segunda-feira, 2 de maio de 2011

As indiretas para Alice

Um ponto de exclamação. Era evidente que a frase terminara com um ponto de exclamação. Pro Paulo Roberto, aquele ponto fazia toda a diferença. Do alto do metro e dez de pernas torneadas, da fina cintura, do busto farto e despejado daquela linda boca carnuda, aquele ponto de exclamação só poderia conter segundas intenções.
- Me dá uma carona, Paulinho?, ela perguntara.
- Claro, Alice. Vais pra onde?
- Como pra onde, vou para o Botafogo, claro!
“Pro Botafogo, claro!”, ali estava ele, o ponto de exclamação, no final do Botafogo. Se fosse o bairro, pura e simplesmente, ela não teria exclamado, teria quando muito afirmado que queria uma carona, homens não negam pedidos para donas de pernas de um metro e dez. Mas o ponto de exclamação continha um algo mais.
Todos sabem, há o Motel Botafogo, é consagrado é um bonito motel. Alice só poderia estar finalmente cedendo às tentativas até então frustradas do Paulo Roberto. Era a explicação mais plausível.
O destino era incerto, bairro ou motel, mas de qualquer forma o motel Botafogo fica no bairro Botafogo e para lá que Paulo Roberto rumaria, levando em seu carro aquela exuberante loira dourada, das pernas torneadas e da cintura fina e...enfim, aquela loira pra lá de adjetivada.
O percurso não era lá dos maiores, e Paulo tinha pouco tempo para sanar as dúvidas que aquele ponto continha. Era tudo ou nada, partiria para cima da Alice ainda hoje.
Ainda no escritório, quando deu 18h, Paulo procurou Alice, pois ambos teriam que rumar estacionamento, que era no subsolo do prédio, e carinhosamente chamado pelos funcionários como “buraco”. Paulo proferiu, tateando Alice, claro:
- E ai, te pego no buraco?
- Sim, Paulinho, acho que vamos juntos, né!?
- Isso, vamos juntos.
Pronto, o primeiro tiro acertou o alvo, mas a dúvida ainda era frenética no âmago de Paulo. Precisaria de mais do que aquilo para não errar o pulo ao encaminhar-se ao Motel Botafogo.
Foram até o “buraco” de elevador, então Paulo teve outra ideia.
- Não gosto de descer no elevador. Prefiro subir. Tudo gosta quando sobe, Alice?
- Ain, Paulinho, pra mim tanto faz. Gosto de qualquer jeito.
E agora! Essa frase deixava tudo no ar. Seria um joguinho de palavras da Alice, ou ela nem ao menos teria entendido a indireta? Mais perguntas deveriam ser feitas.
Chegaram ao “buraco” e foram adentrando no carro de Paulo, um Xsara Picasso. O carro jogava no mesmo time de Paulo. Picasso.
- Gostou do meu carro novo, Alice? Comprei zero quilômetro.
- Muito bonito, Paulo. É grande, gosto de carro grande.
- É, realmente o Picasso é grande.
- Sim, eu percebi. Queria ter um assim pra mim.
Bola dentro. Ela estava dando indícios de que o caminho era o Motel.
Agora era tudo ou nada, três chutes, dois gols e uma bola na trave, o Paulo Roberto precisava ter certeza do interesse de Alice em desfrutar de seu corpo, mas a última atirada de Paulo Roberto desmoronou tudo.
- Onde mesmo temos que ir no Botafogo?
- Ué, eu moro lá, Paulinho. Quero ir para a minha casa.
Acabou tudo. Paulo fora vencido pela loira das altas pernas, do corpo dourado, da cintura fina, do busto farto, dos adjetivos, enfim...fora derrotado por Alice. Ela morava com os pais e se queria ir para casa, isso significava o fim.
Ele pensara em largar da mulher, deixar os filhos, só para viver um romance no qual tivesse como par a Alice. Tudo fora abaixo. Seus sonhos de viver essa aventura foram jogados ao vento com essa simples frase.
Concentrou-se na pista e apenas ouviu as instruções de Alice sobre como chegar na sua casa.
Enfim chegaram, e um desolado Paulo Roberto apenas olhou para Alice e balançou positivamente a cabeça como quem diz “está entregue”.
Ela fitou-o do banco do carona. Olhou-o como olha uma cadelinha no cio para o cão que a corteja. Paulo não deu bola.
Antes de sair do carro, ela disse:
- Obrigado, Paulinho. Agora que já sabe onde é minha casa, pode vir mais vezes. Beijinhos.
Ao fim do encontro, o pensamento de cada um:
Paulo:
“Como assim visitar mais vezes?”, “ela quer que eu volte?”, “mas e os pais dela?”. “Ai céus, que mulher complicada”.
Pensamento da Alice:
“Ai, odeio homem que não se dá conta!”. “Será que eu deveria ter dito que não moro mais com os meus pais?”.

3 comentários:

Vinícius Schneider disse...

Se ela ao menos o convidasse pra um café.
Coitado do homem Alice!

Márcia disse...

Gostei messsssmo foi da sua tatoo. O texto...digamos..imaginativo. I'll be back.

Amanda Lemos disse...

Muito interessante o blog !
Deixo o meu aqui caso queira dar uma olhada, seguir...;

www.bolgdoano.blogspot.com

Muito Obrigada, desde já !