terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Feliz bêbado novo!

Bêbado é feliz! Aliás, eu bêbado sou feliz. Quando beberico infindáveis goles de qualquer substância alcoólica torno-me mais animado do que antes. Não que eu não seja animado, eu até sou, mas quando bebo, fico mais. Bêbados são hipócritas também. Usando-me como exemplo, sou hipócrita quando bebo, abraço pessoas que não gosto, cumprimento outras que não gostam de mim, mas torno-me um cínico bêbado.
É contagiante a efusividade de um ambiente onde só há bêbados. Gritos, brados, ponderações, filosofias e uma séria de chingamentos (que bêbado normalmente vira macho). Há pouco tempo entendi que não gosto muito de beber até ficar bêbado, gosto sim é de desfrutar do suave douro de um chope, ou beber uma cerveja uruguaia com os amigos. Isso é bom. Um vinho no inverno ao lado de uma boa companhia, arrebatando a noite com muita libidinagem. Isso sim é coisa boa, ficar bêbado não.
Tão cínico quanto um bêbado, ou quanto eu bêbado, é o ano novo. Esse sim é um hipócrita de meia tigela. Faz juras ao que passou e promete ser melhor no que virá, mentira! É tão mentira quanto a integridade no senado. O ano velho, que chega ao fim, é um pobre bode expiatório, e o ano que está por vir é a válvula de escape da humanidade.
Todo mundo quer o ano novo, todo mundo espera que seja diferente do ano que chega ao fim, esquecem-se de que ele é sempre igual. O ano que virá, escute bem, será igual a todos os outros que já passaram. Alegrias e tristezas, dinheiro e pobreza, amores e desamores, tudo igual. Todo os anos são assim.
É hipocrisia desejar um feliz ano novo, por que é possível que eu nem goste de ti, e como não estou bêbado, não faço questão te desejar tudo de bom. Se eu te encontrar depois da comilança e das dúzias de champagne, venha falar comigo, pois aí eu te desejarei tudo de bom.
O ano novo será igual, e é utopia achar que ele será melhor ou pior. Agora uma coisa é certa, quero que o ano novo seja novo, e sendo assim, espero que seja diferente dos outros anos. Ah, quer saber, quero mais é que o rabo de todo mundo pegue fogo, ao inferno com utopias, hipocrisias, e com o bom português. Feliz 2011 a todos, e isso me inclui. Que nos encontremos mais vezes no próximo ano, e que ele seja melhor do que o que já passou.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O Roubo do Sofá (parte quatro)


Em maio de 2009 dei início a uma série de contos intituladas: “O Roubo do Sofá”, fiz três capítulos da história e a abandonei. Hoje resolvi dar continuidade à história cujo início se faz presente nesse humilde blog, através do link: http://ah-poiseh.blogspot.com/2009/05/o-roubo-do-sofa-parte-1.html
Se quiserem conferir, fico contente.


- Acontece, meu bom rapaz, que a Denise sempre foi uma invejosa. Não admitia que eu, por ser alemã, fosse melhor sambista do que ela, que é negra. Dizia que eu anabolizava-me e por isso tinha tanta resistência. Fato é que no carnaval de 1971, Arroio Teixeira fez uma festa de carnaval estrondosa, da qual eu fui a rainha. E Denise naquela ocasião tentou assassinar-me. Era uma ordinária bandida aquela neguinha- começou Tia Rosmarie.
Quando a confissão de uma tentativa de assassinato foi feita, todos embasbacaram-se na sala. Denise havia tentado homicidar a Tia Rosmarie e isso não era algo bacana. Seria Denise a culpada pelo roubo do precioso sofá?

Rosmarie não tomou conhecimento de nossas caras de pavor e seguiu:
-Não que eu tenha me abalado quando aquela safada botou limão na minha capirinha, mesmo sabendo o quão alérgica eu era à fruta referida e ainda por cima alegou ter esquecido-se do fato. Aqui pra ela - nesse momento Tia Rosmarie bateu com a palma da mão esquerda em um orifício que ela mesma havia feito com o dedo indicador e o dedão da mão direita, como quem diz “pissa pra ela”, ato esse que mostrou o quão Tia Rosmarie era safadinha.

Teixeira interviu:
-Eu lembro disso, mas se não me falha a memória, ficou comprovado que a senhora havia simulado um mau súbito e que na verdade nem era caipirinha que tomava e sim uma bela de uma cerveja preta, Tia Rosmarie.

-Teixeira, seu velho cretino. Não fale coisas que não sabe. Acusaram-me de ter simulado, mas só eu mesma sei o que passei por causa daquela velha medíocre. E quer saber mais, vocês não estão me ajudando em nada. Apenas estão revirando um passado doloroso para mim. Ponham-se daqui para fora- gritou a velha empunhando uma empoeirada espingarda de tiros de sal que jazia escorada na parede até então.
Saímos sem pestanejar, pois todos sabíamos que Tia Rosmarie não esbanjava sanidade.

Sem o depoimento preciso da Tia Rosmarie, não teríamos como resolver o caso. Nos restava agora ir atrás do relato da Dona Denise, que poderia dar contundência às nossas suspeitas de que ela poderia estar por trás do sucedido. Encaminhamo-nos ao bar e quando lá chegamos, avistamos Monalisa correndo velozmente praia a fora, sem que ao menos no olhasse.
O bar estava fechado, mas quando chegamos mais perto, encontramos um bilhete amassado e embebido em água e areia molhada. Hermenes, que até então pouco havia aparecido na história, abaixou-se vagarosamente para junta-lo e quando o fez, desdobrou o papel com a mesma calma que usava para galantear suas fêmeas. No papel havia os seguintes dizeres:

“Se querem pistas, vão ao casarão”

...escritas numa caligrafia sem vergonha.