quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O Milagre de Natal

Enquanto o Natal não chegava, ela esperava ansiosamente. Era agosto quando avisaram qual o presente que ganharia no dia festivo e desde então, não coubera em si tamanho o entusiasmo, sem dúvidas seria o melhor presente que ela receberia na vida.
Seu quarto, desde então, fora seu melhor amigo, nele refugiava-se isolada, já ensaiando as ações do presente que em breve chegaria. Imaginava companheiros, afinal de contas, tal qual seu presente, não estava sozinha ali, mais 32 pessoas estavam com ela, e isso a confortava.
Do quarto saia apenas para ir para a escola. Sua mãe já estava preocupada, desde que a filha soubera, ficara assim, diferente. Era normal, afinal de contas, não era um simples presente, era o melhor presente que ela receberia na vida, mas mesmo assim era preocupante.
Os dias passavam devagar, arrastando cada segundo. Cada hora alongava-se por uma eternidade, e por mais que houvesse em sua voz, segurança, no escaninho mais reservado de seu âmago, temia que fosse tarde, ou que o tempo parasse, e o presente não viesse mais.
Certo dia, na aula fizera um texto: “Meu Presente de Natal”, era o nome. Texto esse, que deixou claro para toda turma que ali estava uma sortuda, ninguém ganharia um presente como o dela. Jamais ganhariam, em tempo nenhum.
Já era novembro, os colegas haviam esquecido, mas em sua memória estava fresca a lembrança do Natal. Não aguentava mais a espera. Queria seu presente e queria agora. As lágrimas de fúrias, as lágrimas da espera, brotaram-lhe na face, mas com um simples afago e o seguinte dizer: “mais um mês, minha filha, mais um mês”, sua mãe a acalmou.

Dezembro chegou! Finalmente dezembro chegou. O dia 24 se fazia radiante e ela tremia enquanto esperava na porta o presente chegar.
A testa enrugada, as sobrancelhas baixas, demonstravam que a espera mais uma vez a irritava, mas aquele era um dia de alegria. Depois de muito tempo ele voltaria, depois de toda a espera, dali a minutos ele estaria ali.

O momento chegou. Ele cruzou a porta sozinho, não era o que ela esperava, estava mais magro, machucado, mas ainda assim abaixou-se e com um sorriso enorme no rosto a abriu os braços esperando que ela corresse e fosse o abraçar. Ela o fez. O abraço durou minutos, mas em sua essência equivaleu a todo o tempo de espera. Mais uma vez as lágrimas vieram. Dessa vez a inundaram a face, e a de seu presente.


Terminado o abraço, o presente a olhou fundo nos olhos e disse: “minha filha, que saudades!”.
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MILAGRE NO CHILE
Resgate previsto para o Natal
Ontem, os mineiros começaram a receber alimentos e remédios por um pequeno duto
Passada a euforia da descoberta de que estão vivos os 33 mineiros há 19 dias presos numa mina perto de Copiapó, no Norte do Chile, começa o longo período de resgate, que pode ser concluído perto do Natal.

Para manter os trabalhadores vivos e em bom estado de saúde até lá, começou ontem uma operação para enviar alimentos aos trabalhadores, que resistem a aproximadamente 700 metros abaixo da superfície, num ambiente sem luz a 33ºC.

O único ponto de contato dos mineiros com os socorristas é um pequeno duto, pelo qual foram enviadas, em um cilindro, pequenas doses de água junto a um medicamento para revestir o estômago e um manual de instruções para sua ingestão. Também serão enviados alimentos em forma de gel, junto a outros utensílios importantes, como lanternas e um pequeno equipamento de comunicação. Foi estabelecido um sistema de comunicação com o grupo, pelo qual se informou que todos os trabalhadores estão bem, com exceção de um que sofre de problemas estomacais.

“O processo de alimentação deve ser muito cuidadoso. Os produtos deverão ser enviados pouco a pouco”, explicou o ministro da Saúde, Jaime Mañalich.

Junto com o drama do confinamento está a longa tarefa da retirada do grupo. O coordenador das equipes de resgate, André Sougarret, informou que será utilizada uma máquina de perfuração vertical de origem sul-africana, similar à utilizada para fazer o pequeno duto de comunicação. (Zero Hora-25.08.10)

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