Na
tentativa de livrar-se daquilo, ela vivia em terceira pessoa, deixando
sua alma vagar pelos mais diversos confins, pensando que, ao
imaginar-se Emma Bovary esconder-se-ia de si mesma dentro do único
refúgio disponível e que jamais seria penetrado: sua mente.
Aquela
mente imaginativa, toda cheia de muros, barreiras e portadora de um
mundo único, impenetrável, o mundo do eumesmo. “Eis aí um lugar
bom para se estar, o fabuloso mundo do eumesmo”, pensava enquanto
violavam-na, enquanto execram-na de maneira débil, frívola e
libidinosa.
Queria
estar a vida toda naquele mundo alegre de seus próprios pensamentos,
da sua própria concentração, seu mundo singular. Ali, dirimiam-se
dúvidas, esvaíam-se sentimentos de ódio, de dor...a dor que lhe
fulgurava o corpo, ali nem sequer existia. Estava sozinha ali, ou
acompanhada por seres mágicos, seres que, diferentemente de todos os
humanos que conhecia, eram bons.
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