(Como seria um conto romântico escrito por Camus, Kerouac, Robbins, e outros daqueles que mostram que a vida é mais simples do que poética)
Teve um
dia que eu saí de casa. Coloquei meus óculos escuros, tomei uma
dose de Jack Daniel's cowboy, duas aspirinas e, sem me preocupar com
figurino ou aparência, toquei-me porta afora. Saí determinado, até
a primeira rajada de vento me trincar por dentro e me lembrar que
frio do cacete fazia naquele dia. Voltei. Vesti um casaco de lã e aí
sim saí, mais determinado do que antes.
Como eu
sou homem e homem anda com verdade, anda demonstrando o quão seguro
é, fiz isso. Andei batendo os pés no chão, com força, marcando
meu território e mostrando a todos aqueles bunda-moles que
desfilavam suas caras blasé ao meu redor o quanto aquilo me
pertencia e o quanto eu estava pouco cagando pra eles.
Meus
sentimentos me socavam a cara e só o que eu queria era poder chegar
logo na porra daquele lugar e resolver aquela situação, porque é
absolutamente medíocre e prosaico permanecer débil diante de algo que se pode resolver com um lance, com poucas palavras.
Quem sabe eu resolvesse tudo com apenas um gesto.
Não era
pra ser, mas um cara saiu correndo e se atravessou na minha frente.
Babaca era aquele cara, porque me rodeava como um louco e balançava
os braços e pernas freneticamente. “O que tu quer?”, perguntei
pra ele. “Mim não querer nada”, ele disse.
Que diabos! Só me aparecem loucos. “Então 'mim' vá não querer nada pro lado de lá, rapaz”, eu disse e empurrei ele. Ele caiu e ficou lá, se balançando como um epilético. Eu não dei bola, porque sabia que ele não tava fazendo aquilo porque era epilético; fazia porque era louco, ou porque queria me incomodar.
Continuei
andando e pouco me importando para aquele idiota, mas pensando também
no porque de tanta gente louca me cercar sempre. Estou sempre perdido
em meio aos loucos e àqueles que não sabem o que querem da vida.
As pessoas são atraídas por atitudes, então eu me perguntava o que
de errado eu estava fazendo? Como estava me comportando para aquele
gente toda estar sempre em volta de mim. Que gente chata do caralho.
Que me deixassem em paz, porque eu não aguento louco. Eu não quero
aguentar loucos. Eu me basto.
E
tem outra coisa. Eu li muito pouco Freud e consumi muito pouca
filosofia pra saber o que eu tenho feito de errado. Eu sou um boca
aberta e não tenho capacidade para saber se as pessoas loucas param
perto de mim, porque eu sou louco, ou justamente porque não sou. Não
cabe a mim decidir isso. Cabe a mim, sim, dizer a essa gente chata
que eu não quero elas perto de mim. Não quero que elas fiquem me
enchendo o saco, porque eu não gosto nem das pessoas legais, imagina
então das chatas. Deem um tempo.
Em
todo o caso eu já nem pensava mais isso quando cruzei por aquele
chafariz lotado de pombos. Eu odeio pombos, porque eles não podem me
ver sem cagar em mim. Todo pombo me vê como um alvo. Eu devo ser
vermelho e deve estar escrito “100” na minha cabeça e o pombo de
melhor mira, que me acertar, ganha um prêmio. “Pombos
filhos-da-puta, me cagaram!”.
Dessa vez eles erraram a cabeça, mas acertaram a droga do meu casaco preto. Juntei um jornal velho do chão e limpei a porcaria que me fizeram os pombos. Não queria perder meu tempo com drogas como aquela, então segui adiante.
Agora
sim eu estava chegando onde queria e já começava a pensar outras
bobagens. Tava pensando no quanto de Stephen Dedalus cada um de nós
tem. No quanto um dia pode ser uma odisseia como a de Ulysses, e como
as pessoas podem fazer de situações ridículas e simplórias
ocasiões formidavelmente orgásticas. É claro que eu não teria a
resposta, mas parto do princípio que a vida, na maioria das vezes é
uma grande bobagem totalmente sem graça, então, a não ser James
Joyce, ninguém mais a deixaria divertida.
Mas
aí, eu consegui chegar onde quis chegar desde o começo. E lá
estava você, com a mesma cara que sempre teve, com os mesmos olhos
claros, o mesmo cabelo loiro ondulado, com a mesma boca feita para
ser beijada. Lá estava você com aquela cara de quem diz: “aqui
estou eu, e sou toda sua”.
Caminhei ainda mais determinado até você, e quando cheguei, te beijei demoradamente, e apartei bem o teu corpo contra o meu. Depois disse que te amava e você concordou. Aí, a gente se deu as mãos e saímos caminhando como dois namorados, e não nos importamos se havia ou não gente idiota ao nosso redor; dali por diante, não haveria loucos...dali por diante haveria apenas nós dois.
Caminhei ainda mais determinado até você, e quando cheguei, te beijei demoradamente, e apartei bem o teu corpo contra o meu. Depois disse que te amava e você concordou. Aí, a gente se deu as mãos e saímos caminhando como dois namorados, e não nos importamos se havia ou não gente idiota ao nosso redor; dali por diante, não haveria loucos...dali por diante haveria apenas nós dois.