segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Nas areias Curumins

Era noite de revellión e como sempre, Armindo ziguezagueava pela areia fria de Curumim. Mais uma vez ele estava embriagado, e carregava a garrafa de champanha, autora de sua alteração, firme junto à mão direita. Há 15 anos era assim, toda virada de ano, Armindo passava ali, na beira da praia de Curumim, em busca de menina loira que há tanto tempo tomara-lhe o coração em uma simples tragada e jogara-o fora, sobrando pouco mais que cinzas do pobre Armindo. Desde então, é tarefa de honra, encontrá-la mais uma vez, nem que seja para que tenham mais uma noite de amor praiano, e possam rolar por mais algum momentos naquela areia gelada, lembrando dos prazeres de outrora.
Ao longe, uma luz bruxuleante move-se com graça, mostrando haver vida inteligente, ou ao menos vida humana naquela faixa de areia, Armindo não está só. Seria ela? Seria a Cibele, aquela moça loura que lhe roubou o coração dando-lhe em troca prazeres carnais inimagináveis? Armindo daria todo seu dedo mindinho da mão direita, desde que pudesse segurar a garrafa de champanha com os outros quatro, para que fosse. Queria do fundo do seu coração encontrá-la lá, e esperava que aquela luz a trouxesse consigo, nua e devastadora.
- Aproxima-te luz! Vem a mim e mostra-te por completo. Se és minha amada então que corra até meus braços e neles permaneça ainda que por um breve instante, pois tenho certeza que em minha memória esse instante terá a duração de uma vida. - sim, o Armindo quando bebia virava um poeta tão distante daquele simples vendedor de carros usados que ele era durante o ano.
A luz aproximou-se, cada vez mais depressa e cresceu. Virou um farol, depois dois, e depois cinco caras montados em uma camionete, e mais duas meninas loiras, mas nenhuma delas lembrava sequer nas madeixas capilares a deslumbrante loira que Armindo possuíra a poucos metros dali há tantos anos.
Passaram por Armindo e riram dele. Riram da desgraça do pobre infeliz, ali do alto da luxúria em que estavam. Quase todos nus, no topo daquela Hilux, achincalharam o miserável Armindo que nada mais queria do que ter de novo Cibele em seus braços. Atiraram cerveja nele, que tal qual um cachorro assustado fugiu para o mar, pronto para dar aquele que seria o último mergulho de sua vida. Correu como um louco corre ao encontro do fim. Como corre aquele que não mais espera da vida o que ela de fato poderia lhe dar. Correu rumando encontrar um desafogo para dor que lhe assolava o peito. E foi.
-Armindo! Não esperei que te veria após tantos anos – gritou uma voz errante, que vinha das profundezas do mar Curumim.
-Cibele, és tu, princesa de minha existência? Dona deste pobre e desgraçado coração?
- Sim, sou eu Armindo, ó poeta do mercado automotor. Ó amante da doce luxúria. Ó tesão de homem com o qual sonhei por todo o sempre.
- Por onde andaste, minha querida, que por toda essa Curumim tenho te procurado desde quando a possuí bem aqui, na beira desta praia?
- Meu querido desgraçado. Comeste-me em Arroio Teixeira, e foi lá que o procurei durante todos esses anos.
E foi ali na areia de Curumim que Armindo possuiu Cibele pela segunda vez. Ou teria sido em Arroio Teixeira? Ah, sei lá. as duas praias são a mesma coisa, e a champanha sempre me exerceu um efeito assustador.

Um comentário:

Marcio Nicolau disse...

ge-ni-al!!!

Inebriante o texto. Parabéns.