domingo, 10 de março de 2013

Vamos Viver Nossos Sonhos, Temos Tão Pouco Tempo








O tempo, que a tudo aterra, atirou a última pá de cal na minha adolescência não tão longínqua, tão logo morreu Chorão da banda Charlie Brown Jr. Enquanto o mundo olha para a morte do Presidente venezuelano, eu aqui, em minha humilde insignificância chateio-me muito mais com a notícia do óbito desse que considero um poeta.


Durante muito tempo fui fã da banda cujo vocalista partiu sem mais nem menos e sem sequer se despedir. É bem verdade que com o ingresso na vida adulta, deixei pra trás tal predileção, como sempre deixamos as coisas da adolescência, mas tal qual o primeiro amor, aquilo que fez parte tão intensamente da nossa vida, enquanto jovens, permanece para sempre circunscrita no coração, como uma tatuagem forja uma marca eterna na pele.


Nós que já tivemos Raul, nós que já perdemos Cazuza, Renato Russo, nós que já criamos e enterramos tantos poetas, perdemos mais um. Sei que, possivelmente, considerar-me-ão um acéfalo por julgar Chorão um poeta, mas convido a quem, por ventura pense assim, a escutar algumas das canções menos populares do falecido. Canções como “O Preço”, como “Lugar ao Sol”, entre outras são verdadeiros exemplos de que realmente, em tempos de “Lek, Lek” e do sertanejo universitário, perdemos uma daquelas pessoas que gostaria de mudar o Brasil, algo que a cada dia rareia mais.


Cada parágrafo do texto que escrevo – e que agora tu lês – é norteado por uma canção do Charlie Brown, e são tantas passagens incríveis que penso, deixando pra lá tudo o que de errado Chorão já fez, que a geração que cresceu ouvindo Charlie Brown criou-se mais engajada, mais politicamente atuante, menos acomodada do que uma geração que vejo agora dançando e ouvindo a volumes execrantes músicas sem sentido e sem moral.


Não valho-me desse espaço para julgar e sequer condenar alguém, valho-me sim dele para dizer que essa perda levou consigo a trilha sonora da minha juventude, porém, como quem realmente faz valer sua estadia na Terra deixa seus rastros, o Chorão se foi, mas suas músicas seguirão tocando no meu player, seja com a idade que for, ouvir Charlie Brown me traz um bom sentimento, nostalgia quiçá, porém, acredito ser muito mais provável que seja realmente alguns ensinamentos que o mestre Alexandre Magno Abrão, que é esse o verdadeiro nome dele, deixou. Uma dessas mensagens está presente na música “Como Tudo Deve Ser”, que diz: “Vamos Viver Nossos Sonhos, Temos Tão Pouco Tempo”.
Assim sendo, viva seus sonhos, companheiro, afinal de contas, eu, tu e todos os outros temos tão pouco tempo, menos tempo talvez do que a minha já falecida e enterrada adolescência.



Só o que é bom dura tempo  bastante pra se tornar inesquecível: vai com Deus Chorão!



4 comentários:

Rosangela disse...

Incrível o sentimento que você conseguiu transmitir com tão lindas palavras! Parabéns!

ASObr Admin disse...

Já li esse texto umas três vezes e a cada leitura, percebo detalhes diferentes e ricos na tua forma de escrita. Como sempre digo, tenho orgulho de ti por esse talento, meu caro.
P.S. A foto dos cds, sobre a luminária e em forma de cruz, ficou fantástica. Parabéns ;)

Ricardo Bertolucci Reginato disse...

Rosangela!
Que bom que sentiste a vibração do texto. É preciso usar das palavras para despertar sentimentos que muitas vezes estão em sono profundo.
Obrigado

Ricardo Bertolucci Reginato disse...

Fredi, meu príncipe! hahaha.
Obrigado por mais um comentário por aqui.
O texto foi feito meio às pressas, porém com muito sentimento, o que o torna um tanto quanto arrebatador.
Agradeço pelos elogios e da mesma forma orgulho-me em ser teu amigo.

Abração