sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A maior sacanagem do mundo



Toda maldita vez em que estava em reunião aquele ordinário aparelho telefônico tocava desesperadamente, como se fosse a última vez em que tocaria em toda a sua porca existência. Acontece que o Aquiles não sabia colocar aquela porcaria no silencioso. Toda vez era alguma mensagem da operadora, lhe informando que a recarga premiada poderia lhe render prêmios maravilhosos, como um liquidificador, uma batedeira e um aquecedor a óleo.
Dessa vez não era. O Aquiles pegou aquele celular com a mesma gana que pegava toda vez que ele tocava quando estava em frente ao seu chefe. A reunião não era das mais importantes, e então, olhando de soslaio para o chefe, resolveu ler a mensagem:
“Oi linda! Lembra de mim? Nos conhecemos na festa do Harry. Tu me deu teu celular e resolvi te mandar essa mensagem”.

Pobre diabo, pensou o Aquiles, foi logrado pela moça. E aos diabos se o Aquiles pensou em poupar o pobre desgraçado. Tantas vezes fora alvo de chacota que agora, pelo sangue de Deus, ele iria se vingar. Enquanto o gerente de contas apresentava o relatório da semana, Aquiles valeu-se da habilidade que tinha naquele teclado touchscreen de tanto jogar Angry Birds. Respondeu:

“Oi amor! Eu realmente estava com saudades. Nos divertimos muito aquele dia na festa, né? Beijos”.

Que filho da puta era o Aquiles, e a sensação de ser um filho da puta era fantástica. Sentia-se o maior vigarista do mundo e era tão bom. Depois de enviar a resposta, apagou a mensagem recebida para que não houvesse dúvidas sobre sua sexualidade.

A reunião terminou e nada do amante responder. Aquiles saiu do trabalho e rumou até a academia. Lá quase veio ao óbito ao correr 16 quilômetros na esteira, e realmente quase infartou quando a loira mais sensual de toda esfera terrestre resolveu balançar aqueles rijos seios apertados em um minúsculo top cor de rosa, justo na esteira da sua frente. Cada passado dado era uma sacudida naqueles deliciosos gêmeos e aí, antes que efetivamente desmaiasse (por causa da corrida e da loira), foi-se embora.

Nada de mensagem.

Chegou em casa já tirando a roupa suada e declarando:
“Oi amor. Vou tomar uma boa ducha”.

Subiu as escadas ouvindo sua amada esposa responder que tudo estava bem.

Deixou suas coisas todas no bidê ao lado da cama e rumou ao chuveiro. Quando o primeiro jato d'água atingiu seu dorso, assustou-se ao perceber que sua mulher estava no banheiro e perguntava: “amor, tu lembrou de pagar a escola das crianças, né?”.

Claro que ele lembrara, Aquiles jamais esquecera-se de pagar.

“Lembrei amor, é claro”.

A mulher do Aquiles, Dandara, era completamente apaixonada por ele. Faria qualquer coisa pelo homem da sua vida, porém, era deveras ciumenta. Não permitia qualquer deslize na vida conjugal do marido e até então, em mais de doze anos de casamento, ele havia sido exemplar.

Enquanto descia as escadas para terminar de preparar a jantar, Dandara escutou o esganiçado toque do celular de Aquiles e resolveu checar apenas por descargo de consciência. Era uma mensagem.
Um número desconhecido.

“Realmente nos divertimos, adorei passar aquele tempo contigo e gostaria de te ver novamente. Amanhã à noite, que tal? Te espero em frente ao parque do centro”.

O filho da puta, brocha do Aquiles estava lhe traindo. Isso não ficaria assim. Dandara pegou o telefone e respondeu: “Combinado, nos encontramos lá”.
É claro que em seguida, Dandara apagou a mensagem enviada e terminou a janta.

Quando saiu do banho, Aquiles sentia-se renovado. Foi até o bidê e resolveu analisar se não havia nenhuma mensagem nova: havia. O cara perguntava se não poderiam marcar um encontro em frente ao parque. É claro que poderiam, Aquiles queria ver a cara do panaca.

No dia seguinte, ao começar da noite, Aquiles, o tonto e Dandara esperavam-se mutuamente, cada um num lado do parque.

Dandara estava escondida dentro de um carro alugado de vidros escuros, estacionado bem em frente ao parque.

Aquiles escondera-se atrás do tronco de uma árvore, enquanto seu filho, o Júnior, prestas a fazer 16 anos, acabara de desembarcar do ônibus e sentava-se no banco em frente ao parque.

Tão logo avistou seu filho, Aquiles achou que o Júnior pudesse ter lido a mensagem em seu celular e estivesse ali para espionar o pai, porém, o escrachamento da postura do filho revelara o mais óbvio: Aquiles havia sido filho da puta com o seu próprio filho, o que revelava que aquiles não era um simples filho da puta e sim o maior filho da puta de todos os tempos.

Passados dez minutos Dandara saiu de dentro do carro e aí sim Aquiles desabou.

“Meu filho, o que tu estás fazendo aqui?”

“M...m...mãe?! Eu estou, hm, estou...”

“Tens um encontro, Juninho?”

“É, eu tenho, mas acho que levei um bolo”.

Agora tudo fodera de vez e Aquiles precisava dar um jeito logo naquilo. Pensou rapidamente e chegou a solução mais óbvia do mundo e que qualquer homem no seu lugar faria: fugiu.

Acontece que enquanto corria para longe daquela confusão, ouviu o grito de Dandara: “AQUILES!”.

Como que desentendido, Aquiles virou-se e “surpreendeu-se” ao ver sua mulher e filho.

“Meus amores, o que fazem aqui?”

“Teu filho marcou um encontro contigo, Aquiles”.

Naquele momento, Aquiles entendera que ser filho da puta realmente não era sua função predestinada. Depois daquele dia, o Juninho envolveu-se com crack, Dandara respondera a um processo por espancar seu marido, e o Aquiles...ah, o Aquiles passado dias enfartou em frente à academia, quando a loira da esteira mandara-lhe uma mensagem:

“Podemos nos encontrar em frente ao parque do Centro?”.

A maior sacanagem do mundo



Toda maldita vez em que estava em reunião aquele ordinário aparelho telefônico tocava desesperadamente, como se fosse a última vez em que tocaria em toda a sua porca existência. Acontece que o Aquiles não sabia colocar aquela porcaria no silencioso. Toda vez era alguma mensagem da operadora, lhe informando que a recarga premiada poderia lhe render prêmios maravilhosos, como um liquidificador, uma batedeira e um aquecedor a óleo.
Dessa vez não era. O Aquiles pegou aquele celular com a mesma gana que pegava toda vez que ele tocava quando estava em frente ao seu chefe. A reunião não era das mais importantes, e então, olhando de soslaio para o chefe, resolveu ler a mensagem:
“Oi linda! Lembra de mim? Nos conhecemos na festa do Harry. Tu me deu teu celular e resolvi te mandar essa mensagem”.

Pobre diabo, pensou o Aquiles, foi logrado pela moça. E aos diabos se o Aquiles pensou em poupar o pobre desgraçado. Tantas vezes fora alvo de chacota que agora, pelo sangue de Deus, ele iria se vingar. Enquanto o gerente de contas apresentava o relatório da semana, Aquiles valeu-se da habilidade que tinha naquele teclado touchscreen de tanto jogar Angry Birds. Respondeu:

“Oi amor! Eu realmente estava com saudades. Nos divertimos muito aquele dia na festa, né? Beijos”.

Que filho da puta era o Aquiles, e a sensação de ser um filho da puta era fantástica. Sentia-se o maior vigarista do mundo e era tão bom. Depois de enviar a resposta, apagou a mensagem recebida para que não houvesse dúvidas sobre sua sexualidade.

A reunião terminou e nada do amante responder. Aquiles saiu do trabalho e rumou até a academia. Lá quase veio ao óbito ao correr 16 quilômetros na esteira, e realmente quase infartou quando a loira mais sensual de toda esfera terrestre resolveu balançar aqueles rijos seios apertados em um minúsculo top cor de rosa, justo na esteira da sua frente. Cada passado dado era uma sacudida naqueles deliciosos gêmeos e aí, antes que efetivamente desmaiasse (por causa da corrida e da loira), foi-se embora.

Nada de mensagem.

Chegou em casa já tirando a roupa suada e declarando:
“Oi amor. Vou tomar uma boa ducha”.

Subiu as escadas ouvindo sua amada esposa responder que tudo estava bem.

Deixou suas coisas todas no bidê ao lado da cama e rumou ao chuveiro. Quando o primeiro jato d'água atingiu seu dorso, assustou-se ao perceber que sua mulher estava no banheiro e perguntava: “amor, tu lembrou de pagar a escola das crianças, né?”.

Claro que ele lembrara, Aquiles jamais esquecera-se de pagar.

“Lembrei amor, é claro”.

A mulher do Aquiles, Dandara, era completamente apaixonada por ele. Faria qualquer coisa pelo homem da sua vida, porém, era deveras ciumenta. Não permitia qualquer deslize na vida conjugal do marido e até então, em mais de doze anos de casamento, ele havia sido exemplar.

Enquanto descia as escadas para terminar de preparar a jantar, Dandara escutou o esganiçado toque do celular de Aquiles e resolveu checar apenas por descargo de consciência. Era uma mensagem.
Um número desconhecido.

“Realmente nos divertimos, adorei passar aquele tempo contigo e gostaria de te ver novamente. Amanhã à noite, que tal? Te espero em frente ao parque do centro”.

O filho da puta, brocha do Aquiles estava lhe traindo. Isso não ficaria assim. Dandara pegou o telefone e respondeu: “Combinado, nos encontramos lá”.
É claro que em seguida, Dandara apagou a mensagem enviada e terminou a janta.

Quando saiu do banho, Aquiles sentia-se renovado. Foi até o bidê e resolveu analisar se não havia nenhuma mensagem nova: havia. O cara perguntava se não poderiam marcar um encontro em frente ao parque. É claro que poderiam, Aquiles queria ver a cara do panaca.

No dia seguinte, ao começar da noite, Aquiles, o tonto e Dandara esperavam-se mutuamente, cada um num lado do parque.

Dandara estava escondida dentro de um carro alugado de vidros escuros, estacionado bem em frente ao parque.

Aquiles escondera-se atrás do tronco de uma árvore, enquanto seu filho, o Júnior, prestas a fazer 16 anos, acabara de desembarcar do ônibus e sentava-se no banco em frente ao parque.

Tão logo avistou seu filho, Aquiles achou que o Júnior pudesse ter lido a mensagem em seu celular e estivesse ali para espionar o pai, porém, o escrachamento da postura do filho revelara o mais óbvio: Aquiles havia sido filho da puta com o seu próprio filho, o que revelava que aquiles não era um simples filho da puta e sim o maior filho da puta de todos os tempos.

Passados dez minutos Dandara saiu de dentro do carro e aí sim Aquiles desabou.

“Meu filho, o que tu estás fazendo aqui?”

“M...m...mãe?! Eu estou, hm, estou...”

“Tens um encontro, Juninho?”

“É, eu tenho, mas acho que levei um bolo”.

Agora tudo fodera de vez e Aquiles precisava dar um jeito logo naquilo. Pensou rapidamente e chegou a solução mais óbvia do mundo e que qualquer homem no seu lugar faria: fugiu.

Acontece que enquanto corria para longe daquela confusão, ouviu o grito de Dandara: “AQUILES!”.

Como que desentendido, Aquiles virou-se e “surpreendeu-se” ao ver sua mulher e filho.

“Meus amores, o que fazem aqui?”

“Teu filho marcou um encontro contigo, Aquiles”.

Naquele momento, Aquiles entendera que ser filho da puta realmente não era sua função predestinada. Depois daquele dia, o Juninho envolveu-se com crack, Dandara respondera a um processo por espancar seu marido, e o Aquiles...ah, o Aquiles passado dias enfartou em frente à academia, quando a loira da esteira mandara-lhe uma mensagem:

“Podemos nos encontrar em frente ao parque do Centro?”.

domingo, 18 de novembro de 2012

Amarelo






Quando ele acordou não tinha bem certeza de onde estava. Não lembrava de nada da noite anterior e a única certeza que tinha era de que tinha bebido mais do que em toda sua vida. Seu corpo doía e teve até receio de que pudesse ter levado uma considerável surra há poucas horas, ou de algum bruto selvagem ou de alguns copos de uísque.

Com alguma dificuldade levantou-se da cama e deu-se conta de que estava em um motel barato no centro da cidade. Com quem dormira ali? Sentou-se na cama e sua bunda não doía, o que lhe trazia um certo conforto. Sem muito esforço pegou uma garrafa d'água que estava no criado mudo ao lado da cama. Até aquela água tinha um gosto pútrido que o remetia ao álcool. Ali fizera a promessa de que jamais voltaria a beber – pela décima quinta vez.
Levantou-se e foi até o banheiro lavar o rosto e esvaziar a bexiga que o estava atordoando. Depois de feita sua necessidade, encaminhou-se à pia e só então viu o que deveria estar claro desde que acordou, estava amarelo. PUTA QUE PARIU, estava amarelo.
Que diabos de doença era aquela? Amarelão, hepatite, estava ficando japonês? Que merda era aquela?
Puxou no fundo da memória e nada, não conseguia lembrar o que acontecera na noite anterior, mas era inegável que o que quer que tivesse acontecido era o responsável por lhe deixar estupidamente amarelo.
Bom, fosse o que fosse, precisava achar um médico. Resolveu que não iria sequer lavar o rosto que vai que aquilo piorasse. Olhou para as mãos e adivinha só? Amarelas. Os pés? Amarelos. Todo amarelo, até as bolas.

Como não encontrou suas roupas, vestiu-se com um roupão esfarrapado do motel, pegara sua carteira e foi-se em busca de um desgraçado de um médico.

Continua.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O Treinador do Sofá


Diziam que o Figueira era esquentado demais, que não podia ver um jogo de futebol sem xingar juiz, jogadores adversários e até do seu time. Ele gritava e gritava e gritava. A esposa evitava ficar na sala na hora do jogo e vez que outra debochava: “Fala mais alto, amor, que eles não estão ouvindo”.
O futebol era sua paixão. Desde muito moço ele inseriu-se no meio, chegou até a trocar alguns passes no São José, mas lá pelas tantas desistiu. Foi ser Professor. Que desgraça na vida do figueira, poderia ser jogador e ganhar uma fortuna; preferiu ser professor e ganhar...deixemos assim.

Só que com quase 60 anos, a vida lhe ensinara muitas coisas e uma delas era quase todos os macetes do futebol. Outra coisa ensinada pela própria vida é que pode-se esperar tudo, até o que é estritamente inesperado, e foi isso que aconteceu.

Certo dia, sentado na poltrona de casa, o treinador do time falou com o Figueira.
O jogo era duro e o adversário era cascudo. O primeiro colocado do campeonato, forte postulante ao título e o empate arrastava-se até o início do segundo tempo. Quando ele gritou do sofá: “Coloca o Novalgina, seu burro!”. O treinador ouviu. Estampou sua face no retângulo da TV ( que agora TV é em retângulo e de plasma) e retrucou: “Se tu fosse um técnico tão bom, tu saberia que o Novalgina tá com dor de cabeça e foi poupado”.


Ele não entendeu. Como assim que o treinador estava falando com ele. Gritou para o filho mais moço: “o guri, essa TV é daquelas 3D?”. Não, a TV não era 3D e o treinador realmente falara com ele, pois lá pelas tantas falou de novo: “É contigo mesmo. Qual a sugestão que tu me dá? Tenho que tirar aquele Adalto do time, ele tá com a cabeça na ex-mulher, que terminou com ele semana passada e levou metade da grana.”

A partir daí começou um diálogo surreal:

- O Tomás tá no banco. Esse guri tem futuro. Vi uns jogos dele no sub-20.
- Mas vou colocar ele na fogueira? Precisamos ganhar o jogo, e o torcedor tá impaciente. Se eu colocar ele, vai ter que ser pra resolver.

- Coloca ele. Essa gurizada nova precisa ter responsabilidade
- É por tua conta e risco?
- Sim.
- Vou colocar, então.


E o Tomás entrou. No primeiro lance, recebeu a bola no meio campo, deu uma meia lua no volante, driblou o zagueiro da sobra e acertou um chute na gaveta. Golaço! 

O jogo terminou com aquele petardo do Tomás e o treinador foi ovacionado, enquanto o comentarista esportivo dizia que ele tinha estrela. Em casa, o Figueira atordoado perguntava-se como aquilo havia de ter acontecido? Que tecnologia era aquela que fazia dois seres humanos conversarem assim?

Uma coisa, porém, era certa. O Figueira entendia de futebol. O Tomás entrara, dera conta do recado, e agora, enquanto o treinador era festejado, ele percebeu que também em casa lhe agarravam o braço em comemoração. Quando olhou para o lado percebeu o motivo daquela entusiasmada chacoalhada. Viu o amável rosto da ordinária da sua esposa, com aquela maldita e estraga prazeres boca falando:“Acorda Figueira, acorda!”.

Figueira olhou para a TV e viu que o jogo terminara 1 a 0 pro time adversário. O Tomás entrara em campo e no primeiro lance foi expulso. Aliviado por não ser o responsável pela derrota, levantou do sofá, limpou a baba que escorria ao lado da boca, e foi dormir na cama.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Só depois de crescer, pude entender o quão pequeno eu sou.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O discurso



O discurso dele era sempre ao contrário, começava no fim, e terminava no começo, invariavelmente. Alguns o diziam obtuso, outros louco, a maioria o considerava um gênio da retórica, e o era. Sem qualquer demonstração de humildade, subia ao palanque gritando, entusiasmado:


- Por que é assim que eu vou, meu amigo eleitor, salvar a nossa cidade. É assim que eu vou terminar com a corrupção, exterminando a raça de bandidos que hoje ocupa nosso paço.

As pessoas olhavam-se desconfiadas, ao que ele continuava:

- É assim que vou fazer com que todos sejam mais felizes, mais ricos, paguem menos impostos. É dessa forma que eu mostrarei ao mundo as belezas da nossa linda Bela Capivara do Sul!

Os olhares seguiam desentendidos, porém, alguns brados já começavam a surgir na multidão.

- Tenham certeza, que só assim poderemos viver em paz, e só assim teremos empregos, teremos saúde e só assim teremos educação de qualidade.

Pequenos aplausos na multidão.

- E digo mais. Essa é a maneira mais fácil de você, amigo eleitor, conseguir comprar sua casa própria, conseguir pagar suas contas, conseguir comprar os remédios para o parente doente. É assim que nós vamos mudar essa cidade, e Bela Capivara do Sul vai tornar-se o que há de melhor infraestruturado em todo o nosso Planeta!

O incentivo começou a tomar conta. Gritos de apoio e aplausos já eram a maioria. As pessoas entenderam que aquele era o candidato correto. Era nele que votariam para uma Bela Capivara do Sul melhor.

- Não há, na história dessa cidade, outra forma. Nós vamos mudar tudo o que está errado, vamos acelerar o desenvolvimento, vamos pujar os negócios e apostar no turismo. Bela Capivara do Sul será a nova Gramado. E é só assim que conseguiremos fazer com que isso aconteça.

A multidão enlouqueceu. Gritos ensandecidos de apoio, misturados a assobios e estrondosos brados, o fizeram entender que aquele era o momento. Seu discurso estava prestes a terminar, e ele precisava termina-lo onde era mais adequado, no começo.

Quando alguém, certamente instruído a fazer aquilo, gritou em meio à multidão:

-E qual é essa solução mágica que fará com que Bela Capivara do Sul se transforme?

O candidato encheu seus pulmões e declarou:

- A mentira, caros eleitores, a mentira!

O candidato saiu do palco, e seus cabos eleitorais entregaram o santinho à multidão: “Afonso da Silva. Vote em quem fala a verdade, mesmo que seja mentira”.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Que Samuel?



Foi num almoço qualquer, de um dia qualquer, em uma ocasião qualquer. O que se sabe apenas é que aconteceu em uma cidade de interior, onde quase todos se conhecem e onde todos sabem da vida de todos, antes mesmo dos respectivos donos de suas próprias vidas saberem.
         
          - Sabe o Geraldo?
    - Qual Geraldo? O filho da Dionete?

    - Não, não. O Geraldo casado com a Taís, que é irmã do Tomás.

    - Mas então, a mãe do Geraldo é a Dionete.

    - Não, a mãe do Geraldo é a Janete. A Dionete é irmã dela, mãe da Samara e do Felipe, sabe?

    - Ah sim, a Samara casada com o Tadeu?

    - Não, a Samara tem cinco anos.

    - Ah é. Mas e o Geraldo?

    - Que Geraldo?

    - O Geraldo filho da Janete, casado com a Taís.

    - Ah sim. Pois é, encontrei ele outro dia, e sabe o que ele me falou?

    - O que?

    - Que a Dominique, sabe a Dominique?

    - Não.

    - A que mora ali do lado do Jorge que arruma as máquinas de lavar roupa. Acho que a mãe dela era casada com o Cirilo, da van.

    - Ah sim. Sei sim, ela é meio prima daquele tiozinho do bigode que veio lá de Alegrete.

    - Isso!

    - Tá, e o que tem a Dominique?

    - Que Dominique?

    - A Dominique que o Geraldo te falou.

    - Ah sim, pois é, ele comentou que ela tá grávida do Samuel.

    - Que Samuel?

    - O Samuel que era casado com a Diana. Filho da Clotilde. Ele tem uns 30 anos e mora com ela ainda. Moram ali perto do cemitério, sabe?

    - Samuel, Samuel...não sei se to lembrado.
    - Tu deves conhecer. Ele é um baixinho, meio gordinho, tem um carro preto, bem novinho.

    - Sabe o que eu tava pensando, mãe?

    - O que, Samuel?

    - Que eu acho que eu me lembrei bem da Dominique.

    - Que Dominique? - pergunta dona Clotilde, mãe do Samuel que engravidou a Dominique, cuja mãe era casada com o Cirilo dono da van.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Tenha Orgulho Você Também


Foi ali, dividindo o diminuto espaço do meu assento no ônibus, com um senhor que dormia fervorosamente e espalhava seu corpanzil por sobre a área que deveria ser destinada ao meu pobre ser, que percebi uma coisa que já me deveria ser clara: as pessoas amam Gramado.
Estive em Porto Alegre outro dia, o que não é lá grandes coisas. Gosto da capital riograndense, gosto de ir ao Redenção, de passear pelo Moinhos de Ventos, ou até pelo Menino Deus. Gosto acima de tudo de ir ao Olímpico Monumental, mas isso não vem ao caso agora. O que acontece é que não estou preparado para ir a Porto Alegre. Sou um colono convicto, e a cidade grande me atordoa. Fico zonzo com aquele burburinho todo, com aquelas sinaleiras, aqueles táxis, Deus, há um táxi a cada oito passos, e eles surgem de algum lugar no infinito, onde deve haver milhões de táxis esperando a hora certa para cruzar ensandecidamente as ruas da capital do rincão. Passei uma noite, uma manhã e um começo de tarde em Porto Alegre e já queria voltar correndo para Gramado, e sabe o que eu fiz? Voltei correndo para Gramado.
Fui de ônibus para Porto Alegre, por que é sabido que o trânsito da capital é um inferno e eu, como deve ser contigo, quero distância do inferno, mas quando vou até ele, vou de lotação que é mais seguro. Aí, tendo ido de ônibus, me restou também regressar para minha terra natal de ônibus, justo né?
Depois de reunir minhas moedinhas e comprar a passagem de volta resolvi fazer o que se esperava que eu fizesse: procurei o box de partida, e por diabos que não achei! Ou a rodoviária ou eu, alguém estava obtuso de informação, e tenho a impressão de que era eu. Fato é que por sorte encontrei um amigo zanzando por lá e adivinha só, ele ia para Gramado.
Achado o box, embarcar no ônibus eu consegui sozinho, só que percebi que já havia alguém sentado na poltrona ao lado da minha, e todos sabemos que é deveras inconveniente dividir espaços no ônibus, sendo assim, resolvi aplicar um golpe, sentei-me na poltrona de trás, que estava vazia e sem ninguém ao lado. Minha alegria e meu conforto terminaram no aeroporto, quando um simpático casal pediu-me licença, pois afinal de contas, compraram passagens cujas poltronas eram aquelas. Educado que sou, saí e me desculpei pelo “erro”.
Pois bem, aquela viagem não terminava nunca e o senhor do meu lado era gordo e roncava enquanto dormia. Veja bem, não tenho nada contra gordos, acho até que eu gostaria de ser gordo, só que dividir o espaço do ônibus com um gordo é algo lamentável, por que eu saio perdendo entende? Acabo sendo esmagado no meu pequeno espaço, por que ele precisa de mais espaço que eu.
Quando chegamos no pedágio de Três Coroas eu senti o entusiasmo tomar conta de mim, e da mesma forma percebi que tomava conta do resto do ônibus inteiro. Os comentários começaram a aumentar de tom, as pessoas começaram a se mexer em suas poltronas como se fossem atacadas por um exército de pulgas. Finalmente estava ali o pórtico que decreta que se chegou em Gramado, o ônibus explodiu de excitação. As pessoas empolgaram-se de forma vigorosa. Máquinas fotográficas foram sacadas como que em passe de mágica e lá estavam meus colegas de ônibus com seus flashes e registrando o que viam pelas janelas do coletivo.
Eles eram turistas, percebe? Turistas que embarcaram na parada do aeroporto e que estavam conhecendo uma nova cidade, e uma cidade que sem dúvida é diferente da deles. Eu prestava atenção nos comentários e na forma como as pessoas demonstravam estar embasbacadas com o que viam. A organização da cidade, a limpeza das ruas, a arquitetura arrojada. Juro que vi uma senhora com o rosto grudado na janela e cutucando seu marido, que estava ao lado, urrando para ele: “olha amor, olha, olha, eles param na faixa de segurança mesmo”.
Até eu, que passara poucas horas em Porto Alegre sentia-me aliviado, estava voltando para a minha cidade. Posso ter poucas qualidades, posso ser chato, ser feio, ser pouco esperto...posso ser qualquer coisa, mas sou gramadense, e fazer parte dessa cidade é um orgulho dos maiores que se pode ter.
O ônibus chegou, estufei o peito e desci na frente de todos, apontando para alguns dos visitantes, “ali vocês encontrarão táxis e para lá fica o centro”. Não perderia a oportunidade de mostrar para eles que eu sou de Gramado. Que orgulho, Santo Deus, que orgulho!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A Culpa é da Física


É por isso que eu gosto de história. Há para tudo, ao longo da história, uma explicação ou uma fundamentação. Como a história já nos contou, por exemplo, havia, certa feita, uma tribo germânica que varou o império romano, saqueando a maior potência mundial daqueles tempos. Era famosa aquela tribo e eu quase consigo imaginar aqueles polacos enormes destruindo coisas, incendiando casas, saqueando lugares e estuprando inocentes italianinhas. Outra coisa absurda, que jamais pode-se imaginar, é que esses germanos ensandecidos destruíram obras primas romanas, e é possível que tenham privado a humanidade de maravilhas sem igual. Sabe o nome dessa tribo? Vândalos.

Entende agora, né? É por isso que chamamos de vândalos aqueles que sem qualquer pensamento racional destroem coisas, sejam elas públicas ou privadas. É uma póstuma homenagem prestada aqueles alemães bárbaros.

Como eu vinha falando, a história nos apresenta uma fundamentação para o nome vândalo, porém, não consegue justificar atos esdrúxulos como esse de botar fogo na decoração do Natal Luz de Gramado e por conseguinte em um dos pavilhões do ExpoGramado. Por sinal, eu duvido que haja uma mente gramadense sequer que não esteja tentando entender o por que desse ato absurdo contra o maior evento natalino que o Brasil já viu, e que gera lucros para 80 por cento da comunidade.
Eu sou um desses tantos gramadenses que tenta entender, tenta com todas as forças colocar-se no lugar daquelas três crianças, que “brincavam” com tíner e fósforos. E foi assim que cheguei a uma conclusão lógica: a escola é responsável por esse incêndio. Digo mais, o responsável verdadeiro por esse incêndio desolador é o professor de química desses três jovens. Ele não os ensinou que há uma reação entre tíner e fósforo, chamada de combustão.

Pobre professor, esqueceu-se de explicar para os imaculados jovens o que é a combustão, mas é difícil condená-lo, é dura a vida do mestre, afinal de contas, estamos vivendo numa época tão selvagem, uma época na qual ouve-se que alunos agrediram professoras, que alunos balearam professoras, que alunos ofenderam, cuspiram, pisaram e humilharam professoras e professores. Deve ser difícil dar aulas hoje em dia, e ganhar a fortuna de R$1,4 mil mensais. E tu sabe por que é tão difícil para o professor dar aulas atualmente? Por causa da globalização.

Não fosse a globalização, os pais estariam mais presentes na vida de seus filhos, não fosse a globalização, os filhos receberiam mais carinho dos pais. Não fosse a globalização, de repente os filhos até poderiam jogar vídeo game com seus pais duas vezes por semana. Mas há a globalização e ela impede que pais e filhos tenham uma relação próxima a de pais e filhos. Pais trabalham demais, o que é compreensível e deixam seus filhos ociosos tempo demais, o que também é compreensível. O problema todo é que um pai - e veja bem, não me refiro às famílias dos jovens ateadores de fogo, que eu sequer conheço e não as posso julgar -, acaba dando prioridade ao trabalho para sustentar o filho, o que é fundamental, porém, esquece-se de que é fundamental também que seu filho receba educação. A educação que me refiro não é a da sabedoria, não é a do conhecimento, é a boa educação. Os bons modos, as boas maneiras, o ensinamento do que é correto, do que é de bom tom e do que não se deve fazer. Havaianas, talvez falte marcas vermelhas de havaianas estampadas nas bundas da juventude.

Acontece que com a tal globalização, entende-se que é de função da escola criar indivíduos do bem e de boa índole e educação, só que não é. A escola precisa ensinar conteúdo e não boa educação aos nossos jovens. A função do pai é criar cidadãos descentes que não humilharão professores, nem sequer os balearão, ou qualquer coisa assim.

A criação de um bom homem passa diretamente pelos seus pais, mas a coisa toda de entender como funciona a reação entre tíner e fósforos, é responsabilidade do professor de química. Às favas com os direitos humanos, a culpa é toda do professor de química e o professor de física também tem participação nessa história. Não fosse ele esse incêndio jamais teria acontecido. Esse professor de física nunca me enganou, ele é responsável por muitas das tragédias do mundo, ele que disse que 'dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço'. O mundo globalizado levou isso a sério demais, e agora pais, filhos, amigos e amigas estão cada vez mais distantes.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Onde estão as minhas calças?


Era impossível que as calças pudessem ter sumido. Ninguém entrara ali, e ninguém sabia que estariam ali naquela hora. O que tinha acontecido? Uma sabotagem, é claro que fora uma sabotagem.
Como sairia dali com suas cuecas samba canção branca com coraçõezinhos vermelhos, meias a camisa azul claro e a gravata preta? O escritório inteiro riria dele? Aliás, o escritório inteiro não, a empresa toda, o prédio todo logo saberia do acontecido e ele seria o alvo das piadas mais infames que alguém poderia suportar.
Colocou a cabeça pra fora do arquivo morto e sussurrou:
- Mariana!?
Nada ouviu além do barulho ambiental, e um ou outro espirro a mais. Insistiu:
- Mariana!? Onde estão as minhas calças?
Nada.
Um plano, o Arnaldo teria que ter um plano, do contrário estaria arruinado, bem como o seu casamento que iria por água abaixo, junto com as malditas calças.
Depois de bater a cabeça oito vezes na parede, o Arnaldo resolveu apelar para a arma dos fracos: a espera. Sentou-se no chão, entre algumas caixas empoeiradas e lembrou-se que se tudo desse errado ainda teria a lembrança dos bons momentos com a Mariana. Aqueles beijos que lhe desceram o peito, dirigiram-se para a barriga que já estava nua e tão logo ela abriu seu cinto e baixou suas calças acomodou-se no lugar que ele esperava desde o começo. Que boca!
Melhor seria não imaginar aquele momento, pois como você sabe, as cuecas samba canção são como nada, e quando a libido aumenta, é como se nem o ar impedisse o amigão lá de baixo de se manifestar.
Só que tinha alguma coisa naquela lembrança que cheirava mal, e com certeza não era a Mariana, com aqueles cabelos dourados, e aquela pele de tez suave a aveludada, nem sequer aquelas pernas firmes sem qualquer adorno ou indicativo de musculação. Os seios fartos se acomodavam placidamente onde deveriam estar e até um pouco mais abaixo. Era uma mulher de verdade, não dessas que se vê na televisão. Era uma mulher daquelas que dá vontade de passar mais do que uma transa, e sim o dia inteiro.
O que cheirava mal era o Arnaldo lembrar que não fora ele quem tirara suas próprias calças e sim a Mariana. DESGRAÇADA! Levara suas calças consigo, sem dúvida de propósito, já fazia tempo que ela queria que ele terminasse o casamento, e essa foi mais uma de suas artimanhas para antecipar o divórcio do amante.
Com o sangue fervendo o Arnaldo lembrou-se do seu celular. Era claro, ligaria para a Mariana e ela devolveria a calça, ou ligaria para o Gonçalves, que sempre tinha uma calça sobrando no carro. Pronto, estava salvo, estava sal... puta que o pariu. O celular estava no bolso da calça.
- Eu mato a Mariana!
Já sem qualquer perspectiva de vitória, Arnaldo resolveu que faria a última coisa que lhe restava: sairia de lá, com suas cuecas de coração e com o coração na mão (que baita trocadilho). O Arnaldo poderia sair correndo, colocar um balde na cabeça, chegar até seu carro e sair como quem não quer nada, só que daí seria uma dupla vergonha, a de estar de cueca e de estar constrangido por estar de cuecas. Se era para ser o fim, ele assumiria o fim com ares de empáfia.
Abotoou a camisa, arrumou a gravata no pescoço, estufou o peito, puxou as cuecas um pouco mais para cima, baixou as meias pretas, enfiou o sapato, abriu a porta do arquivo e botou o primeiro pé na rua. Não havia ninguém. Quando colocou o segundo pé na rua, lembrou-se que havia retirado a carteira do bolso da calça e a colocado em cima daquela estante alta lá no fundo do arquivo, onde a Mariana o havia pelado e....
Santo Deus misericordioso! As calças também estavam lá. Tudo ficara claro como água para o Arnaldo, que lembrou-se de ter tirado as calças antes de consumar o ato com Mariana. Que momento tão alegre. Que êxtase divino. Aquilo sim era o ápice da vida de um homem de bem.
Vestiu suas calças de chino, estufou outra vez o peito, abriu a porta do arquivo e lá se foi.
Aquelas calças haviam salvado muito mais do que um casamento, elas salvaram o orgulho e a moral de um homem, o que quase sempre vale mais do que qualquer coisa.
A cueca branca de coraçõezinhos vermelhos era nova e até que combinava bem com a camisa azul, mas pensando bem, era melhor guardar aquele figurino apenas para a Mariana.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

A Criatura e o Criador

Aí estamos, meu "amigo" David Coimbra (D) e eu.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Lógica?!




Lembro como se fosse ontem. Lá estava eu, no quarto ano do ensino fundamental, quando a professora decretou que aquele era um dia especial, naquele dia iríamos trabalhar a lógica. “Lógica?! Que diabos era a lógica?”, lembro-me de ter pensado. E a professora começou com aquelas brincadeiras de fósforos, palitinhos e o escambau, fazendo-nos exercer nosso raciocínio, e sim, usar a lógica.
Eu fui mal, envergonho-me em dizer. Não conseguia formar malditos quadrados com aqueles palitos de fósforo que ela havia disposto sobre a minha mesa, e a tarefa era essa. Simplesmente eu tinha que forma quadrados com aqueles palitos safardanas e não conseguia. Senti-me frustrado, logo eu que sempre fora articulado, conversador e cujos boletins sempre continham uma pequena observação: “Mãe! O Ricardo é um bom aluno, muito inteligente e comunicativo, porém, pode render muito mais se não conversar tanto durante a aula”.
Ali, percebi que estava fadado a uma luta constante. De um lado eu, que agora ostento meu 1m82cm, e 75kg e do outro a famigerada lógica. Uma guerra de proporções homéricas se formara ali, e eu soube, ainda no quarto ano do ensino fundamental que eu teria de vencer.
Cresci um tanto, e resolvi arriscar-me no xadrez. Até que fui razoável. Venci um campeonato disputado entre umas 12 pessoas no ensino médio, e justamente quando o xadrez se popularizou na escola. Tarefa árdua, mas eu venci. Como tu sabe, o xadrez é lógica pura, aliado é claro, à estratégia e raciocínio. Eu sabia: havia vencido a primeira batalha, mas não a guerra.
Desisti do xadrez, depois de ser derrotado de todas as formas possíveis pelo meu pai, e me arrisquei em outras formas de lógica. Sudoku, aquele joguinho japonês, sabe? Descobri que sou péssimo em sudoku, entende o por que? Lógica, camarada, o sudoku é lógica clara e manifestadamente.
Depois que saí da escola, resolvi buscar uma profissão que não envolvesse lógica, nem estatística, nem qualquer coisa que o valha. Abriguei-me na comunicação, e claro, a lógica precisa estar presente na comunicação, mas não tão efetivamente quanto estaria na engenharia.
E foi justo no meu ambiente de trabalho que outro dia eu sugeri que poderíamos fazer um amigo secreto entre três pessoas, ao passo que um gaiato qualquer gritou: “é lógico que não podemos fazer, pois um vai saber quem pegou o outro”. Era lógico mesmo. Mas que desagradável essa lógica.
Agora eu converso com amigos, leio nos jornais, olho televisão, ouço nas rádios, participo de debates, e todos falam: não dá, o Grêmio já era. O Palmeiras é franco favorito, venceu por dois a zero dentro do Olímpico e agora só um milagre salva o Grêmio.
Alguém até comentou que era uma questão de lógica. Aí sim eu me irritei, levantei, bati na mesa do bar em que estávamos e falei:
“Lógica?! Que diabos é a lógica?!”


Eu acredito no Grêmio!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Da série: "o que esse guri tá fazendo - de novo - no jornal?"

Mais uma vez minhas bobagens foram publicadas no Jornal de Gramado.  Houve uma grande repercussão e, por incrível que pareça, muita gente elogiou e apoiou o que escrevi.
Agradeço aos que leram e peço que sigam acompanhado meu trabalho, pois prometo me empenhar cada dia mais na elaboração de novos textos que levem diversão a todos.


PS: a foto mais uma vez me fez parecer uma moça doida, e eu próprio já começo a desconfiar de mim mesmo. Hoje de manhã acordei, me olhei no espelho  e disse: "não, tu não é gay". Me convenci.
hahahah

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Da série: "O que esse guri tá fazendo no jornal?"

Publicaçao de uma modesta "entrevista" que concedi ao Jornal de Gramado publicado na terça feira 28 de maio. Abaixo, está também um texto que escrevi em certa ocasião e que foi publicado mais uma vez.
Apesar da cara  que estou na foto, engana-se aquele que pensa que eu sou gay. Esta foto é caluniosa, e não pegou o meu melhor ângulo (que seria a nuca).


terça-feira, 5 de junho de 2012

O futebol é um amante infiel


Assumo, sou um grande fã do futebol. Não é vergonha nem nada, eu gosto de futebol e isso me faz bem. Perco horas da minha semana acompanhado o meu time, e torço fervorosamente por ele mesmo que o jogo não valha um tostão furado. Isso é por que há paixão no futebol e eu apaixonei-me por ele desde a primeira vez que o vi.

Só que o futebol é injusto. O futebol, como quase todo bom amante é um safado que não nos é fiel por muito tempo, e isso não se explica só quando o nosso time perde, explica-se também quando há um envolvimento monetário em questão. O mundo do futebol de alto nível engloba absurdos valores não só no Brasil, como em todo o resto mundo. Recentemente houve – mais um – caso de manipulação milionária de resultados na Itália, mas não é a isso que me refiro.

As siglas que giram em torno do Campeonato Brasileiro e de todos os times que estão na elite do futebol nacional são astronômicas e isso, não tenho dúvida, gera um belíssimo campeonato e disputas acirradas, que só definirão seu campeão no final dos 90 minutos do último jogo.

É incrível que isso aconteça, afinal de contas o brasileiro é um povo tão sofrido e que trabalha tão duro todos os dias, que merece ter um campeonato digno, que o faça descontrair-se ao menos algumas horinhas semanais. Acontece que agora eu toquei num ponto crucial e que explica o por que o futebol é um safado: o dinheiro de um lado e a labuta pesada do brasileiro de outro.

Vejo campanhas engajadas em um melhor salário para os professores e concordo com elas. Posso não concordar com a forma com são feitas, ou como o CPERS, por exemplo, se manifesta, mas concordo com o conteúdo de suas manifestações. Um professor precisa ganhar bem, pois o futuro saudável de uma nação passa por ele, e isso, todos sabem não vou eu ficar aqui batendo na mesma tecla.

Falemos agora de uma contradição homérica do País em que vivemos. Enquanto um jogador de futebol mediano ganha no mínimo 50 mil reais mensais, o salário mínimo do Rio Grande do Sul, por exemplo, não passa dos R$700 e o salário de um professor é de pouco menos do dobro dessa quantia. É justo?
Não é justo e há uma contradição estrondosa por trás disso tudo, afinal de contas a grande maioria dos jogadores de futebol abandonam os estudos para ficar mais próxima do sonho de se tornar um profissional da bola. Entenda bem, não é demérito a ninguém largar os estudos e menos ainda tornar-se jogador de futebol, o que acontece é que o alto salário pago a um jogador e o ínfimo salário pago a um professor mostram o quanto a educação não vale nada em um País quase miserável.

Isso tem uma explicação política, é mais fácil manipular o voto de quem não tem educação do que de um povo instruído. É mais fácil encher o Brasil com ajudas de custo para auxiliar os menos favorecidos a curto prazo, do que apostar em uma revolução educacional futura e completa, que renovaria a maneira de pensar de um País em desenvolvimento.

Acompanho com pesar a mudança de uma juventude. Cada dia que passa deparo-me com um maior número de analfabetos funcionais ou pessoas que depredam a língua portuguesa sem qualquer cerimônia. Não os culpo e espero que você também não os culpe. Quem nos deve explicações de fato, é a República Federativa do Brasil que desde cedo nos promete um destino fadado ao infortúnio, bem como promete um salário irrisório aos encarregados de criar um mundo melhor, ou no mínimo mais bem educado.


terça-feira, 22 de maio de 2012

Seu hipócrita

Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, duvido que não conheças esse homem. Os mais ínitmos o chamam de Maquiavel e eu me coloco dentre a parcela de pessoas que tem intimidade suficiente para chamá-lo assim. Suponho que tu também. Entre tantas coisas que esse italiano afirmou em sua política linha de pensamento destaco aqui a que me chama atenção arrebatadoramente: a natureza humana é má e os seres humanos querem obter os máximos ganhos a partir do menor esforço, apenas fazendo o bem quando forçados a isso.
É isso! Claro que é isso. Todos nós nascemos embuidos de uma maldade sinistra e não nos desfazemos dela com o passar dos anos, pelo contrário, ela fica cada vez pior. O que acontece é que aprendemos a maquiá-la, e bem maquiada, transformando sua verdadeira face, que é a da Ingrid Guimarães, na da Megan Fox.
Eu nem precisaria dizer mais nada depois de externar para ti, que por ventura, não conhecesse esse pensamento do Maquiavel. Ele por si só fala tudo que alguém poderia dizer, mas como sou teimoso quero fazer aqui a minha análise sobre esse pensamento que me enche de certezas.
Falo agora contigo, garotão que arruma-se todo final de semana, despeja belas borrifadas de seu perfume Dior no pescoço, entra na camiseta gola v da Calvin Klein e ruma até as baladas infindáveis da pujante noite gramadense, ou seja lá de onde tu fores. Quando tu vê aquela guria com as pernas esguias, saltitando serelepe tal qual uma gazela em campos verdejantes em cima daquela meia pata e enfiada naquele famoso vestido de tubinho que a deixa tão sensual, o que tu pensa?
Ah, malandrão! Eu sei o que tu pensa. Tu pensa que fará qualquer coisa para conquistá-la. Mentirá idade, contará vantagem sobre tudo e todos, mesmo que a grande maioria do que tu fale seja a mentira mais deslavada do mundo. Tu fará o que for possível para dar uns amassos na mocinha, para no final poder dizer para os teus amigos que “pegou” a pobre coitada.
E tu sabe por que tu é assim? Tá lá no primeiro parágrafo deste texto. Por que a tua natureza é essa, tu é do mal. Tu mente para conseguir as coisas, afinal de contas seria muito mais difícil conquistar alguém sendo feio, pobre e sem virtude. Tu utiliza um atalho rumo ao coração da preza e é assim que a conquista. Mentindo que podes até ser feio, mas é rico.
Não entenda que falei apenas contigo, querido amigo baladeiro, pois tu não é exclusivo no time dos malvadões. Todos estamos nesse time. Eu gosto de dizer, mesmo que isso me envergonhe, que todos os homens são corruptos. Todos burlam alguma coisa de alguma forma, em benefício próprio e geralmente esse benefício é financeiro. Me parece hipocrisia achincalhar políticos alcunhando-os ladrões ou bandidos, visto que todos de alguma forma temos as mãos sujas.
Sabe qual a minha diferença e a tua para aqueles políticos que estampam as manchetes do Jornal Nacional? Eles tiveram a chance de meter a mão no dinheiro alto, enquanto nós, meros assalariados nos contentamos em usar as folhas do lugar em que trabalhamos para imprmir nossos trabalhos da faculdade. Nos contentamos em ir até nossa casa dar comida para o cachorro com o carro da empresa e nos contentamos, à vezes em dar uns bons amassos em horário de expediente.
Nós, seres humanos somos nojentos na maior parte do tempo, e hipócritas no que sobra dele. Concordo que guardadas as proporções eu e tu somos ladrões infinitamente menores do que os políticos envolvidos em escândalos em Brasília, mas e se tu tivesse a oportunidade meu amigo, não meteria a mão no dinheiro público?
Tá vendo, aposto que tu respondeu que não, e como eu disse agora há pouco, no tempo em que não somos nojentos, somos os maiores hipócritas do mundo.


domingo, 13 de maio de 2012

Pra ti, mãe!





Só então eu entendi! Só quando inalei pela primeira vez o suave cheiro que exalava daqueles cravos que compraste em homenagem à tua mãe, e por consequência minha avó. Foi naquele instante, enquanto aquela fragrância macia inundava-me a alma, que pude perceber algo tão claro, mas que até agora ainda era obscuro para mim. 
Dizem que todos tem um objetivo na vida e todos vem ao mundo com uma missão. Independente de qualquer religião ou credo, eu acredito nisso. Acredito que ninguém nasce sem um talento que seja, e ninguém vem ao mundo apenas para passar por ele. Até então eu não sabia a que tinha vindo ao mundo, mãe, mas foi ali que entendi.

Perdeste em julho de 1989 a pessoa mais importante da tua vida, e que até aquele momento estava isolada nesse papel. Tenho certeza que a vó Marisa era alguém pra lá de especial e que nela tu tinha o conforto do qual precisou ao longo de toda a tua vida, até teus 26 anos. Só que naquele fatídico ano de 89 a perdeste, e o que seria de ti então? 
Então, em novembro daquele mesmo ano eu nasci, e só agora entendo que isso aconteceu para que eu fosse o substituto natural da tua mãe. Tudo bem, eu sei que pode ser um pouco prepotente da minha parte, mas foi isso, não pode ter sido nada diferente. Eu cheguei poucos meses depois que perdeste tua mãe, para que eu fosse o alento na tua vida, para que eu fosse aquele a quem recorrer em um abraço quando se está triste, ou aquele que diria – depois de grande – as palavras que te reconfortariam, e eu sei bem quais são essas palavras: Te amo.
Pois é, mãe, ficou claro pra mim que eu vim ao mundo para te dar o que tu tinhas acabado de perder. Vim ao mundo ser pra ti o que tua mãe havia sido até então, por que ninguém deve ficar sozinho neste mundo, mãe. Assim sendo, eu sei que não estou sozinho e tu também tenha certeza de que jamais ficará sozinha, pois eu estou e estarei sempre ao teu lado.
Passamos por tantas coisas juntos. Amargamos tantas derrotas parciais, mas no final rimos tanto com as vitórias. Sofremos por vezes e brigamos por outras é verdade, mas qual a relação de amor que não tem altos e baixos? A grande verdade, mãe, é que te amo desde o momento que vim ao mundo e que te amarei até o final dos meus dias, pois tu és a grande razão pela qual eu vivo.
Ninguém vai te amar mais do que eu, e ninguém te ama mais do que a vó Marisa, portanto, me parece que na função da te amar, minha avó não está mais isolada, pois agora estou aqui e te amo tanto quanto.


Feliz Dia das Mães!


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Crianças não gostam de Machado de Assis



Lembro-me tão saudosamente das salas de aula da Colégio Estadual Santos Dumont. É com um carinho irresoluto que lembro-me, pois foi nessa escola que aprendi quase tudo o que sei hoje. Durante as aulas de Português, por exemplo, aprendi coisas que até hoje estão impregnadas em meu âmago e são presentes corriqueiramente em minha vida.

Das coisas que os amados mestres me ensinaram lembro-me de artigos e pronomes, de gêneros e graus, de sujeito, verbo e predicado. Lembro-me de coisas que hoje compõe minha rotina diária de trabalho. Devo a todos os professores que pela minha vida passaram uma infinidade de agradecimentos, pois foram eles que, de pedaço em pedaço, construíram um pouco do que hoje carrego comigo, dentro deste cérebro que agora pensa na continuidade do texto que tu, meu amigo, lê neste momento.

Há tanto a agradecer, mas também há coisas que preciso contestar. Machado de Assis é uma delas. Por Deus, não há como ler Machado de Assis quando se é menos do que um adulto. Machado de Assis transcende o que um aluno normal, com pouca idade pode entender e aí acontece o que vem acontecendo com os jovens atuais: eles não gostam de ler.

Machado de Assis, Jorge Amado, Érico Veríssimo, são autores geniais, mas são autores que não geram qualquer tesão na juventude, pelo contrário, se tornam obrigações e tudo o que é obrigação é chato, ainda mais quando se está interessado em Harry Potter's, Crepúsculo's, Percy Jackson's. E é deveras saudável que a juventude se interesse por esse tipo de leitura fantasiosa, afinal de contas, todo livro é um livro e tudo o que te traz conhecimento deve ser louvável. O que acontece é que é precisa se empregar nas escolas livros de autores que façam a juventude gostar de ler, e não ser obrigada a ler.

É bem verdade que livros de fantasia norte americanos não enriquecem culturalmente tanto quanto a “Macunaíma” e nem podem ilustrar a um aluno o que é o Romantismo, ou o Realismo, ou seja lá de qual gênero literário felemos aqui. O que acontece é que eu, no auge de minha incapacidade também não fui enriquecido com essa literatura, pois não entendia bulhufas dela quando a tentei ler. Até hoje, depois de velho, algumas leituras que exigem maior atenção se tornam massantes para mim, mesmo que sejam pra lá de enriquecedoras.

Ler é uma atividade tão saudável, mais do que isso, é uma atividade prazerosa. Um bom livro pode gerar um prazer inenarrável, e o que é melhor, pode gerar conteúdo nas pessoas, e não racionalizar sua inteligência como é o caso de algumas redes sociais tão utilizadas pela vanguarda. É muito mais provável que se veja a juventude moderna enfurnada em frente a um computador, ou em frente a uma televisão, olhando séries americanas de vampiros, bruxas e lobisomens, do que em uma feira literária, e é por isso que acho assaz interessante a ideia de contratar Gabriel o Pensador para a patronagem de um evento literário.
Jovens precisam de exemplos, precisam de ídolos, ícones, heróis. OK, o Gabriel o Pensador pode não ter escrito músicas brilhantes, mas é um músico e esse fato por si só já o credenciaria a ter acesso direto às mentes juvenis que clamam por cultura. Acontece que além de músico, Gabriel é um pensador, com perdão do trocadilho. Gabriel é um cara com uma cultura fantástica, com um pensamento aberto e um raciocínio veloz. Do que mais precisam as crianças de hoje, se não todos os predicados do Pensador? Além disso, o músico também é escritor, e um de seus livros, voltado justamente para a infância moderna, já ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura, o que o dá ainda mais moral.
O cachê, isso foi o que realmente pesou para que toda essa confusão envolvendo uma Prefeitura da Serra Gaúcha e o músico/escritor em questão fosse desencadeada. Alguns autores se sentiram menosprezados financeiramente, pois receberiam valores infinitamente menores do que o carioca Pensador. E daí? Qualquer dinheiro é pouco para incrustar o hábito da leitura, da educação, e da informação nas cabeças de uma cidade, e principalmente nas cabeças das crianças de uma cidade.

Gabriel o Pensador pode não ser um gênio como foi Machado de Assis e nem será lembrado ao longo da história como é lembrado Machado de Assis, mas em tempos de funk, sertanejo universitário, rebolation e poesias sem graça e sem vida, o Pensador pode erguer os dois braços para o céu e dizer: se há de se fazer cultura nas escolas, então que eu seja Gabriel Machado de Assis.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O Estranho Caso do Monza 1985

Capítulo I


- Agora não dá mais! Vou descobrir quem foi, Rita, ou não me chamo Marco Antônio – declarou ele pra lá de resoluto, não deixando margem para qualquer dúvida. Aquela era a voz de um Marco Antônio que não levaria desaforo para casa, sabia Rita.

- Calma, Toninho, não precisa ficar tão nervoso. Vamos pensar calmamente, tenho certeza que dentro da racionalidade acharemos uma solução – tentou amenizar a Rita.
- Racionalidade uma ova, Rita de Cássia, eu preciso de uma explicação e preciso mais, preciso acertar um belo de um murro na cara do infeliz que estragou o melhor pedaço da minha vida.
- Melhor pedaço da sua vida, Marco Antônio Souza Albuquerque? Pensei que eu fosse o melhor pedaço da sua vida.
- T...ta Ritinha, eu não quis dizer isso, mas bem sabes o quanto sou apegado naquele Monza 85, modelo único e todo original. A pintura dele é totalmente cromada e sem qualquer dano... até agora. Eu pego o desgraçado que fez isso e nem sequer me deixou um bilhetinho ou me deu um telefonema pedindo desculpas.
A Ritinha concordou que o Marco Antônio não estava tão errado, afinal de contas, ela sabia o quanto o Monza 85 significava para o marido, afinal de contas, fora nele que os dois saíram da festa de casamento para a lua-de-mel. Fora naquele Monza 85 que rabiscaram em batom os clássicos dizeres “recém casados” e “felizes para sempre”.E não só isso, também fora naquele Monza que ele a buscou pela primeira vez e a levou para ver o então lançamento “De Volta Para o Futuro”. Naquele Monza deram o primeiro beijo, e no mesmo Monza rolou a primeira passada de mão e o primeiro clima quente. Aquele carro queria dizer muito não só para ele. Era para eles, queria dizer muito na vida do casal, e agora, alguém havia batido na porta do carona e estragado boa parte da pintura original, enquanto o carro estava parado no estacionamento do subsolo.

- Tá legal Toninho. Senta aqui, vamos estudar as possibilidades. A marca do raspão na lataria é preta, não é? Então vamos ver quem são os proprietários dos carros pretos e depois conversamos com todos eles, mas de um modo ameno e civilizado. Combinado, meu amor? -impôs a Rita, sentando-se à mesa, com aquela voz que por si só dispensava qualquer concordância, o Marco Antônio sabia que estava fadado apenas a concordar com o que fora dito, afinal de contas era sempre assim, ela sempre tinha razão.

Começaram os estudos, e o primeiro nome ao qual chegaram não deixava dúvidas, não poderia ter sido outra pessoa que não ele, o Seu Tavares do térreo. O velho não tinha menos do que 350 anos, dirigia um Opalla 1974 preto como carvão, e todos sabiam: era um tremendo maneta.
-Rita, não me diz nada e nem me segura que eu vou estapear a cara daquele velho sem vergonha, até ele confessar que foi ele. É isso que vai acontecer, vou encher aquele velho de bofetada, e ele vai me dizer...
- Marco Antônio, senta aí! (voz de comado da Rita).
O Marco Antônio sentou, com só haveria de ser.
- Vamos os dois juntos até a casa do Seu Tavares e perguntar se ele, por ventura, não lembra de ter acertado alguma coisa quando saiu com aquela banheira dele da garagem, Tônio.

Acertou-se então que o Marco Antônio iria sozinho, mas que se a Ritinha ouvisse gritos e suspeitasse que o velho estava sendo agredido, ela desceria até o térreo, pegaria o Marco Antônio pela mão e as investigações terminariam ali, e ele que não se surpreendesse se ela vendesse o carro no dia seguinte.

Cada degrau que o Marco Antônio descia rumo ao térreo era marcado pelo toc-toc da batida de seu mocassim de sola de madeira no soalho. Ele não fazia questão de esconder que era um homem zangado e todos sabem como anda um homem zangado, ele anda fazendo toc-toc, isso é público. Quando chegou ao térreo os toc-toc não cessaram até chegar todo empertigado e cheio de si ao apartamento do velho Tavares, quando chegou lá: toc, toc, toc, bateu na porta.

O velho abriu a porta e pareceu assutado quando viu o Tonhão ali. Talvez assustado não fosse a expressão mais correta, ele pareceu perturbado e o nosso Sherlok Holmes contemporâneo percebeu isso. Tavares tentou fechar a porta rapidamente, porém, o Marco Antônio esperava esse isso do velho e usou toda a sua força para impedir o movimento. Contou também com a ajuda do tempo, afinal de contas, com suas centenas de anos o velho levaria uns 32 minutos até conseguir fechar totalmente a porta.
- Querendo esconder alguma coisa, Seu Tavares?

Continua nos próximos capítulos (dessa vez é de verdade).
Agradeço ao incentivo do grande escritor e não menor contador Cristian Schnidger.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Andando Sobre as Águas

Não dou grande atenção a detalhes e talvez esse seja um erro crasso ao qual me condeno todos os dias. O que acontece é que, justamente por isso, presto atenção num contexto geral das coisas e não em pequenos fatos isolados. Assim sendo, chamou-me a atenção uma frase que li e que foi proferida pelos lábios de um personagem histórico: “se meus inimigos me virem andando sobre as águas do rio Tâmisa, dirão que é por que não sei nadar”. Genial é o que é! Essa frase foi proferida pelas cordas vocais da Dama da Ferro Margareth Tatcher, Primeira Ministra Inglesa de 1979 a 1990, e sintetiza o que todos os inimigos pensam e dizem sobre seus rivais.


Tatcher era política e a política, como sabemos, é deveras rancorosa e despudorada. Na política é natural que se faça mais inimigos do que amigos, e são eles, os inimigos que dão o ritmo dos tambores sociais que tocarão durante uma campanha, embalando uma eleição, afinal de contas, são eles, os inimigos que nada mais tem a fazer a não ser acusar, com ou sem razão, é bom que se diga.



O que se sabe é que a frase da Dama de Ferro é estupenda para se dizer o mínimo, por que é justamente o que acontece com qualquer inimizade política. Eu gostaria de ser inimigo político de alguém, por que é fácil. É fácil por que as pessoas, talvez por uma necessidade natural, nunca estão contentes, e aí o tal do inimigo político apenas dá uma reforçada na insatisfação comum.



Quer um exemplo sem qualquer floreio? Um governante dinamiza o turismo, através de iniciativas variadas. Todos lucram, mas sentem-se satisfeitos? Claro que não, por que a lâmpada na frente da sua casa está queimada há mais de dois meses e ninguém a troca. Aí pronto, não mais há voto e menos ainda satisfação para com aquele governante.



Tenho notado que agora, nas vésperas das campanhas políticas, o oportunismo ganha corpo de forma descarada, e isso não é exclusivo em Gramado, e sim em todo o Brasil. Blogs, sites, colunas, rádios...há uma infinidade de espaço para se falar mal do que já se fez e tão pouco espaço destinado ao que está bom.



É fazendo essa análise que desencadeei nesses primeiros parágrafos que chego a uma questão crucial: não seria pouco moral um jornalista, no exercício de sua função pública que é a de fazer a notícia chegar até o leitor – e não sendo esse jornalista um assessor de imprensa – estar presente na alta cúpula de um partido político? Não perde credibilidade um a informação de um jornalista que sabidamente faz parte de um partido, principalmente quando esse mesmo jornalista apenas acusa e fala mal de um trabalho feito quando é sabido seu interesse oposicionista?

Me parece que sim, e em Gramado, se virem alguns governantes andando sobre as águas do Lago Joaquina Rita Bier, dirão que é por que ele não sabe nadar, ou por que há restos da estrutura do maior evento natalino do Brasil e que gera lucro para 90% dos moradores locais, espalhados nas margens do mesmo.



É meu amigo, talvez não prestar atenção nos detalhes me faça ver que num todo Gramado segue evoluindo constantemente e mesmo que a lâmpada da frente da minha casa não esteja acesa, eu consigo perceber que há muito mais em uma cidade do que o meu próprio umbigo.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Viva no Infinitivo

Sempre haverá, em qualquer circunstância alguém melhor do que tu. Essa foi uma frase que demorei vinte e dois anos para criar, pois além de ser uma frase, é também uma análise de vida, e sabe por que? Por que é assim, sempre tem alguém, em algum lugar do mundo, ou mesmo aí do teu lado que vai ser melhor do que tu.
Aí tu dirá que és um cara inteligente e que foi o campeão invicto do torneio de xadrez no ensino médio. Tá, foi mas e o resto do mundo? E o Kasparov? Eles são melhores do que tu, invariavelmente.
Ok, o xadrez é tarefa para poucos, mas eu sou um bonitão, tu vais querer me dizer. Ao que respondo que tudo bem, podes ser um exemplar digníssimo da raça humana, mas enquanto o Brad Pitt viver, todos os outros homens do mundo seguirão sendo apenas outros homens do mundo.
É, mas e aqueles que são bons escritores? Sim, há aqueles que tecem textos excepcionais e que tem o grande mérito de prender a atenção do leitor por parágrafos e mais parágrafos. Eu, por exemplo, me arrisco na arte do humor vez que outra. Crio contos com personagens fictícios que vivem histórias engraçadinhas no dias atuais. Tá, pode-se dizer que são legais os textos, mas e o Luís Fernando Veríssimo? Não é melhor do que eu? É claro que é melhor do que eu.
Em qualquer campinho ou várzea que se vá, terá aquele gurizinho que será melhor do que os outros no futebol. Ele pode ser bom mesmo, por que, principalmente no Brasil é natural que se nasça sabendo jogar bem. Mas e o Messi? Ele não é melhor do que tu? É claro que é melhor do que tu, e melhor do que o Neymar, e melhor do que o Ronaldinho Gaúcho...o Messi é melhor do que quase todo mundo.
Então, não terá nada nessa vida que tu faça melhor do que todo mundo? A resposta é simples, companheiro e vê se presta atenção por que é outra análise que eu demorei longos 22 anos até descobrir. Tá preparado? Lá vai: não interessa! Isso mesmo, não interessa se tu não é melhor do que os outros. Tu precisa única exclusivamente ser melhor do que tu mesmo. Tu precisa, ao longo do tempo ser o melhor de ti que tu pode ser. Pronto, simples assim. Se há pessoas melhores do que tu no mundo, bom pra elas, aposto, meu caro, que haverá pessoas melhores do que elas também, e o tempo de todos passa, e um dia alguém vai ser melhor do que os melhores. É assim, a vida vai passando e só o que fica são as coisas que tu fez. Nada mais.
É por isso, meu amigo, que te aconselho a viver. Gaste dinheiro, viaje, faça festa, se apaixone e transe, ou não se apaixone, mas transe. Se divirta mais do que trabalhe, jogue mais vídeo game. Aproveite o tempo com as pessoas que ama, faça mímica, jogue cartas. Dance, coma muito e tudo o que tens vontade.
Beije, use, seja, viva, torça, chore, sorria, sofra, vibre, mande, abane, mude, siga...abuse dos verbos no infinitivo, por que tenha certeza que uma hora ou outra eles serão teus melhores amigos, teus e de todas as outras pessoas, melhores ou piores do que tu.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Clube de Trova Interativa

Eu, mesmo sendo um cara chato, pobre e sem serventia, tenho amigos. São amigos especiais, como todo amigo é. Daqueles que se carrega no peito por uma vida inteira. Tenho bons amigos no jogo de futebol, tenho bons amigos no ambiente de trabalho, bons amigos na faculdade, bons amigos na academia, e acima de tudo tenho bons amigos na vida.

É com um desses bons amigos da vida, chamado Cristian Schnidger que lanço-me em uma nova campanha bloguística. O amigo em questão é um puta escritor, e um cara genial, portanto, tenho certeza de que se o blog não der certo em termos midiáticos, ele servirá para darmos boas risadas e unirmo-nos uma vez mais, visto que esse meu amigo mora em Porto Alegre e eu permaneço estático aqui em Gramado.

Bem, o blog chamar-se-á CTI- Clube da Trova Interativa, e deve começar a vigorar a partir do final desta semana ou no início da próxima. Nele pediremos encarecidamente ao público que faça o obséquio de escolher uma situação e um lugar, e nós, os humildes blogueiros criaremos um conto, no qual utilizaremos a trova, a retórica, ou o popular “xalalá” para que tenhamos uma histórinha divertida e quem sabe atraente, nem sempre tendo a ver com um homem conquistando uma mulher. Por vezes a trova se faz necessária para escapar de um problema no trabalho, ou na escola, ou em qualquer lugar que seja.

Conto com o apoio de todos os meus leitorezinhos, que são tão estimados por mim, e que aturam minhas bobagens há tanto tempo, nessa nova empreitada, deixando claro que não abdicarei do Ah Pois é, pois ele é minha cria mais antiga e nele expresso o que penso, em crônicas, o que não acontecerá no CTI.

Bem, se vocês, queridões quiserem conhecer um pouco da excelente escrita de meu companheiro de blog, Cris Schnidger, entrem em www.nadacerto.blogspot.com, e deparem-se com esse grande e criativo escritor.Um abraço a todos.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Uma História Saudosista

Acabo de olhar um dos melhores filmes já produzidos. Os créditos ainda rolam na tela de minha televisão e meus olhos estão marejados por lágrimas que só não caíram de forte que eu sou, e que sou homem, e homem não chora.
Eu me considero um cara esperto. Não, talvez esperto não seja a palavra. Inteligente, quem sabe. O fato é que mesmo considerando-me alguém com um pouco de conhecimento sobre uma ou outra coisa, e já tendo lido livros e mais livros e visto filmes e mais filmes, o filme que acabo de ver, e que tanto me tocou chama-se “Rei Leão”. Sim, esse mesmo Rei Leão que tu estás pensando, do Mufasa, Simba, Scar ( aquele safado), Timão, Pumba e cia Ltda. Esse é um dos melhores filmes que já olhei em toda a minha vida.
Explico o por que. Filmes são sentimentos, são pequenos preenchedores de espaços vazios que temos na nossa alma. Filmes são sensações das mais variadas em uma mesma história. Filmes não necessariamente precisam ser inteligentes para que sejam geniais. A genialidade por vezes se esconde nos pequenos atos, e nos mais singelos personagens.
O Rei Leão me preenche um espaço vazio da alma, pois me remete há longos 17 anos, quando eu ainda era uma pequena criança, trocando palavras e fazendo manha para ganhar um kinder ovo. O Rei Leão, desperta em mim um sentimento assaz saudosista, que me lembra do quão feliz eu era, e do quão rapidamente as coisas mudaram. Me lembra que eu cresci e que o tempo, invariavelmente apenas avança e jamais, absolutamente jamais retrocede.
Sendo ou não um filme feito em 1994, indicado ou não indicado para crianças, o Rei Leão é uma história arrebatadora. Não se pode usar qualquer expressão diferente de arrebatadora para predicar este filme, que ao longo dos tempos veio adquirindo fãs que cresceram junto com o Simba, junto com a Nala, e despejaram lágrimas, como as que me preenchem os olhos agora, ao lembrar da desolante morte de Mufasa. Um filme de qualidade nos mexe os sentimentos. Desperta as mais variadas reações, sejam elas positivas ou negativas, e ai, não importa se a história é criada por Beckett, ou é uma produção dos estúdios Disney, tudo se transforma e recebe apenas duas definições: bom ou ruim.
O Rei Leão é bom. É muito bom. É um filme que me faz pensar apenas coisas boas. Me faz pensar no quanto nós, crianças dos anos de 1990, divertíamo-nos sem internet, I Phone, I Pad, I Pod...sem qualquer criação da Apple. Como éramos felizes tendo o pouco que fosse. Vivíamos numa fase iluminada, onde pega-pega, e arminhas de água eram as verdadeiras brincadeiras. Sagrávamo-nos campeões do torneio de duplinhas de futebol no meio da rua, com quatro tijolos como goleira. Fazíamos tudo isso, e quando chovia, olhávamos Rei Leão, Blink Bill – esse não tão famoso, mas mesmo assim eu era fã -, ou ainda Bernardo e Bianca. Sim, nós crianças dos anos 1990 fazíamos coisas de criança, por mais absurdo que possa parecer. Não olhávamos Big Brother, embora pareça surrealismo, e o que de mais tecnológico tínhamos era um relógio, em casos extremos, para que soubéssemos a hora de voltar para casa.Os tempos mudaram, e com ele mudaram as crianças que não mais brincam no pátio de casa, não mais usam arminhas de água, em muitos casos não respeitam seus pais, e por último, e muito mais grave do que qualquer outra coisa que possa acontecer a uma criança da geração Z, elas não sabem quem é o Simba, menos ainda que o Scar é um safado.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O Fazedor de Planos

A história de um homem que mudou por uma mulher

Antes mesmo de sair da cama ele já traçava os planos de como seria o seu dia. Mesmo que involuntariamente pensava: “saio da cama, e ainda sonolento vou até o banheiro onde escovarei os meus dentes, lavarei o rosto e resumidamente farei minha higiene pessoal. Depois disso, coloco a roupa que ontem já deixei separada. Ai vem meu café da manhã, que hoje será cereal com bananas. Feito isso, saio rumo ao meu trabalho, hoje vou a pé, pois o dia está bom e, pensando bem, nem é tão longe. Se bem que eu sempre vou a pé. Bom, hoje vou a pé de novo, não quero gastar com transporte...”. Tudo metódico, e as reticências dão lugar a mais centenas de pensamentos que colocam em ordem o dia dele. Nada sem programação, tudo muito bem organizado, que vida ele leva.

Até chegar no trabalho, é tudo igual. Ele conta quantos passos foram dados de um destino ao outro, por vezes variando ao contar o número de janelas nos edifício de cor azul que encontra no caminho, ou ainda conta quantos minutos, segundos, milésimos e centésimos demora a chegar. De fato, ele leva uma vida metódica, cheia de regras e com muito, mas muito pouca diversão.
Ao chegar no trabalho, separa tudo conforme as cores: post it's amarelos ficam junto da caneta marca texto da mesma cor, bem como as folhas de ofício ficam junto do calendário da Caixa Federal que em geral tem a mesma cor. Tudo é de uma simetria constante, que a todos irrita, menos a ele mesmo. Até aquele dia a vida dele fora a mesma, sem exceções à regra, sem pormenores, sem entrelinhas, sem nada que fosse interessante. Nada de mais, nada de menos, tudo sincronizado, uma vida regrada, em um mundo desregrado pode ser e geralmente é de uma chatice entediante. Mas ele estava feliz, pois assim ele é, e assim as coisas não podem dar errado em sua vida, pois não há nada que lhe chame atenção, além de seu próprio mundinho. Aqui cabe uma pequena correção no tempo verbal, portanto refarei a frase escrita anteriormente: “...não havia nada que lhe chamasse atenção...”. Nada lhe chamava a atenção até ela aparecer.
Dentro daquela saia apertada, desfilando suavemente, como orvalho em uma manhã de outono, macia, e delicada, com o cabelo liso, preso de forma tão contundente, e ao mesmo tempo tão provocativa. Ninguém poderia resistir, nem mesmo ele, que pela primeira vez na vida, provou o gosto de ser homem, com seus sentidos, e seus desejos. Ele enfim desejou alguém. Desejou-a fervorosamente, e por alguns minutos esqueceu-se de métodos, planos, contagens...esqueceu-se de qualquer coisa que não fosse aquele rosto angelical, e aquele corpo devidamente proporcional. Sim, ele agora tinha um novo motivo pelo qual viver e dedicar-se-ia a ele de forma resoluta e contundente, pois ela significava uma razão pela qual viver. Razão essa que até hoje ele não tivera.
Mudou da água para o vinho. Tornou-se outro homem, um exemplo simples de como uma mulher transforma um ser humano. Comprou roupas de grife, e não saia mais de casa sem borrifar o seu Kouros duas vezes no corpo. Aprendeu sobre vinhos e leu centenas de livros sobre gostos femininos e como encantar a conquistar uma mulher. Cozinhar agora também era um de seus afazeres prediletos. Não que fosse metódico para conquistá-la, mas queria que tudo desse certo, pois ela era o grande amor de sua vida.
Convidou-a para jantar, ele faria a janta, escolheria o vinho e prometeu a ela uma noite inesquecível. Aprendera isso nos livros que leu e havia anotado mentalmente (prometa coisas divinas, instigue a mulher em questão. A faça achar que será tratada como única e especial, e de fato a trate assim. Com isso e um pouco de talento, você deve conquistá-la). Fez isso. A janta foi um sucesso, preparou belos camarões rosa, não sem antes se certificar de que ela gostava de frutos do mar. Escolheu um bom vinho branco para acompanhar o prato, e concedeu-a uma noite singular. Ela fora arrebatada pela sua cordialidade, seu fino trato, sua perspicácia com as palavras. Ele foi um verdadeiro cavalheiro e ela não poderia ir embora sem antes dar-lhe um prêmio por isso. Ela beijou-lhe. Primeiro timidamente, como se tivesse medo que a recíproca não fosse verdadeira. Ela a tomou nos braços, de forma suave no começou. Depois ela beijou-lhe com maior fervor, com mais calor e ele estreitou os braços em torno da cintura dela. Tudo foi ficando quente, e em poucos minutos eles estavam na cama.

Essa história mostra o quanto um homem pode mudar por uma mulher. O quanto um homem pode tornar-se melhor por uma mulher, e o quanto vale a pena mudar por uma mulher...

Ali, na cama, ele beijou o seu pescoço, lambeu-lhe vagarosamente os seios, e passou com as mãos por cada ponto sensível e erógeno do corpo dela. Ele saiu-se verdadeiramente bem e, após entender que a havia conquistado ainda em meio ao calor do sexo bem feito, pensou mentalmente: “depois da penetração, vou pegar firme suas duas mãos, e imobilizá-la, para que veja que estou no comando. Depois disso, vou beijar-lhe a nuca. Contou uma, duas, três vulgares estocadas, e repetiu baixinho no ouvido dela: na quadragésima, eu quero de quatro”.
… um homem pode mudar por uma mulher, mas não se engane companheiro, ou nesse caso, companheira, geralmente, não é para sempre.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A primeira vez do Jandir

Quinze filhos de umas putas anos. Quinze malditos anos, e nada de sexo na vida do Jandir. Com quinze anos ninguém é mais virgem em todo o mundo, exceto o Jandir. Enquanto seus amigos refestelavam-se com moçoilas das mais variadas etnias, das mais variadas idades, e dos mais variados sabores, Jandir seguia ali, olhando Cine Band Privet, e acariciando-se de forma afoita.

- O Jandir não come ninguém! - debochou um certo dia o Cleiton, que contava vantagem por já ter feito três “vítimas” - como ele gostava de chamar as meninas que levara para a cama. - Fica o dia inteiro no cinco contra um e não sai do lugar.

Sim, é claro que o Jandir era motivo de piada. Ele alegava que não comia ninguém, por que não queria comer qualquer uma como faziam seus amigos, mas a verdade é que tinha medo. Não que fosse feio, ou tivesse um pintinho de nada. A verdade é que apavorava-se sempre que pensava em como começar os trabalhos de “coito” com uma menina. Pensava em como faria para satisfazê-la e pensava como seria se ele frustrasse as expectativas.

Tudo ia mal na vida do Jandir, até ele entrar num chat intitulado: “Sexo para quem ainda não o fez”, e conhecer a Rita Domênica. Conversaram primeiro por horas, depois por dias, e depois por dois meses, até finalmente decidirem que iriam se conhecer pessoalmente.

Depois de tudo combinado, Jandir contou os dias até o tão esperado encontro. Vestiu sua melhor camiseta, botou seu jeans mais novo, seu tênis de molhinhas mais lustroso, e foi encontrar Domênica, no parque central.

Esperou por trinta minutos e ela apareceu. Não, não podia ser ela, não devia ser ela, não queria que fosse ela. Domênica era na verdade e Alice do colégio, a Alicinha que todo mundo já tinha comido, inclusive o Cleiton. Alicinha chegou perto, com seu ar vulgar e intimidou Jandir, quando falou:
- Tu sabia que era eu, seu bobinho?

- N...não, nem imaginava.

- Eu sabia o tempo todo que era tu. Sempre quis ter alguma coisa contigo, seu safadinho.

E assim foi, Jandir levou Alicinha para sua casa que estava vazia a tarde inteira. Beijou-a demoradamente o pescoço, e depois cada parte do seu corpo. Demorada e delicadamente. Até passar as duas mãos, uma por cada lado da cintura dela, nua, e apertar seu corpo contra o dela. Ali em cima da cama da mãe do Jandir, ela a possuiu. Encaixou com perfeição as duas mãos na cintura de Alicinha e repousou apenas as costas dela no colchão. As pernas da presa, quentes e cujos pequenos e loiros pelos eriçavam-se tal qual gato prestes a dar o bote, trançaram a cintura do Jandir, e ele a teve. A teve por longos minutos de forma insaciável e voraz. A teve como jamais algum outro homem um dia a teve. Sentiu seus quadris movendo-se de forma absoluta e determinada.
Jandir sabia que tinha o controle sobre Alice, e percebeu, que enquanto passava resoluto a mão direita pelo seio dela, houve uma contração feroz. Ele a fizera gozar de prazer, e da mesma forma a acompanhou em sua deixa, sentindo-se o maior e mais fogoso amante que a Alicinha já tivera.
Quando ela largou-se na cama, suada e com os seios arrebitados, proferiu:
- Caramba Jandir, que loucura. Não esperava tanto. Da última vez que criei expectativa sobre alguém, foi com o Cleiton e no final, ele e aquele pintinho pequeno e murcho nem sequer funcionaram comigo.
Jandir espreguiçou-se, levantou da cama, olhou-se no espelho com um sorriso doentio. Agora o motivo de piada não era mais ele, e sim o Cleiton com seu pequeno e murcho pinto inútil.