Lembro-me tão saudosamente das salas de aula da Colégio Estadual Santos Dumont. É com um carinho irresoluto que lembro-me, pois foi nessa escola que aprendi quase tudo o que sei hoje. Durante as aulas de Português, por exemplo, aprendi coisas que até hoje estão impregnadas em meu âmago e são presentes corriqueiramente em minha vida.
Das
coisas que os amados mestres me ensinaram lembro-me de artigos e
pronomes, de gêneros e graus, de sujeito, verbo e predicado.
Lembro-me de coisas que hoje compõe minha rotina diária de
trabalho. Devo a todos os professores que pela minha vida passaram
uma infinidade de agradecimentos, pois foram eles que, de pedaço em
pedaço, construíram um pouco do que hoje carrego comigo, dentro
deste cérebro que agora pensa na continuidade do texto que tu, meu
amigo, lê neste momento.
Há tanto
a agradecer, mas também há coisas que preciso contestar. Machado de
Assis é uma delas. Por Deus, não há como ler Machado de Assis
quando se é menos do que um adulto. Machado de Assis transcende o
que um aluno normal, com pouca idade pode entender e aí acontece o
que vem acontecendo com os jovens atuais: eles não gostam de ler.
Machado
de Assis, Jorge Amado, Érico Veríssimo, são autores geniais, mas
são autores que não geram qualquer tesão na juventude, pelo
contrário, se tornam obrigações e tudo o que é obrigação é
chato, ainda mais quando se está interessado em Harry Potter's,
Crepúsculo's, Percy Jackson's. E é deveras saudável que a
juventude se interesse por esse tipo de leitura fantasiosa, afinal de
contas, todo livro é um livro e tudo o que te traz conhecimento deve
ser louvável. O que acontece é que é precisa se empregar nas
escolas livros de autores que façam a juventude gostar de ler, e não
ser obrigada a ler.
É bem
verdade que livros de fantasia norte americanos não enriquecem
culturalmente tanto quanto a “Macunaíma” e nem podem ilustrar a
um aluno o que é o Romantismo, ou o Realismo, ou seja lá de qual
gênero literário felemos aqui. O que acontece é que eu, no auge de
minha incapacidade também não fui enriquecido com essa literatura,
pois não entendia bulhufas dela quando a tentei ler. Até hoje,
depois de velho, algumas leituras que exigem maior atenção se
tornam massantes para mim, mesmo que sejam pra lá de enriquecedoras.
Ler é uma atividade tão saudável, mais do que isso, é uma atividade prazerosa. Um bom livro pode gerar um prazer inenarrável, e o que é melhor, pode gerar conteúdo nas pessoas, e não racionalizar sua inteligência como é o caso de algumas redes sociais tão utilizadas pela vanguarda. É muito mais provável que se veja a juventude moderna enfurnada em frente a um computador, ou em frente a uma televisão, olhando séries americanas de vampiros, bruxas e lobisomens, do que em uma feira literária, e é por isso que acho assaz interessante a ideia de contratar Gabriel o Pensador para a patronagem de um evento literário.
Jovens
precisam de exemplos, precisam de ídolos, ícones, heróis. OK, o
Gabriel o Pensador pode não ter escrito músicas brilhantes, mas é
um músico e esse fato por si só já o credenciaria a ter acesso
direto às mentes juvenis que clamam por cultura. Acontece que além
de músico, Gabriel é um pensador, com perdão do trocadilho.
Gabriel é um cara com uma cultura fantástica, com um pensamento
aberto e um raciocínio veloz. Do que mais precisam as crianças de
hoje, se não todos os predicados do Pensador? Além disso, o músico
também é escritor, e um de seus livros, voltado justamente para a
infância moderna, já ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura, o que o
dá ainda mais moral.
O cachê,
isso foi o que realmente pesou para que toda essa confusão
envolvendo uma Prefeitura da Serra Gaúcha e o músico/escritor em
questão fosse desencadeada. Alguns autores se sentiram menosprezados
financeiramente, pois receberiam valores infinitamente menores do que
o carioca Pensador. E daí? Qualquer dinheiro é pouco para incrustar
o hábito da leitura, da educação, e da informação nas cabeças
de uma cidade, e principalmente nas cabeças das crianças de uma
cidade.
Gabriel o
Pensador pode não ser um gênio como foi Machado de Assis e nem será
lembrado ao longo da história como é lembrado Machado de Assis, mas
em tempos de funk, sertanejo universitário, rebolation e poesias sem
graça e sem vida, o Pensador pode erguer os dois braços para o céu
e dizer: se há de se fazer cultura nas escolas, então que eu seja
Gabriel Machado de Assis.
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