sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A maior sacanagem do mundo



Toda maldita vez em que estava em reunião aquele ordinário aparelho telefônico tocava desesperadamente, como se fosse a última vez em que tocaria em toda a sua porca existência. Acontece que o Aquiles não sabia colocar aquela porcaria no silencioso. Toda vez era alguma mensagem da operadora, lhe informando que a recarga premiada poderia lhe render prêmios maravilhosos, como um liquidificador, uma batedeira e um aquecedor a óleo.
Dessa vez não era. O Aquiles pegou aquele celular com a mesma gana que pegava toda vez que ele tocava quando estava em frente ao seu chefe. A reunião não era das mais importantes, e então, olhando de soslaio para o chefe, resolveu ler a mensagem:
“Oi linda! Lembra de mim? Nos conhecemos na festa do Harry. Tu me deu teu celular e resolvi te mandar essa mensagem”.

Pobre diabo, pensou o Aquiles, foi logrado pela moça. E aos diabos se o Aquiles pensou em poupar o pobre desgraçado. Tantas vezes fora alvo de chacota que agora, pelo sangue de Deus, ele iria se vingar. Enquanto o gerente de contas apresentava o relatório da semana, Aquiles valeu-se da habilidade que tinha naquele teclado touchscreen de tanto jogar Angry Birds. Respondeu:

“Oi amor! Eu realmente estava com saudades. Nos divertimos muito aquele dia na festa, né? Beijos”.

Que filho da puta era o Aquiles, e a sensação de ser um filho da puta era fantástica. Sentia-se o maior vigarista do mundo e era tão bom. Depois de enviar a resposta, apagou a mensagem recebida para que não houvesse dúvidas sobre sua sexualidade.

A reunião terminou e nada do amante responder. Aquiles saiu do trabalho e rumou até a academia. Lá quase veio ao óbito ao correr 16 quilômetros na esteira, e realmente quase infartou quando a loira mais sensual de toda esfera terrestre resolveu balançar aqueles rijos seios apertados em um minúsculo top cor de rosa, justo na esteira da sua frente. Cada passado dado era uma sacudida naqueles deliciosos gêmeos e aí, antes que efetivamente desmaiasse (por causa da corrida e da loira), foi-se embora.

Nada de mensagem.

Chegou em casa já tirando a roupa suada e declarando:
“Oi amor. Vou tomar uma boa ducha”.

Subiu as escadas ouvindo sua amada esposa responder que tudo estava bem.

Deixou suas coisas todas no bidê ao lado da cama e rumou ao chuveiro. Quando o primeiro jato d'água atingiu seu dorso, assustou-se ao perceber que sua mulher estava no banheiro e perguntava: “amor, tu lembrou de pagar a escola das crianças, né?”.

Claro que ele lembrara, Aquiles jamais esquecera-se de pagar.

“Lembrei amor, é claro”.

A mulher do Aquiles, Dandara, era completamente apaixonada por ele. Faria qualquer coisa pelo homem da sua vida, porém, era deveras ciumenta. Não permitia qualquer deslize na vida conjugal do marido e até então, em mais de doze anos de casamento, ele havia sido exemplar.

Enquanto descia as escadas para terminar de preparar a jantar, Dandara escutou o esganiçado toque do celular de Aquiles e resolveu checar apenas por descargo de consciência. Era uma mensagem.
Um número desconhecido.

“Realmente nos divertimos, adorei passar aquele tempo contigo e gostaria de te ver novamente. Amanhã à noite, que tal? Te espero em frente ao parque do centro”.

O filho da puta, brocha do Aquiles estava lhe traindo. Isso não ficaria assim. Dandara pegou o telefone e respondeu: “Combinado, nos encontramos lá”.
É claro que em seguida, Dandara apagou a mensagem enviada e terminou a janta.

Quando saiu do banho, Aquiles sentia-se renovado. Foi até o bidê e resolveu analisar se não havia nenhuma mensagem nova: havia. O cara perguntava se não poderiam marcar um encontro em frente ao parque. É claro que poderiam, Aquiles queria ver a cara do panaca.

No dia seguinte, ao começar da noite, Aquiles, o tonto e Dandara esperavam-se mutuamente, cada um num lado do parque.

Dandara estava escondida dentro de um carro alugado de vidros escuros, estacionado bem em frente ao parque.

Aquiles escondera-se atrás do tronco de uma árvore, enquanto seu filho, o Júnior, prestas a fazer 16 anos, acabara de desembarcar do ônibus e sentava-se no banco em frente ao parque.

Tão logo avistou seu filho, Aquiles achou que o Júnior pudesse ter lido a mensagem em seu celular e estivesse ali para espionar o pai, porém, o escrachamento da postura do filho revelara o mais óbvio: Aquiles havia sido filho da puta com o seu próprio filho, o que revelava que aquiles não era um simples filho da puta e sim o maior filho da puta de todos os tempos.

Passados dez minutos Dandara saiu de dentro do carro e aí sim Aquiles desabou.

“Meu filho, o que tu estás fazendo aqui?”

“M...m...mãe?! Eu estou, hm, estou...”

“Tens um encontro, Juninho?”

“É, eu tenho, mas acho que levei um bolo”.

Agora tudo fodera de vez e Aquiles precisava dar um jeito logo naquilo. Pensou rapidamente e chegou a solução mais óbvia do mundo e que qualquer homem no seu lugar faria: fugiu.

Acontece que enquanto corria para longe daquela confusão, ouviu o grito de Dandara: “AQUILES!”.

Como que desentendido, Aquiles virou-se e “surpreendeu-se” ao ver sua mulher e filho.

“Meus amores, o que fazem aqui?”

“Teu filho marcou um encontro contigo, Aquiles”.

Naquele momento, Aquiles entendera que ser filho da puta realmente não era sua função predestinada. Depois daquele dia, o Juninho envolveu-se com crack, Dandara respondera a um processo por espancar seu marido, e o Aquiles...ah, o Aquiles passado dias enfartou em frente à academia, quando a loira da esteira mandara-lhe uma mensagem:

“Podemos nos encontrar em frente ao parque do Centro?”.

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