam na próxima quarta-feira, por favor, não se desespere, o tempo voa e tu nem verás os dias passando até la.
Não esqueçam desse nome http://www.tude-cide.blogspot.com/, ele entrará na tua vida, e tu, entrará na dele.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Marca de que?

A cancha de bocha ficava a menos de 10 metros da casa do Azevedo, aliás, ele, o Camargo, o Tonico, e o Marquinha, passavam horas do dia na tal cancha, sempre com os mesmos papos, as mesmas duplas, os mesmos truques, as mesmas brigas quando o Camargo tentava marcar um ponto a mais para ele e o Marquinha. A cachaça era a mesma, 51, com um pouquinho de coca-cola.

Cerca de 30 dias eles ficavam na praia, em fevereiro. Passavam o carnaval ali, a cancha lhes servia de passarela, a Sapucaí em Capão da Canoa. A vida muda um pouco quando se tem mais idade.

O sol sempre fez parte das disputas mais acirradas dos quatro amigos, o Camargo sempre reclamando do calor, a testa suava, e o seu preparo físico, pouco invejável, do alto dos seus 130 quilos, não lhe dava todo amparo possível para um exaustivo jogo de bocha.

Começou uma discussão, mais um questionamento que uma discussão:
- Marquinha? Por que diabos te chamamos assim?- indagou o Tonico.

- Tchê, nem sei, sempre me chamaram assim, e nem me lembro mais o real motivo- revelou Marquinha, com aquela linda camisa regata do Posto Texaco.

Dali, passaram horas questionando a alcunha do amigo referido.

- Mas tchê, não tinha um apelido mais macho para pormos em ti? - brincou o Camargo, depois de alguns copos de 51 e coca.

- Que isso tchê, Marquinha é macho, vocês não acham?- lembrou o Marquinha
Risos ecoaram por todo o parque onde encontrava-se a cancha.
- Marquinha é a coisa mais gay que eu já ouvi um ser humano ser chamado, inclusive, nem sei o teu nome, só sei do Marquinha- proferiu o Azevedo.
Mais discussão entre os bochófilos. “Marquinha, gay ou não gay, eis a questão”. Venceu por unanimidade: Marquinha é gay.
A cachaça acabou, o jogo também, atracavam-se no tapa o Azevedo e o Tonico, pois discutiram e acirraram opiniões de que o Marquinha tinha o apelido por diferentes motivos. Tonico dizia que era por que ele tinha uma marca de nascença. Azevedo dizia que o apelido tinha a ver com a marca do cigarro que o Marquinha usava.
O Marquinha ouvia quieto.

Terminaram a discussão como começaram, sem saber o por que do apelido que eles mesmos inventaram.
As coisas começaram a se acalmar, o Azevedo, que era o típico bêbado chato, começou a jogar a coca-cola que tinha sobrado em todos os amigos. “Que brincadeira idiota”, diziam os amigos.

A bocha e a reunião dos amigos pararam por ali, depois da atitude lamentável do Azevedo. Mas foi assim, que tiveram a surpresa. Surgiu como um lampejo de felicidade, como se os bons e áureos tempos da juventude, quando os três recém tinham começado com a atividade da bocha na cancha da praia, tivera voltado. Depois de ter sua camisa regata, da Texaco, suja de coca-cola, o Marquinha resolvera tira-la do corpo. E quando estava indo embora, os amigos enxergaram, aquela linda marca branca da camisa, clara e nitidamente desenhada e estampada naquele corpo vermelho, como se nem tivesse de fato a tirado do corpo, lembraram da origem do apelido, o Marquinha, antes Juvenir, nunca tirava a camiseta, pegava sol e mais sol na praia, com aquela linda regata, quando a sacava do corpanzil, la estava, entalhada naquela púrpura pele de gringo.

-Lembrei-me agora, é por causa da marca da camisa, desenhada pelo avermelhamento dos braços do Marquinha- disse o Camarfo- Mas escuta, alguém, sabe do Nevasca? - indagou
- O Nevasca! Mas que saudade, será que ta vivo ainda? - questionou o Tonico.
- Claro que sim, e esse, me lembro direitinho o por que do apelido- disse o Azevedo- tinha muita caspa o infeliz.
- Não, não, ele morava em Gramado, e vivia contando histórias geladas pra nós – lembrou o Camargo.
- Ah, mas não é isso mesmo- disse um por fim, e iniciaram a discussão.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Jair e o Zodíaco



Sagitário: Hoje, tu terás um dia difícil, o trabalho será entediante, porém e você poderá discutir com seu chefe. As possibilidades de você ser traído são grandes, evite chegar mais cedo em casa. A noite tente não brigar com seus amigos, pois a discussão pode acabar em esfaqueamento.

- Nossa, meu bem, tu viu meu horóscopo hoje- indagou Jair, enquanto tomava café da manhã.
-Dei uma olhada sim, amor, mas não se pode acreditar nessas bobagens né.
- É, nunca acreditei muito nisso, até por que, sei que tu não faria isso comigo.
- Tu ta jogando verde que eu sei Jair- disse Marta, gargalhando.
- Mudando de assunto? Sei, sei- dizendo isso, Jair despediu-se e foi ao trabalho.


Chegou na empresa, sentou-se em sua cadeira, acomodou-se, e ficou lá, sem nada fazer o dia todo, eis que na metade do dia, toca o telefone:
- Jair, vem cá- era o chefe.
- Bom dia Cleiton- disse Jair quando entrou na sala do chefe.
- Bom dia. Seguinte, quero te comunicar, que iremos fazer um remanejo no pessoal, devido à crise, e tu serás rebaixado de arquiteto á servente.
- Tu ta brincando seu velho safado? Eu não acredito que isso seja verdade
- Olha como fala comigo, ou nem servente tu vai ser.
- Pois tu não passa de um velho brocha, que só sabe me explorar, eu vou trabalhar catando latinha que ganho mais do que aqui.
- Então trate de comprar um carrinho para recolher latas. E pra não dizer que fui completamente mal agradecido contigo, aqui vai uma dica, cata papelão também, por que da mais dinheiro.
- Safado. E digo mais, safado, pilantra e brocha.
- Brocha? Tua mulher nunca reclamou, aliás, daqui há uma hora, quando eu for na tua casa pega-la ela não vai reclamar.
- Eu não acredito em uma palavra seu esdrúxulo- disse Jair, virando as costas e indo embora dali.

Saiu da empresa, entrou em seu carro, e rumou para qualquer lugar, queria pensar, refletir. Estacionou, ficou mudo por alguns minutos, ouvindo, uma linda canção do Amado Batista, quando pensou, “Meu Deus, eu não acredito que isso está acontecendo...estou ouvindo Amado Batista”.
Ligou o carro e correu para casa, chegou lá e encontrou a safada da Marta, na cama com aquele bunda branca de 70 anos, do Cleiton.
Gritou com ela, bateu no velho, apanhou do velho, correu, caiu, bateu no velho, apanhou do velho de novo. Foi uma selvageria. Mas saiu de casa o Jair.
A noite se aproximava, Jair não sabia mais o que fazer quando Lembrou-se de seu amigo, Miguel. Ligou para ele:
- Miguel, vamos jantar comigo, preciso conversar, minha vida está toda errada.
- Claro, Jair, vamos em uma churrascaria nova, que abriu ao lado da minha casa?
Quando Jair ia concordar com o fato, ele pensou, “espera ai, briga com chefe, traição, só falta a facada do amigo”, foi quando teve uma brilhante idéia, temendo as facas, Jair falou:
- Miguel, acho melhor irmos á um restaurante japonês.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Sexo, sexo, negócios a parte

Denise tivera sua integridade ameaçada por um ex marido, que a caluniou diante de todos. Entrara, então com um processo contra o ordinário.

Seu advogado, o Carlos, era tido como um dos melhores advogados do estado, e estava disposto a ajuda-la, porém, cobrava caro, muito caro.

Certa feita, combinaram um encontro, para tratar dos negócios, pois Denise ainda não conhecia os serviços especialistas de Carlos. O encontro, foi em um restaurante na zona nobre da cidade, inclusive muito próximo da casa do Carlos. Sem segundas intenções, jurou ele.

O encontro foi correndo tranquilamente, os valores foram acertados, o ex marido de Denise foi diversas vezes chingado e algumas taças de vinho foram tomadas, algumas dezenas de flertes rolaram.

- Sabe, Denise, minha mulher, e meus filhos, estão viajando, e eu estou sozinho na minha casa, odeio dormir sozinho – disse Carlos diretamente a paquerando.
- Pois é, Doutor...
Foi interrompida: - Carlos, por favor.
- Sim, Carlos, eu estou há alguns anos sozinha, acho que não seria má ideia, acompanha-lo a sua casa, e por la ficar.
- Ótima ideia, Denise.
Denise, com suas coxas fartas, seu cabelo negro e seios grandes levantou-se, e pediu um tempo, pois queria ir ao banheiro, antes de ir à casa do advogado.

Enquanto transavam, Denise reparou que Carlos fazia sinais com os dedos, algo como uma criança ensaiando a tabuada. No mínimo estranho, “as pessoas tem costumes estranhos quando estão com tesão”, pensou ela
A noite passou, Denise teve uma das noites de maior prazer da sua vida. Esse sim era um bom advogado.
- Sabe, Carlinhos, sempre me disseram que tu era meio mercenário, mas me surpreendi contigo.

- Que bom, Denise, fico feliz em ter te feito mudar de ideia, adorei a noite.

- Pois é, sempre me disseram que dinheiro era tudo pra ti, mas pelo visto, erraram.
- Com certeza, amor, erraram.
Dizendo isso, Denise foi saindo da cama, botando a roupa, e quando abria a porta para se despedir, Carlos olhou pra ela e disse:
- De, tu não está esquecendo de nada?
- Ah sim- disse ela, voltando e tascando-lhe um beijo.
- Não, não! Meus honorários, Denise! - falando isso, soltou uma gargalhada.
Denise riu como nunca. E rumou para a saída.
- Denise, eu não estava brincando, R$1200 a noite..

quinta-feira, 26 de março de 2009

Grande Oscar

Outro dia, encontrei um velho amigo na rua. O Oscar, sempre foi muito querido por todos, um cara de conversa agradável e franca, um rei da simpatia, fique entusiasmado com a possibilidade de uma conversa depois de tantos anos.
- Grande, Oscar!
- Opa!
- Ta lembrado de mim né? Fomos colegas no ensino médio
- Lembro – respondeu secamente.
- Mas e ai, cara, como estão as coisas?
- Normais.
- Mas e as novidades, a turma como anda? Nunca mais vi ninguém- insisti, mesmo não tendo muito papo.
- Não vi mais ninguém, e tenho que ir embora.
- O que é isso, Oscar? Está brabo comigo?
- Não, só estou sem saco para ficar com conversinhas com gente que não gosta de mim- respondeu-me ele, de forma irreconhecível.
- Como assim, Oscar, sempre fomos amigos, não é por que perdemos o contato que eu deixei de gostar de ti.
- Ah sim, e eu por acaso não sei como tu era no colégio?! Por acaso não lembro daquele dia em que tu me destratou e me chamou de louco?
- Oscar, eu nunca fiz isso, sempre te elogiei, tu era um dos meus melhores amigos.
- Não me minta, ou te agrido, fiz aulas de kung fu.
- Somos amigos, e eu não to entendendo.
- Ah sim...siga sem entender, então.
Dito isso, o diretor do manicômio nos encaminhou para os respectivos quartos.

quarta-feira, 18 de março de 2009

E mundo louco!




Ta bom, todos sabem, e eu não preciso ficar aqui comentando, que o meu blog, não é e nem será um blog “senso comum”. Não é um blog de notícias, até por que eu já faço isso todos os dias no meu trabalho, gosto de postar apenas textos meus. Mas um fato me chamou muito a atenção durante essa semana, e eu não poderia deixar passar uma coisa dessas.




Quando éramos novos, e víamos estórias (isso mesmo, com “E”) de mutantes e aberrações, acreditávamos que tudo não passava de imaginação e seria só coisa fictícia, que jamais a realidade poderia ser igual.

Víamos animais que não deveriam voar, com asas e voando, seres sem fala, conversando. Viamos até porcos sem focinho. OPA!! Porcos sem focinho, isso não é passível de aceitação, onde já se viu um porco sem focinho. Aham, conte-me outra.

Estão sentados? Pois permaneçam. Está de pé? Sente-se.

Nasceram na China, mais especificamente na província de Jingcheng, no sul chinês, dois espécimes de porco, aqueles bonitinhos, com rabinho enrolado, a cor rosada e o focinho arrebitado. A-HAAAA, peguei vocês. Porco não tem nariz arrebitado, ao menos não tem mais. Atentem-se a foto postada abaixo...




Os animaizinhos coitados, nasceram sem focinho!!! Ai você se pergunta: “Tá, e o que eu tenho a ver com isso”?

E eu te respondo: Seu safado, tu é tão safado quanto eu, por que esses bichinhos nasceram sem focinho por que a poluição os transformou em aberrações, em mutações genéticas.

Onde já se viu, caros amigos, um porco sem focinho? Onde isso vai parar? Está tudo tão louco, que uma hora dessas, eu apareço bonito por ai...Ai todos saberão que os tempos definitivamente mudaram, e pra muito pior.

Não espantem-se, caso, com uma picada de aranha crie um herói, ou uma tartaruga que vive em um esgoto possa usar tchacos e combater o mal.

É só um aviso que eu estou dando, é hora de começarmos a rever nossos conceitos, pois de repente, o fim pode estar próximo, ou pior, ele pode não chegar, e teremos que viver nesse mundo louco por mais muito tempo.

terça-feira, 3 de março de 2009

O jogador da madrugada

INFERNO!- Começa assim a história, ou melhor, a jornada, ou ainda diria mais,a missão , e por que não dizer a saga, a odisseia, e epopéia, a onomatopéia (acho que ai foi feita uma pequena confusão pela terminação da palavra), de Olino- sim, Olino é o nome. Sua mãe acreditou ter a vida salva por um vidro de Olina enquanto o esperava em sua barriga, daí a homenagem.- Pois bem, me perdi em devaneios mas a história de Olino merece atenção especial.
-Inferno! Não aguento mais essa vida cheia de dívidas, contas, prestações e alugueis atrasados. Como seria bom Bonácio, se eu tivesse dinheiro, se eu...se eu...eu ganhasse na loteria.

Tudo começou em um bar, alias como a maioria das boas histórias, depois de algumas quantas garrafas de cerveja,.
-É isso Bonácio, vou jogar na mega sena. Quero ser rico. Vem “homi” vamos catar um lotérica aberta.
- Mas Olino, já passa da meia-noite.
- Eu to com aquela sensação boa, minha unha encravada ta doendo, quer dizer, não que seja uma sensação boa, mas normalmente é sinal de sorte, entende? Se não for hoje, nunca mais ganho.
- Olino, tu tem certeza...- Bonácio parou de falar quando viu que Olino já estava longe. Não podia abandonar seu melhor amigo , e la se foi ele, atrás do jogador das madrugadas.

Bonácio correu, correu e correu, mas não alcançava Olino, inclusive, se perguntou como um homem com a unha encravada podia andar tão rápido. Essa é a superação da vida, meu caro Bonácio (filosofia especial do autor).
Finalmente Bono (simplifiquemos assim) conseguiu alcançar Olino (simplificado seria pior), porém, os dois andavam, sem rumo, andando ao esmo, até quem sabe, por uma obra do destino encontrarem uma agencia lotérica aberta naquela hora.
Havia começado há mais de meia hora sua caminhada, e nada da tal lotérica. Eis que de repente, Bono olha pra traz e vê três homens bem suspeitos andando rapidamente atrás dos dois. Bono cutuca Olino e os dois correm. Correm louca e desesperadamente, até que o trágico acontece, os três indivíduos alcançam nossos heróis.
Os dois param, horrorizados, e os três rapazes olham pra eles com cara de decepção:

- Viu Ernesto, eu disse que não eram eles- bradou um deles.
Depois da frase proferida, os três rapazes explicaram que confundiram Bono e Olino, com uma dupla sertaneja que despontava no momento, Getúlio e Varlêi.
O mal entendido se desfez, e para a sorte dos dois, tudo deu certo, aliás, nada eu certo, pois a maldita casa lotérica ainda não aparecera.
Bono desconfiava que já tinha andado cerca de 120 quilômetros, e nada da desgraçada lotérica. Eis que surge, em face de maior encanto... (ta, não vou usar palavras tão requintadas ao me referir a uma mera casa de apostas)...porém, ela estava lá, imponente e austera. Uma miragem pensaram os dois, mas não, era real.

Andaram, ao som imaginário da canção da vitória (do Ayrton Senna)... pam pam pam...pam pam pam pam pam...
- Mas que merda cara, por que infernos uma casa lotérica fecha à...à.. 1h e 15min da madrugada -disse Olino.
- Eu te disse meu velho, eu te disse, desiste disso, além do mais, uma coisa que exija tanto sacrifício, não deve ser algo bom.
- É mesmo Bonácio, tu tem razão, desistoOs fiéis amigos vão pra casa conversando, e Olino revela em quais números apostaria caso localizasse uma casa lotérica:- 01, 17, 23, 36, 54, 59. Esses são os números Bono, mas enfim, não há de ser nada.Olino chegou em casa, dormiu, acordou, foi ao trabalho, e esqueceu a jogatina, afinal, se não fosse naquela noite, não seria mais.

Depois de o resultado da loteria, acumulada em mais de 10 milhões de reias, ter sido divulgado, Bono apareceu morto em sua casa, morte natural, diziam os amigos. Sabe-se que, conhecidamente ou não, os números da sorte naquele dia foram 01, 17, 23, 36, 54, 59, e Olino nunca mais foi visto.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O que é nosso ta guardado e abençoado por Jah

As vezes a gente se sente meio desprotegido. É como se um pedaçinho da gente estivesse de desprendendo do corpo, e andando em meio ao esmo, em meio a um mar de nada. As coisas parecem tomar um rumo meio de repente, assim, como uma surpresa, algo que tu não imagina acontecendo.

Mas ai, meu amigo, tu começa a entender que o tempo está passando e que tu já não é mais aquele guri que sentava lá no fundo da sala no colégio, aquele guri que só incomodava os professores, e que falava o tempo todo. Tu percebe, que cresceu, e com o teu crescimento, vieram as responsabilidades, e foram-se amigos.
É tão ruim, quando tu espera que as coisas possam se resolver sozinhas, e tu entende então, que não é assim, que tu precisa abrir teus olhos e buscar o teu futuro, mas que pra isso, é preciso coragem, é preciso acima de tudo, ter certeza do que tu quer.

Com isso, não me estenderei mais, fiz esses meros parágrafos, nesse texto medíocre, feito por um blogueiro medíocre, numa ressaca de carnaval. Mas o fiz com um único pensamento, desejar boa sorte e toda a benção de Jah aos meus amigos Cristian Gló, e Rodrigo Pudim, que estão indo em busca de algo novo. Que tiveram coragem de arriscar, e ao contrário dessa criatura que vos fala, vão buscar o seu futuro, onde ainda há um futuro os esperando.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Liberdade pra dentro da cabeça

Aquela sensação de estar em paz, de ser livre, de pegar com a mão qualquer pássaro que esteja passando por ti. Essa é a melhor sensação terrena. É a melhor e maior emoção que qualquer ser racional pode ter.
Saber que todas aquelas ondas que estão na tua frente, foram feitas por uma força maior, para ti. Tu podes nadar, e nadar, e nada...e seguirá, por uma infinidade de quilômetros no tão distante mundo, que todos vivem, mas muito poucos sabem viver.
A alegria de um sorriso, dado por quem realmente te ama, nunca vai ser substituída por qualquer coisa que possa ser comprada. Eu sei, eu sei, meus pensamentos estão se perdendo em um infinito de possibilidades, e tu pode até estar pensando que eu enlouqueci. Ah não é isso, não é mesmo. O bom de se viver, é saber que o errado e o certo, o louco e o são, estão na cabeça de cada um.
Eu queria voar, voar, para ver o mar, e levar, pros olhos de todos aqueles que estão quase desistindo da vida. Pra que eles vejam, que há um motivo para que eles vivam, há um mundo lá fora, um lindo mundo, que eles poderão aproveitar, se deixarem de lado a ganância, a violência, e o mal.
O azul que está por ai, do céu, do mar é todo o bem que já foi feito, é um pouquinho da essência boa que cada um tem no peito. O verde que existe pelo mundo, significa toda a paz que todos sabemos que ainda pode existir.
O teu peito ainda bate caro companheiro, porém, meus pensamentos devanearam, e estão indo longe, aonde o meu corpo não alcança, mas sei, que ainda antes de morrer, eu terei viajado, conhecido muitos lugares, se não materialmente, por alma, por coração, por pensamento.
Me sinto tão bem que sou capaz de voar, me sinto tão bem, que meu corpo a qualquer momento poderá ser visto flutuando por qualquer lugar. Pergunte-se o motivo de toda essa felicidade, e eu te respondo, simples e objetivamente: Eu vivo.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Um caso de amor

“Existem dias, que o melhor é nem sair de casa”. Roberto sempre pensava isso, quando seu dia não estava, por dizer assim, brilhante. As coisas davam errado muitas vezes na vida dele. Não que o Roberto fosse perfeccionista, mas de fato a vida dele não era um mar de rosas. Havia acabado de perder sua namorada, perdeu-a para um câncer. Nunca mais amaria, dizia ele.

Juliana era tímida, nunca havia se apaixonado por alguém, e muito menos ido para a cama com quem quer que fosse. Uma moça a la moda antiga. Não que a Juliana se orgulhasse muito, por ter 26 anos e ser virgem, mas havia jurado que sua primeira vez seria só por amor.

Acreditava, a Juliana, que como em um dos livros de Sheakspere que ela lera, um caso de amor de tirar o folego a teria como personagem principal. Ingenuidade a dela, diziam suas amigas, porém, Juliana sabia o que queria pra si.

Roberto pouco saía, era um pouco fiasquento demais, não que fosse de proposito, mas as vezes as coisas fugiam do controle. Não era fácil deixar de ser o atrapalhado que Roberto era. E em todas as festas que ia, além de não estar a vontade, a saudade de Luisa, sua ex, era enorme. Nunca mais amaria.

A vida de Ju andava um tanto monótona, e por mais inibida que fosse, ela adorava uma balada, porém, estava prestes a desistir. Sua intenção sempre fora a de encontrar uma alma gêmea, a outra metade do seu ser. Mas sua busca, até então, fora fracassada. As amigas diziam: - Ju, joga tudo pro alto, aproveita, por que a vida é só uma.
Irritada, Juliana dizia:- Eu que sei o que eu quero pra mim.

A vida prega peças, e nem todas são ruins. Em uma noite úmida, em pleno inverno, um amigo de Roberto praticamente o arrastou à inauguração de uma boate, que seria a mais “bombante” da região.

Juliana não esperava a hora de ir até a mais nova boate da região, ao lado de seu prédio, a noite prometia.

Fila, gente aglomerada, bonita e feliz. Isso tudo deixava Roberto “P” da vida. Não gostava de ver as pessoas se divertindo, ainda mais, depois de ter sua vida arruinada, como ele mesmo dizia. Estava quase em depressão o Roberto.

Juliana era a primeira da fila para entrar na nova boate. Estava pilhadíssima para conhecer o novo lugar, alguma coisa dizia a ela que estava para conhecer hoje o homem de sua vida.
Depois de muito ser encoxado, empurrado, xingado, e esculachado, o Roberto e conseguiu entrar na tal da boate, que tinha um nome um tanto quanto diferente: “Romeu e Julieta”.

Lá dentro, Roberto não achou nada demais, o lugar era bacaninha, e só isso, o que tirou a atenção de Roberto, foi uma jovem, que dançava enlouquecidamente na pista, era tão linda, alguma coisa naquela garota era especial.

A noite estava divertidíssima, Ju dançava enlouquecida na pista. A música era agradável, mas Ju tinha reparado em um rapaz, um tanto quanto triste que estava escorado no balcão. Sua cara era tão triste, mas ela havia achado algo de especial nele.

Quando, enfim, a moça dançarina resolveu sentar-se, Roberto tomou uma atitude, era preciso esquecer-se nem que fosse por uma só noite, da sua falecida mulher. Estava ali, sua chance, na moça dançarina. Levantou de onde estava sentada, andou a largos passos até onde a moça havia sentado-se. Quando lá chegou, mantinha na mão drink, que por algum motivo, o qual não o impressionava, ele tropeçou, e caiu sentado, o drink voou todo no colo da bela dançarina.

Roberto não continha a vergonha, havia feito um fiasco, mais um. Não era possível. Com que cara olharia para a garota? Como ficaria sua situação? O que ele faria da vida? Decidiu-se. Não olharia mais para a garota. Mal sabia ele, que fazendo isso, estava deixando o amor de sua vida ir embora.

Por sorte Juliana, que ficou desolada com o pobre rapaz estabacando-se ao solo, resolveu tomar a atitude. Ofereceu sua mão para que o rapaz, que ela havia achado tão interessante, pudesse se levantar.

Quando, depois de muita vergonha, e muito constrangimento, olharam-se nos olhos, tudo parou, os sons, a luzes, os cheiros, até a fala dos dois estagnou. Tudo foi para um terceiro plano, uma cena tipicamente hollywoodiana, onde estavam só os dois. Algo nos dois se completava, era como se o lugar que muito tempo passou cativo, esperando um espectador, agora estivesse ocupado, e muitíssimo bem ocupado.

Amor, depois de uma semana sem notícias, Ju não tinha certeza se era ou não o que ela havia sentido. Sabia que algo nela estava diferente, mas não tinha como afirmar, afinal nunca amara antes.

-Amor, só pode cara. Eu to amando de novo, Bruno. Minha ex nem esfriou no caixão e eu já estou amando outra- disse Roberto à seu amigo.
Roberto sabia que estava amando, mas queria um tempo pra si, para ter certeza de que era isso mesmo que ele queria. Tinha medo de estar errado, e acabar quebrando a cara.

Juliana, espera, ao lado do telefone, que estúpido, teima em não tocar. “Eu dei meu número pra ele.Ele tem que me ligar”. E eis que em um rompante ele toca mesmo. Juliana atende e infelizmente, é um operador de telemarketing, um maldito operador de telemarketing. “Que se explodam esses cretinos. Quero meu Ro”.

Roberto pegou o telefone na mão e decidiu, amava Juliana como nunca amara ninguém, era hora de ligar. Discou o número dela, porém, estava ocupado. “Deve ser algum outro homem interessado nela, acho que vou desistir”.

Juliana não aguentava mais a espera, resolveu sair para espairecer. Foi ao parque.Roberto não sabia mais o que fazer, resolveu espairecer. Foi ao parque.
Encontraram-se (por uma obra de Deus?), no parque, e ali, foram felizes. Daquele dia em diante, nunca mais um abandonaria o outro.

Depois, de seis meses, Ju deicidiu apresentar Roberto a seus pais. Algo que não foi, por assim dizer, interessante. Pois, os pais de Juliana, principalmente o PAI de Juliana, não gostou do Roberto. Disse que o rapaz era mal caráter e que só estava interessado no dote e na vergonha de Juliana. (chegamos aqui a uma parte ainda não descrita no texto, Juliana era muito rica, milionária. E Roberto, era uma pessoa humilde.)

BARRADO, essa foi a definição dada pelo pai de Juliana ao namoro dos dois. Juliana nem quis saber, e continuou a dar todo o amor de seu peito á Roberto. E Roberto, mesmo com medo, resolveu ser o par de Juliana.
O pai da moça não gostou da idéia, as coisas tinham que ser do jeito que ele queria. Avisou a Roberto em uma certa noite, pelo telefone:- Rapaz, aqui é o Figueira, pai da Juliana. Tu vais largar da minha filha, ou eu vou dar um jeito para que isso ocorra- disse ele
- Mas...mas..Seu Figueira, eu amo a sua filha.
- Amor é o caralho, tu quer o dinheiro dela. E isso eu não vou permitir.Com isso, o telefone foi desligado.

Roberto passou a viver com medo, resolveram fugir, ele e Ju. Trocou até de nome, renegou sua própria identidade, em nome do seu amor. Viviam o seu conto de fadas longe, muito longe para quase qualquer um, mas não para as mão vingativa do Seu Figueira. O homem descobriu onde eles estavam, e decidiu mandar um matador de aluguel.

O matador achou os dois, e a chacina foi completa. A notícia que Seu Figueira leu no jornal na manhã seguinte foi a seguinte:

Casal brasileiro morre em crime ainda sem razão
Os corpos de Juliana Figueira (26) e Roberto Silva (29), foram encontrados no hotel Palace, em Novo México. Os dados passados pelo delegado da cidade, Juan Mostardeiro, dão conta que o crime teria sido encomendado por algum mandante ainda desconhecido. O que se sabe, é que o bandido errou seu alvo, pois tentou acertar Roberto com um tiro no peito, porém, sua parceira, Juliana, tomou a frente de seu homem e o impediu de morrer. Em seguida, a segurança do hotel rendeu o homem, impedindo que Roberto fosse alvejado. Porém, o rapaz, estava desolado com a morte de sua amada, e atirou-se do 18° andar do prédio, tendo morte instantânea. O motivo do crime ainda é desconhecido, porém, o que se notou, é que Roberto amava muito sua Juliana
”.

Seu Figueira, pela primeira vez em décadas, chorou.