sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Caixinha preta de sentimentos

Lembro-me que na infância me intrigava o funcionamento dos mecanismos de uma televisão. Eu imaginava seres da velocidade da luz e do tamanho de bonequinhos de forte apache entrando naquela pequena caixa de plástico preta enquanto eu gozava de um belo sono, ou ocupava-me com outras alegrias da vida mirim.
Mais de uma vez pensei em lançar um tijolo ou martelar a tela de vidro quebradiça da caixa preta que continha as miniaturas. “Como pode eu ter a Angélica dentro de uma caixinha em casa e não poder conversar com ela, ou tocá-la”, eu pensava. Pensamentos puros, é bom que se diga, pois eu ainda era uma criança. Fosse hoje talvez eu não falasse da Angélica.
Não lembro quando descobri que a tevê não era uma caixa de brinquedos, mas devo ter me frustrado, pois descobertas assim, ferem nosso imaginário, é como quando dizem que o Papai Noel não existe. Algum gaiato sempre diz que o Papai Noel não existe e que a tevê é um aparelho eletrônico. Sempre tem alguém para estragar a brincadeira.
Ou roubam a bola em pleno campinho de futebol, ou espiam no no esconde-esconde, há ainda uma série de outras coisas que definem aqueles que não sabem brincar. Há pessoas assim! Do tipo que não sabe brincar, e não feliz com isso, ainda resolve entristecer a brincadeira dos outros.
O Natal Luz de Gramado é um exemplo. Começou nas sarjetas de uma cidadezinha meia boca, com meia dúzia de hortênsias e um padre. Começou sendo uma festinha tão meia boca quanto a cidade que o abrigava. Mas cresceu, bem como sua cidade.
Cresceu em 25 anos como cresci eu a ponto de não acreditar mais nas miniaturas da tv. Cresce e desfaz-se de uma criança, tornando-se um homem e que belo homem se torna. Capaz de sustentar-se com suas próprias pernas. Capaz de escolher seu rumo sozinho, mas sempre consultando àqueles que o querem ajudar, é assim a vida de um homem grande.
O acusam agora e balançam com a sua moral, mesmo os homens bonitos são acuados quando lhes desmoralizam e assim é. A mim, mesmo não sendo bonito, se ofendem, eu vou embora. Viro as costas e bato em retirada, não fico onde não gostam de mim. Talvez o Natal Luz não pense assim, e eu espero que não pense.
O fato é que se o cérebro do Natal Luz não pensa assim, me parece que o coração dele, outrora e por muitos anos ainda, espero, chamado Peccin, pensa o contrário. O sentimento não esconde-se atrás de enfeites de Natal, e sim é exposto e gera reações.
Dentro de um emaranhado de imposições ou opiniões há quem defenda a posição de um ou de outro e eu respeito todas, mas tenho a minha. O Natal Luz de Gramado é o que é graças a Luciano Peccin e sua família. Não há poréns ou pormenores. É assim.
Não condeno qualquer um que seja que por ventura questione a formatação de um evento, porém, há informações pouco pertinentes correndo na rua. O evento é público sim, mas com verbas de incentivo privado. Com verbas de patrocínio. O incentivo público ao evento, se dá na mão de obra e na participação dos lucros.
Assim como na realização de qualquer evento, há prestação de contas e não é cabível aceitar que digam o contrário. Durante o evento, em um dia qualquer abram o jornal e perceberão que ali, como em um passe de mágica estará uma planilha de duas páginas do jornal inteiras contendo os números do evento.
Licitação tudo bem, há de ser feito e aí concordo de fato. Mas não acho cabível pessoas sem conhecimento de cause julgarem sentimentos e os exporem como se psiquiatras mais eficientes do que o próprio Freud fossem. Ninguém pode terceirizar sentimentos. Cada um sente o seu. Pessoas que apontam sentimentos assim, só podem achar que lá dentro da televisão ainda estão as miniaturas dos dias passados.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Quem foi rei...

Artur foi, e tenho lido sobre isso, um grande homem. Alguns não saberão de que Artur eu falo aqui, pois não o reconhecem sem um prefixo comum na prescedência do nome do homem, Rei. O Rei Artur, que não foi rei, mas foi Artur.
Não foi Rei e explico o por que. Ele na verdade, tomou as rédeas de um país, quando seu rei verdadeiro ainda era uma inocente criança aguardando a vinda da maturidade. Nesse período, Arutr comandou, mas não foi rei. Ao menos até onde me consta. O que acho bárbaro, e fascinante em sua história, porém, não é só o fato de ele não ter sido rei e assim ser taxado, mas sim o fato da forma como é contada a sua história.
Lendas e histórias infantis falam de uma espada encravada em uma pedra e cujo destino a permitiria ser desestocada dali apenas por um homem nobre de peito e alma, ou seja, seu verdadeiro dono, que por um acaso vinha a ser o dito cujo Artur.
Há alguns dias li o primeiro livro de uma trilogia que conta a história de Artur em detalhes, narrado em uma terceira pessoa, que segundo o livro seria um dos maiores cavaleiros de Artur e não, esse cavaleiro não é Lancelot e aí eu chego onde queria chegar. De acordo com o personagem narrador do Livro, escrito pelo grande Bernard Cornwell, Derfel, o nome dele, ele sim era um grande guerreiro, enquanto Lancelot era um covarde frutinha.
Sim, de acordo com o livro, Lancelot era apenas um medíocre, filho de um rei sem reino, pois o pai de Lancelot, Ban, foi destronado em meio a uma guerra com os saxinônicos, e não lutava, apenas fingia. Isso mesmo, fingia que lutava. Os bardos cantavam suas sagas dignas de Homero, pois ele os pagava. Encomenadava histórias a serem contadas, criando assim uma fama de herói. Lancelot virou um machão galanteador, um protótipo de Don Juan da Idade Média, quando na verdade era um franguote meio que afeminado. É o que diz o livro.
O que me instiga são esses “poréns” da história e não só da história do Artur, mas sim da história geral. Os pormenores de todas as histórias. Admiro-me com o fato de algumas histórias serem tidas como verdade absoluta quando todos sabemos que na verdade não são. É impossível se perpetuar uma história como ela realmente foi ao longo do tempo. Relatos podem conter verdades, mas podem ocultar outras. Por vezes, involuntariamente, por outras, da maneira mais proposital possível. Quer um exemplo?
A estátua de Moisés feita pelo Michelangelo tem guampas. Sim, tem guampas e alguns dirão, “mas é um arigó esse Ricardo. Tá na Bíblia, é só olhar e ver que diz lá que ele tinha gumpas”, mas não, ele não tinha guampas. Qual o tipo de homem que tem guampas? Não refiro-me ao figurado. Mas enfim, Moisés não tinha guampas. Ai alguns pensarão que então quem escreveu tal citação, das gumpas de Moisés, devia ter tomado ácido ou qualquer outra droga para que dissesse que o pobre homem era chifrudo, mas eu explico o fato. Por uma ou duas palavras de diferênça, na hora em que a passagem foi traduzida do Latim, a conotação da mesma sofreu uma significativa mudança. “O rosto iluminado pelas luzes celestiais”, a frase dizia em sua língua original. “Carregava chífres na cabeça”, a tradução.
Um segredo se esconde atrás de outro segredo e é por isso que eu não sou o maior cristão do mundo. Outrora já externei minha opinião de que acredito em uma força que rege o Universo, sim. Mas não que ela vem exclusivamente de um lugar só.
Não se pode crer em uma meia verdade, ou numa história sem argumentos científicos que comprovem essa sua vercidade.
Uma vez ouvi de uma amiga que é aí que entra a questão da fé. Quem crê, é por que quer e por que tem fé. E eu, apenas avalio que posso não ter fé em muitas coisas, mas no Renato Portalupppi eu tenho. Isso por que, Renato é um mito real. Daqueles que se vê surgir e não se vê perder a graça.
Saiu de dentro do campo, porém, não sai do futebol, é daqueles que segue sendo um mágico das quatro linhas. Tirou o Grêmio de uma situação complicada e vislumbra logo ali a frente, uma vaguinha na Libertadores da América do ano que vem.
Isso sim é ser rei, um rei como Artur, cujo adjetivo é totalmente figurado, porém, a magnitude do que esse homem significa, certamente entrará para a história, como outrora já entrou com as cenas de Tókio.
Contudo, espero, porém, que Renato, assim como Artur, não seja um rei que apenas esteja esperando a chegada de outro para ceder seu lugar ao sol, ou ao trono. Renova Renato.