terça-feira, 28 de julho de 2009

Oito amigos e um posto

Todas as sextas-feiras acontecia. Éramos pontuais, tanto quanto o inverno permitia. Não um inverno qualquer, mas sim um inverno maiúsculo, rígido e intenso. Assim sim era o inverno. Sentávamos todos ao redor da mesma mesa, no mesmo local.



Alguns a mais de oito, éramos no começo. O tempo, o trabalho e por vezes as mulheres, nos foram tomando alguns desses. Ao que no fim sobraram oito. Oito, número esse, que pode caber nas duas mãos que temos, friso que muitos de nós tem duas mãos. Cabem nas mãos, sem dúvida, mas ali, a amizade que fizemos, não limitou-se a caber dentro do coração. Muito além das fronteiras cardíacas ela passou, e transcorreu por todos os oito corações, que tenho certeza, acordam no mesmo sentimento.



Assuntos eram variados, invariavelmente o futebol era convocado. Gremistas, em sua maioria, os amigos discordavam, pois havia quem fosse colorado. Havia quem não fosse nem colorado, nem gremista, e só quisesse discordar, caso típico do Tiago.



Ah como sinto falta, mas não sinto falta só do Tiago. Sinto do Cristian, do Rodrigo, do Fábio, do Douglas. Sinto falta do Vinícius, do Gordo. Tento me lembrar do oitavo amigo, e me vem a mente que o oitavo era eu. Não que eu fosse muito significante, não era, mas se pudesse usar um espaço como esse, para dizer o quanto eu fui feliz com vocês, o faria. Penso já estar fazendo, e penso ainda que se cada um de vocês, meus amigos, lerem esse texto, me sentirei melhor.



Infelizmente uso esse tom nostálgico na minha narrativa, pois o tempo, cruel que é, foi nos separando. A gente vai crescendo, não que já não fossemos grandes antes – o Gordo que o diga - , mas muitos de nós cresceram profissionalmente e isso me conforta, outros cresceram intelectualmente, o que convenhamos não era difícil, outros ainda cresceram em ambos, e aí sim tiveram o que mereciam.



Sabe-se, ou eu sei, que sinto falta de todos vocês. Que as risadas que demos foram sinceras, e que os oito do posto nasceram ali, naquele postinho onde reinava o Bolão, mas o que ali foi construído é pra sempre, e transcende a delimitações das bombas de gasolina, e é levado aonde quer que eu esteja.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Orivan, o ex-monstro da ex-zaga

Após o primeiro toque na bola, eles entenderam: estavam diante de um craque. Os lances do Orivan eram mágicos, estupendos, coisa de gênio. O carrinho que dera em Oziel foi qualquer coisa de tirar o fôlego. Que jogador. Zagueiro para ninguém botar defeito.

Muitos dizem até hoje, que Orivan nasceu para ser craque, mas que no decorrer da vida, a carreira de caminhoneiro o chamou mais atenção, pois em primeira mão lhes digo; isso não passa de uma inverdade. E aqui, todos saberão a verdadeira história de Orivan, o zagueiro do caminhão:


O Ah poiseh divulga hoje, uma entrevista exclusiva que realizou com Orivan, o monstro dos gramados. O jogador, que atualmente mora no Acre,mas declara-se gaúcho de coração, embora quisesse ter nascido no Uruguai, ainda afirma ser gremista e revela o por que parou de jogar, e casos engraçados que aconteceram no campo, embora pra ele, futebol não seja uma piadinha.

Ah poiseh: Orivan, muitos dizem que tu foi o melhor zagueiro que já viram jogar. Era de fato assim, tão bom?

Orivan: Tu ta brincando, né? Tu ta de sacanagem? Vai tomar no seu c*” Eu não era bom, eu era fudido. Não passava ninguém por mim. Eu entrava no campo, e não via nada mais, a não ser os meus adversários. Neguinho não botava o pesinho na minha área. Uma vez me confundi e acertei o massagista.

AP: Como assim?

Orivan: Ah, o Mão-de-Fada (como era chamado o massagista do time), entrou no campo depois de uma contusão do Leal, meu companheiro de zaga. Só que eu não vi ele entrando. Achei que neguinho tava querendo se aproveitar do lance e cobrar falta rápida, entrei solando.

AP: E o que aconteceu?


Orivan: Não gosto muito de falar. Foi sem querer, sabe qual é, na minha zaga ninguém entra. O Mão-de-Fada teve que ir pro hospital, e hoje em dia o apelido dele é outro.

AP: Qual é o apelido?

Orivan: Pirata, por favor, não peçam o que aconteceu com a perna dele.

AP: Orivan, qual a real razão pra você ter parado de jogar futebol?

Orivan: Olha. Sabe como é a vida... (Orivan está emocionado)...ela me seduziu. Eu achei que com ela, eu não precisaria do futebol. Tinha tudo. Ela era apaixonante. Era linda, gostosa, charmosa, cozinha que era uma maravilha, lavava as roupas em casa, cuidava do lar. Só que no futebol, eu não tinha tempo pra ela. Ai, larguei.

Neguinho fica dizendo que eu preferi ser caminhoneiro. Não é isso, cara. Eu preferi a Marilene. Só que ela me ferrou. Emprenhou, e depois que eu larguei do futebol, fugiu com as cria, e com as minhas coisas. Não quero falar mais.

Orivan está chorando.

AP: Orivan, tu não quer mais falar sobre isso?

Orivan: Não. Mas eu te amo Marilene, volta pro Ori, vai. Já faz muito tempo. A gente pode ser feliz ainda.

Ta, é isso. Desculpa.

AP: Voltando à sua carreira. Em quais times tu já jogou?

Orivan: Comecei no 14 de Julho, de Livramento, depois, fui pro Gurani de Bagé, e quando eu estava sendo vendido pro Grêmio, ela apreceu. Sabe, era o meu sonho, sou gremista, todo mundo sabe, e acabei com tudo. Eu ia jogar com o Adilson Batista, por que foi la por 94 ou 95, não lembro.

AP: Tu ainda joga?

Orivan: Cara, olha pra mim. Eu sou gordo, grande, e tu não viu o pior. Vou te mostra minhas frieiras e minhas unhas do pé.

AP: Não, não. Não precisa, não faz isso...não, nãããão!


Ele tirou o chinelo havaianas que calçava, em seguida tirou a meia branca e realmente me mostrou o que eu hesitava em ver. Não tenho dúvidas que qualquer necrólogo sentiria náuseas em ver aquilo. Não vou me estender, pois a entrevista é de fato mais importante, além do que lembrar da cena me causa enjôo.

Orivan: Tu viu? Quer que eu jogue?

AP: Não, não, mas quero que tu ponhas a meia de volta.

Passado o susto.

AP: Conte-nos fatos engraçados que ocorreram dentro do campo.

Orivan: Futebol não é piadinha, guri. É isso que as pessoas tem que aprender. Vejo zagueiro de brinquinho por ai. Que isso? Zagueiro se pudesse, tinha que entrar de coturno no campo. Não com essas boiolagem. Não tenho histórias engraçadas, por que eu nunca fui palhaço, mas uma vez...não, deixa quieto.

AP: Pode contar, Ori.

Orivan: Que isso? Ori, só o que me faltava. Mais respeito.


AP: Desculpa.

Orivan: É que uma vez, levamos umas moças pra concentração. Mas isso foi la no 14 de Julho ainda. Na verdade, e concentração foi na casa do Dinélis Falcatrua, e a gente levou uma meia dúzia de puta pra lá. Mas sei la, se o Alçapão (técnico do time) não tivesse chego com a arma la, tudo teria dado certo, é uma pena pro Derlei, que acabou perdendo os ovos, mas enfim, né, nem todo mundo pode procriar. (risos).

AP: Muito obrigado Orivan, pela entrevista exclusiva que tu nos concedeu, esperamos que a tua história sirva de lição para muitos jovens que hoje pensam em jogar futebol.

Orivan: Beleza, então, fico feliz que eu possa ter exposto a minha história, é uma satisfação pra mim poder mostrar pra todos o que não se deve fazer quando se tem um sonho.


Orivan: Ta desligado já, né? Como é que fica aquela história da cervejinha que a gente combinou? Era duas caixas né?


AP: Isso, isso, o combinado era esse.


Orivan: Beleza, então, vai vir um pessoal aqui em casa e tal. Não quero decepcionar né.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Brilham mais ainda

Eu temia, aliás, temia e ainda temo por uma desagregação folclórica que se abata sobre nosso tão apaixonante solo pátria. Ouço histórias, e sempre às ouvi, de feitos passados, mas não de um passado assim tão distante, mas coisas que há poucos anos, ou muitos para os tempos onde a cada dois dias se lança um novo celular, histórias que me fazem ir além, ao imaginar como pessoas simples se faziam célebres e incontestavelmente populares.
Não uma, nem duas vezes, ouvi boatos sobre um senhor, que por volta das 15h, chegava em Porto Alegre, sentava-se em um balcãozinho, ali, naquele bar da Cidade Baixa, e tomava sua cachaça. Era calmo e tranquilo, tratava todos da forma como o tratavam sempre, com todo o respeito possível. Os cabelos brancos revelavam uma experiência que com palavras ele confirmava. Se perguntassem o nome, ele respondia: “Sou o Bezerra”. Insistindo no sobrenome, encolhia-se, talvez tímido, mas acho mais provável que fosse para manter-se anônimo em meio a tantos, e com o chapéu coco sombreando a face, respondia: “da Silva...Bezerra da Silva”.
O talento inegável de Bezerra, não era do tamanho da sua empáfia, Bezerra não à tinha. Colecionou, durante a vida, fãs, que além da morte ainda tem. A maior marca que alguém pode deixar para o mundo, é um legado pós vida. Bezerra o deixou.
O quão diferente um mundo dentro de seu contexto único é capaz de ser, compara a simplicidade, à excentricidade, e premia as duas. Não tem-se notícias de que o lendário rei do pop, Michael Jackson tenha sido, em qualquer momento de sua vida, uma figura simples, do contrário, era excêntrico, talvez perturbado pela ausência da infância a ele privada pela quantidade de talento que possuía.
Michael resolveu viver a infância que não tivera, após a suposta maturidade, não se faz cabível julga-lo, uma vez que jamais o faria. O que tenho a declarar, é que em um mundo onde tão poucos talentos surgem, e tanta porcaria é vendida, muito se perde ao calar da voz suave do astro mais excêntrico que o mundo já viu.
Michael agora é de fato o astro que sempre sonhou em ser. Porém, quando o quiseres ver, não se paga ingresso, não se move multidões, apenas, olha-se para o céu. A estrela que mais brilhar, tenha certeza, representa Michael. E quem sabe ao seu lado, discreta, mas sem menos brilho, esteja o não menos brilhante Bazerra da Silva.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

A síndrome da baleia

O Edgar cresceu sem nunca ouvir uma única opinião sobre sua vida sexual. Era ativa, uma vida sexual ativa, disso não se duvidava, porém, nunca uma mulher comentou com ele, qualquer coisa que fosse. Que dissessem então que era ruim, mas aquele silêncio, aquilo o incomodava. Fosse qual fosse a opinião, ele queria saber.
Estava tendo um casinho, como gostava de dizer, com a Joice, e seria ela quem diria a ele qual o seu desempenho embaixo dos lençois, ou em cima, ou em qualquer lugar que fosse. Ia perguntar, a Joice até hoje nunca lhe mentira. Queria uma avaliação. Isso, o seu diagnóstico sexual seria dado pela Joice, de forma única e definitiva.
-Joice, quero te perguntar uma coisa- proferiu suado, após uma sessão de sexo sem pudor.
- Pois, pergunte.
- Como eu sou na cama?
- Poxa, Ed, que coisa pra se perguntar.
- Quero saber. Preciso saber.
Joice notou o pingo de clemência que aquele “preciso” carregava consigo. Matutou. Como diria que o Edgar não era nem bom, nem ruim. Que dava pro gasto. Que não a faria ter orgasmos múltiplos, mas na maioria das vezes a fazia ter orgasmos?
- Diretamente? - ela perguntou
- O máximo possível
- Olha, não sei como descrever.
- Compare à alguma coisa.
-Ao quê?
- Não sei, a alguma coisa. Uma comida, um filme, um artista.
- Um artista, é uma boa!
“Um artista é uma boa”, pensou Edgar enquanto Joice preparava-se para descreve-lo. Torceu para que a moça dissesse que era um Brad Pitt do sexo. Ou ainda fosse pelo lado musical, gostava de jazz o Edgar. Quem sabe fosse comparado a Dave Milles. Quem sabe ela dissesse que era uma lenda da cama.
- Posso te comparar a um filme?
- Filme?
- É.
- Ta, pode.
- Free Willie – disse ela por fim, segura.
- Free Willie?
- É. Não que seja ruim. A maioria das pessoas até já viu. Mas não tem aquela emoção toda. Um filmezinho tranquilo.

Edgar foi-se embora sem olhar para Joice. E desde esse dia, tem aversão à baleias.