terça-feira, 27 de abril de 2010

Morreram junto com a história

A Guerra de Canudos é famosa no Brasil. Uma guerra de brasileiros contra brasileiros, como era de se esperar. E como era de se esperar mais uma vez, quem perdeu foram os brasileiros. Mas os brasileiros de verdade, aqueles que sofrem, gritam, trabalham duro, são honestos. Esses perderam a guerra, se é que se pode dizer que em uma guerra há vencedores. Pois então, os brasileiros fajutos venceram a guerra, tanto quanto se pode vencer.
É bem verdade que o fanatismo sócio-religioso nunca foi meu favorito, mas há de se louvar qualquer iniciativa que travasse conflitos e impusesse seu ponto de vista, ainda que menos favorecido, ao comando do Brasil naquela época. Aliás acho louvável qualquer demonstração de força de vontade, que vá as ruas e brade, nem que seja o grito dos fãs de Star Wars bradando aos quatro cantos que Luck Skywalker (assim que se escreve?) deve ocupar um lugar na academia brasileira de letras. Mas enfim, é necessário que se proteste contra ou a favor do que se luta.
A Bahia há muito é um país com o desenvolvimento quase nulo e era contra isso que lutavam os combatentes de Antônio Conselheiro, o líder da revolução e espécie de Jesus Cristo baiano, que pregava uma salvação através de um milagre que a todos os “sertanejos” salvaria. Mas baseava-se também em voltar os olhos do governo para aquele lugar miserável, e alertar que ali havia seres humanos também.
Como era de se esperar, a revolução não deu certo e mais de 20mil baianos guerreiros morreram. Os que não morreram, de lá fugiram, levando o pouco que tinham, ou nada. Rumaram, até onde se sabe, para o Rio de Janeiro, em maioria, dando origem a lugares que hoje em dia constantemente aparecem na televisão. Lugares de vegetação vasta, moradas coletivas, condomínios alheios às praias e o luxo carioca. São chamadas hoje de favelas.
A primeira favela conhecido do Rio de Janeiro, e dizem ser a primeira formada naquele local, é de total responsabilidade dos flagelados de canudos, que a batizaram favela por ser formada em um local coberto por favelas (uma planta). Em seguida, o morro passou a ser chamado de “Morro da Providência”, e até hoje existe.
Outro dia vi na televisão imagens do Morro da Providência, que me chamaram a atenção. Eram sinais de balas, perfurando paredes nas casas daquele local. O que mostra que Canudos não é tão coisa do passado assim. A guerra segue presente naquele povo e de novo guerra de brasileiros contra brasileiros. Dessa vez nada contra um regime ditador ou imperialista, dessa vez, pura e simplesmente pela violência, pelo comando, pela covardia.
Se história do Brasil tivesse sido escrita sem tanto sangue, e quem sabe com mais tinta de caneta, ou nanquim, a realidade seria outra hoje em dia. A culpa é clara e manifestadamente daqueles que colonizaram nosso país. É fácil e cômodo atualmente dizer que só por que a televisão mostra imagens fortes e tiros vindouros do alto do morro, que são eles o culpados pela desgraça e pela depredação do país no qual vivemos. Mas se olharmos o passado, veremos que desde o começo essa gente perdeu a guerra, e continua tentando vencê-la desde então.
Li num texto do David Coimbra que os outros fundadores das favelas foram os negros escravos, assim que tiveram sua abolição (pra lá de tardia) assinada, foram largados à sua própria sorte, com o currículo maculado pelo depravamento dos contratantes, não dos contratados. Esse negros, não tinham onde morar, e adotaram cortiços para instalarem-se, porém, após a reforma urbanística a qual o Rio de Janeiro foi submetido, esse mesmos cortiços foram extintos, e destruídos, restando aos negros, nada. Daí em diante, a solução foi ocupar os morros das encostas cariocas, utilizando-se de material da construção, os destroços saqueados dos próprios cortiços que eles antes habitavam.
Portanto, mais uma vez se nota que o fracasso daquela gente era iminente e se confirmou.
Ouço hoje em dia profecias e até estudos dizendo que o mundo sobreviverá até 2012 e só. Não duvido disso, ao pé que vão as coisas, é provável que antes ele acabe. O que é certo, é que para aquela gente, baianos, escravos, negros, Antônios, profetas, messias, revolucionários, loucos, bandidos, todos eles, para essas pessoas o mundo acabou logo no seu começo, ou logo que o Brasil, começou e ser Brasil.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Língua dos deuses

Os gregos antigos acreditavam na sua própria mitologia. Dezenas de deuses planavam pelo Monte Olimpo. Chamam-na de mitologia grega, por sinal e creio que o nome seja adequado, analisando os fatos.

Tenho curiosidade em saber quem dizia que os deuses eram deuses. Se de repente havia um setor de RH e uma psicóloga formada fazia a seleção de emprego. Os deuses eram contratados a partir de um currículo bem formulado, no qual exaltavam principalmente sua beleza e suas qualidades mór, como no caso da Afrodite, a sensualidade. Mas eu bem acho que rolava um nepotismo descarado nessa histórinha toda. Exemplo é o Hércules, que só por que era um playboyzinho filho do Zeus, ganhou até seriado transmitido no SBT, além do cargo de semi Deus. Duvido que, por exemplo, o filho do Sarney vá ter algum seriado algum dia. Esses deuses eram bem safadinhos.

Cheguei a mencionar o número incontável de deuses que habitavam o Monte Olimpo, transformando-o numa espécie de Morro do Alemão para os deuses, um quase cortiço inundado pelo deus do feijão, do funcho e do sabão em pó. E acho bárbaro na literatura antiga – e que fique claro que eu gosto muito da mitologia – é que os deuses em si – e isso inclui a Bíblia – conversam com seus súditos. Batem papo, jogam canastra e dominó, tal qual fossem amigos de boteco. Por que hoje em dia isso não mais acontece?

As pessoas passaram a respeitar deuses (ou no singular) e teme-los. Não se adora o que se tem medo. Não se exalta o que te amedronta. E aí eis um erro comunal. Não mais se conversa com deuses, apenas se agradece e se pede, de forma direta e sucinta.

Vulcões, terremotos, tsunames, enchentes, furacões. Se conversássemos com deus, talvez saberíamos de tudo. Como Noé pode saber do dilúvio e os moradores da Morro do Bumba não? Me parece injusto. Quem sabe é Ele (o próprio deus) que não quer mais papo. Somos chatos. Aliás, somos muito chatos, fazendo sempre o mesmo. Comprando, roubando, vendendo, morrendo, matando, amando, desamando. Nossa vida é um gerúndio de possibilidades, sempre no presente mas tão coisa do passado. A gente é retrô e deus já viu isso.

E o Inri Cristo, por que não nos avisa nada? Ah, isso me deixa muito brabo. Não é possível que ele não saiba. Se ele é mesmo filho do Homem, ele tem que saber. Pais e filhos conversam, nem que seja para brigar. Duvido que deus não tenha enrijecido o dedo e o posto na face o Inri dizendo: “tu não me aparece mais em casa com esse gente (nós, humanos), pois da próxima eu vou tocar o terror e a terra vai tremer”. O Inri é que não entendeu que deus não usa figurativo. Ele fez a Terra tremer.

Com ou sem Inri, nós não entendemos as palavras Dele, ou deles, se forem gregos, e esse é um problema, pois se deus fala mesmo haramaico, ou qualquer coisa do gênero, eu não entenderia de qualquer forma. Mal e mal conheço o português. Falando grego então, pior ainda. Aqui eu sugiro um curso de português, ou inglês que é a língua universal aos deuses. Rápido e prático, e aí sim, está tudo certo, não precisaremos mais de terremotos ou vulcões para entende-los, apenas um tradutor, quando muito.

Deuses gregos, finlandeses, croatas, americanos (americanos acho que não), e até brasileiros devem existir. O que me resta é saber a qual deles apelar. Viu, viu. Se não fosse a Torre de Babel, nada disso teria acontecido. A culpa no final de tudo, nem foi nossa e agora nós pagamos o pato.

Então que vocês todos aí em cima se reúnam, e democraticamente escolham o seu líder. Aí sim nós teremos com quem conversar. Peço apenas que seu líder fale português, ou também nem sei se é tão necessário assim, afinal, o líder que escolhemos para nos representar aqui no Brasil também não fala.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Paredes jamais falarão

Falassem as paredes eu não mais teria juízo. Falassem como falam as pessoas a desgraça total chegaria. Dissessem metade do que sabem não mais seriam paredes e fofoqueiras seria seu nome.
Paredes sabem, elas veem. Não falam. Nunca falarão, não enquanto eu viver. Apenas o que me guia é minha consciência, não as paredes.
O que gosto nelas e quando digo nelas me refiro às paredes, é que permanecem estáticas em meio a tudo. Não se mexem e nem respiram, mesmo vendo - e elas veem, - as cenas mais sórdidas e mais sacanas que alguém pode ver. Portanto, sabe-se que paredes não falam e jamais falarão.
Ninguém que saiba tantos segredos os manteria tanto tempo como os são, ou seja, sendo segredos. Lá em casa mesmo, meu amigo, se as paredes falassem, é provável que eu já estaria preso.
Embora coisas que supostamente só as paredes sabem, vez que outra perdem-se em meio às bocas populares. Isso sim é coisa que não explico. Aliás, nem eu...nem as paredes.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A Fogosa Alessandra (Maria Helena)

Parte três

Fosse o que fosse, aquele não poderia ser chamado de um dia normal. É bem verdade que começou normalmente, mas o Armando pressentia o ataque, sabia que o destino preparava-lhe uma cilada. Seu sexto sentido nunca o deixara na mão e não seria diferente desta vez. Só esperava saber de que lado vinha o golpe. E ele veio do lado mais surreal, mais inesperado, do lado que Armando jamais poderia imaginar. Veio do lado moreno, doce e cândido, do lado angelical, veio de Alessandra.

-Armandinho! Lembra aquela noite em que fizemos loucuras com o segurança do condomínio,o Sidi? Aquele afro descenden“tesão”, que você mesmo apelidou assim? - perguntou descaradamente sarcástica a Alessandra.
-Hã... lembro sim, meu amor, mas poderíamos deixar essa história pra lá, né? Faço tudo por ti, mas aquela foi uma exceção, e o Sidi de fato era excedido em tudo , né amor.
-Ah pois é. Pois então vou deixar uma coisa bem clara pra ti. Fiz dezenas de fotos tuas com ele. Dezenas. Ou seja, tenho provas irrefutáveis de que o garanhão de empresa é de fato um homossexual enrustido.
- O que tu quer dizer, Lele? Tu não faria isso. Jamais mostraria fotos minhas nessa situação. Só fiz o que fiz pra te agradar.
-Meu querido, vamos a uma breve regressão no tempo; lembra em meados de 98, eu tinha 17 anos tu estava se formando na universidade e eu acabava de ingressar no me curso.
- Não lembro de ter conhecido qualquer Alessandra que fosse.
- O nome Maria Helena te diz algo?

Armando empalideceu. Sim o nome dizia algo, aliás, o nome dizia tudo, tudo o que ele não queria lembrar. A voz de Armando engasgou. Estagnou no movimento que iniciaria e feito uma estátua derrubada pela força de um furacão, tombou. Desacordado, com o coração saltando-lhe pela boca.
Acordou no hospital, zonzo, porém, quando a memória lhe fez questão de tornar as coisas piores do que já estavam, lembrou-se do acontecido. “Não é possível. Maria Helena! O que farei? É o fim da minha vida sexual”, pensou.

O que terá Armando feito à pobre Maria Helena para que a vingança da moça seja tão arrebatadora? Terá Sidi, se apaixonado por Armando? Descubra tudo no próximo capítulo de : “A Fogosa Alessandra”.