sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Efeito Inseticida

Certa feita, quando voltei no tempo, mentalmente, refleti, analisei os fatos e me encarreguei de pensar como uma terceira pessoa. Pensei, como se o eu, fosse outro, e como se o outro não fosse eu. Tamanha minha surpresa, depois de criar minha própria linha cronológica, uma linha que fosse traçada com todo o cuidado de quem faz uma cirurgia em si mesmo, correndo o risco de com um corte errado, acarretar desproporcionais danos e modificar toda uma história, e percebi, o quanto somos frágeis, o quanto uma escolha que julgamos equivocada em alguma ocasião passada, poderia ter-nos mudado a vida.
Assim, pus-me a interpretar se, em alguma hipótese remota, mesmo sendo um assunto batido, eu pudesse voltar no tempo, e me remetesse a alguma situação onde a vida pôs-me em frente a uma bifurcação cotidiana. Se, eu tivesse tomado o caminho da esquerda e não o da direita, onde eu poderia estar agora? Tudo poderia ter dado certo. Ou até mesmo tudo poderia ter dado errado.

Pensando assim, lembro-me da história que me contou o Tadeu, numa certa noite de Révellion. Estávamos sentados, a beira da praia, num barzinho qualquer. Tomando a nossa cervejinha. Dentro de 3 horas o ano novo estaria chegando. O Tadeu era um cara excepcional, com uma alma nobre, porém, suas histórias, eram um tanto quanto absurdas.
-Sabe, Ricardo- Me disse ele- Certo dia, eu estava em casa, e não lembro-me como, comecei a devanear em meus pensamentos, ali, sentado no meu sofá, pus-me a viajar, fui longe. Quando dei por mim, estava na minha cozinha, de pé, com a porta do refrigerador aberta.
-Tu é sonambulo Tadeu? - perguntei à ele.
- Não cara, deixa eu terminar. Estava la, com a geladeira aberta. Quando, de repente, sem nenhuma explicação lógica, fui sugado, sem a mínima chance de defesa, viajei por um túnel iluminado. Te juro, cara, que achei que estava morrendo.

Nessa parte, eu não me contive, o interrompi as gargalhadas.
- É sério, escuta só. De repente, eu estava há 10 anos atrás, no exato dia em que conheci a Lúcia. Me senti ridículo, com aquelas roupas feias, da década de oitenta. Mas de todo modo, eu estava ali, parado, a mesa daquele bar, tomando meu drink, quando vi ela, ali, dançando. Cara, tudo igual a como foi.
- Tadeu, tu está usando drogas cara?
- Já te falei, escuta. Vi ela ali, e tomei uma decisão. "Não vou estragar toda a minha vida de novo. (Mais uma vez eu o interrompi aos risos)- É cara, não quero filhos, não quer ter que sustentar uma casa, nem muito menos ter que dar explicação da minha vida pra ninguém.
- Tu não está falando sério né Tadeu? Tu sonhou?
- Espera. Eis que, eu deixei a Lúcia la, dançando, e outra pessoa se aproximou dela. Era o Elias, cara, o Elias, meu amigão. E a safada beijou ele. Não que eu estivesse espionando os dois, mas pude ver os dois saindo de mãos dadas de lá. Cara, ele levou ela embora. Ah não, entrei num taxi, e disse: "Motorista, siga aquele carro" (cena de filme). Tu não vai acreditar, Ricardo. Eles foram pra um motel. Cara, o que é isso. Me botei, pedi pro taxista entrar com o carro no motel. A recepcionista nos olhou meio desconfiada, mas deixou a gente entrar.

Nisso, o Tadeu parou de falar, e se perdeu em mais pensamentos, parou, pensou, refletiu e por fim falou: -Será que ela achou que a gente era veado? Puxa cara, nem tinha pensado nisso. Mas também, não vem ao caso agora. O certo, é que, dali onde eu estava, escondido atrás de uma folhagem, eu vi os dois, o Elias, aquele mau caráter e a Lúcia entrando no quarto do motel.

Eu estava ali, agora quieto, só ouvindo e vez que outra soltando gargalhadas.
- Bati na porta do quarto dos dois, ela me atendeu cara, de calcinha e sutiã, já era sem vergonha naquela época cara. Bom, eu disse que trabalhava no motel, e tinha ido la, por que ia fazer uma detetisação no quarto. Tá, eu sei que é tosco, mas foi a única coisa que eu pensei no momento. Os dois não acreditaram muito na minha história. Ficaram lá, me olhando, como se eu estivesse louco, imagina, eu louco? Nunca. Não queria sair, o Elias disse que se tivesse que ser envenenado, que fosse enquanto estava ali com a Lúcia, o desgraçado tentando agradar. Não resisti, contei tudo. Disse que eu era, e o que estava fazendo ali. Falei, que EU era o marido dela, e que o Elias era, mas só era meu amigo. Eles riram cara, riram de mim. Mais uma vez acharam que eu tava louco. Ai, eu tive que apelar.
-O que tu fez Tadeu?
- Contei tudo cara, o que eu sabia sobre a vida da Lúcia. Perguntei pra ela como eu saberia que ela não consegue dormir sem meias, se eu não a conhecesse. Como saberia que ela tem vontade de ter dois filhos, um com o nome de Luca, e outro de Carlo, como eu saberia que ela tem um sinal de nascença na virilha. Como eu saberia de tudo isso se não a conhecesse?-Ela ficou boquiaberta cara, e saiu correndo.

Depois de uns dois dias, eu fui atrás dela, na casa onde ela morava, ali, conversei com ela. Expliquei tudo e cara, ela me entendeu. Beijei ela muito, e ali, nos amamos, se é que tu me entende.
- Cara, me desculpa, mas não acredito nessa história- eu disse pra ele.
- Quando voltei a realidade, estava de novo no sofá, a Lúcia ali, de meu lado, e paralisada, como eu. Em um súbito, ela voltou ao normal. E me disse: "Tu não vai acreditar no sonho que eu tive".

Depois de ele ter me dito isso, as coisas mudaram de figura, então, eu perguntei pra ele:
- Cara, mas se tu disse que não queria estragar tua vida, por que fez isso?
A resposta dele foi impressionante:

- Ricardo, tu sabe que eu sou um grande amigo, não queria estragar a minha vida, mas também não ia deixar o Elias estragar a dele né.

3 comentários:

Unknown disse...

Bá primo, adimito que teve partes que eu tive que ler mais de uma vez, sabe como é né! Mas olha, meus parabéns, adorei a história e a lógica dela no final! Se tudo isso realmente ocorreu, lição de vida!! Escreves muito bem Dinho! te amo, beijos

Unknown disse...

É, realmente uma boa lição. O fim diz tudo, e, simpatizei com o Tadeu :) Adorei teus textos queridoo, me fizesse gostar de ler, hehe. Beibeijo :D

ASObr Admin disse...

conforme citado anteriormente pela Lara, tambem me fizeste um admirador da literatura... cara... querendo ou não, tu jah eh um heroi literário.. heuiheiue