sábado, 13 de junho de 2009

O Roubo do sofá (parte 3)

Capítulo 3
A velha cabana

A casa da Tia Rosmarie era esquisita, não que fosse mal decorada, não era, porém, alguma coisa por ali era estranha, maus fluídos, quem sabe, ou apenas fluídos, alguma coisa não dava conta da normalidade. Ninguém nunca tinha entrado na casa da Tia Rosmarie para conversar, a casa dela era um segredo de estado, mais um dos tantos que habitam a mágica, proibitiva e surpreendente Arroio Teixeira.

Diversas fotos antigas circundavam as paredes, que eram de madeira, algo que lembrasse o rústico, mas não propositadamente, era o tempo (e os cupins) corroendo a madeira. O chão coberto de todos os mais variados tipos de tapete, onde instalamo-nos, na sala, o tapete era vermelho, com um xis preto, bem no meio, as pontas do xis estavam embaixo dos diversos sofás que a sala dispunha.

Tia Rosmarie estava desesperada, soluçava, balbuciava palavras indecifráveis, tal qual uma criança que aprendera a falar há cinco dias. Começamos, não com um motivo, menos ainda com eficácia, um interrogatório. O velho Teixeira começou, levemente embriagado:

- Rosmarie. Não é de hoje que conheço a senhora – Teixeira nesse momento rondou seu olhar pela sala, descontraiu-se, sua face era de pavor, quando retomou o assunto – aliás, Rosmarie, percebo o quanto estamos velhos. Há muitos e muitos anos que eu te conheço. Um velho não se deixa enganar com a facilidade de um jovem, já fui tolo Rose, se me permite, e saiba que aprendi com isso, portanto, farei perguntas e quero pura e simplesmente respostas.
Tia Rosmarie voltara subitamente a realidade e olhava para Teixeira com um ar assombrado, perplexa eu diria. Proferiu: - Teixeira, eu fui assaltada, não sou a suspeita.

Todo o ar de superioridade que Teixeira havia imposto na pergunta anterior, se desfez, a expressão confiante tornou-se instantaneamente desacorçoada e ele então defendeu-se com a frase que até hoje não me sai do pensamento. Um argumento inteligente, uma escapada triunfal, era esguio o Teixeira: - Ah, pois é – disse ele.

Interrompi o papo tão produtivo que tinham Teixeira e Rosmarie, começando a prestar maior atenção a detalhes da casa, e ai, não tive dúvida do quão nazista era Rosmarie. O junco que constituía o roda forro era todo marcado com pequenas suásticas. Diversas fotos de Hitler se espalhavam na velha cabana.
Seria possível que vi aquilo? Não, não seria. SIM, seria. É, eu vi aquilo. Meu deus, Tia Rosmarie abraçada a Hitler em uma foto.

- Rosmarie, todos sabemos, e aqui dentro, temos ainda mais certeza do quão a senhora é uma, por assim dizer, admiradora nazista. Todos sabemos também, que a dona Denise, uma senhora negra, quase que retinta, as senhoras nunca tiveram nenhum tipo de desavença? – perguntei.

- Meu rapaz, desavença nunca houve. Ela simplesmente não gosta de mim, são os fatos. Muito embora, em uma certa vez, tivemos uma pequena rixa, mas creio eu que já superada por ambas a partes.

Que rixa seria aquela? Teria motivado o grotesco roubo do sofá? Dona Denise seria capaz de cometer tal atrocidade? Descubra nos próximos capítulos.

sábado, 6 de junho de 2009

O roubo do sofá

Capítulo 2
Rosmarie, Tia

Eis uma parte interessante da história, Tia Rosmarie. Abrirei um capítulo a parte para que tenhamos uma breve aula de conhecimentos gerais sobre a mesma.

Rosmarie Frederich, 89 anos, viúva. Grau de insanidade elevado, jura que era amiga intima do ditador alemão Adolf Hitler. Certo é que esteve presente na Segunda Guerra Mundial, sendo deportada logo após o seu final. Motivos alegados para a deportação: crimes de guerra.

O destino nos escolheu. Dentre todo o turismo pujante teixeirense, nós que estávamos ali, quando a histérica saiu porta a fora aos berros, portanto, nós fomos enviados por alguma força maior, para de alguma forma - ainda que seja difícil encontrar em nós alguma serventia – ajudar, a Tia Rosmarie, solucionar um crime hediondo, com proporções catastróficas, e dimensões assaz destrutivas, que era o roubo do sofá.

O sofá era conhecido pela praia, arrisco-me a dizer que por todo litoral, é difícil achar que não tenha ouvido falar no famoso, misterioso, emblemático e confortável, é bom que se diga que é confortável além de tudo, um sofá tem que ser confortável, sofá da Tia Rosmarie. Sem dicas de decoração, seguirei a narrativa. O sofá da Tia Rosmarie é lenda, e como toda a lenda, por trás dele há uma história, ai vai:

“Era 30 de abril de 1945, A Segunda Guerra ia chegando ao fim. Os japoneses dali há alguns dias se renderiam, e Hitler sabia disso. Estava exausto, a guerra o havia afetado por inteiro, sua sede por poder o havia obcecado, a morte era o caminho mais fácil. Ainda assim, mesmo estando no bancker providenciado por ele, para os momentos mais fatídicos, não esquecia da bela moça loira que conhecera há semanas atrás. Rosmarie.
O fim se aproximava, as coisas não iam bem, porém, eis que desce as escadas, ninguém menos que ela, a musa, a deusa, o xodó de Hitler, Tia Rosmarie, ou melhor, Rosmarie, até então, só Rosmarie.
Sentaram-se ao sofá, onde ao que se sabe, se amaram, e ali o fim ia chegando"...O sofá que após muitos acabaria por ser roubado em Arroio Teixeira.

As reticências que botei ao final da lenda, não estão ali por acaso. Não se tem a clara certeza do que de fato aconteceu, o que se sabe é que há um algo mais nessa história, e assim que o desvendarmos a solução do crime estará por vir.

Após acalmarmos a Tia Rosmarie, entramos em sua casa, e iniciamos a conversa...

Continua nos próximos capítulos