O
tempo, que a tudo aterra, atirou a última pá de cal na minha
adolescência não tão longínqua, tão logo morreu Chorão da banda
Charlie Brown Jr. Enquanto o mundo olha para a morte do Presidente
venezuelano, eu aqui, em minha humilde insignificância chateio-me
muito mais com a notícia do óbito desse que considero um poeta.
Durante
muito tempo fui fã da banda cujo vocalista partiu sem mais nem menos
e sem sequer se despedir. É bem verdade que com o ingresso na vida
adulta, deixei pra trás tal predileção, como sempre deixamos as
coisas da adolescência, mas tal qual o primeiro amor, aquilo que fez
parte tão intensamente da nossa vida, enquanto jovens, permanece
para sempre circunscrita no coração, como uma tatuagem forja uma
marca eterna na pele.
Nós
que já tivemos Raul, nós que já perdemos Cazuza, Renato Russo, nós
que já criamos e enterramos tantos poetas, perdemos mais um. Sei
que, possivelmente, considerar-me-ão um acéfalo por julgar Chorão
um poeta, mas convido a quem, por ventura pense assim, a escutar
algumas das canções menos populares do falecido. Canções como “O
Preço”, como “Lugar ao Sol”, entre outras são verdadeiros
exemplos de que realmente, em tempos de “Lek, Lek” e do sertanejo
universitário, perdemos uma daquelas pessoas que gostaria de mudar o
Brasil, algo que a cada dia rareia mais.
Cada
parágrafo do texto que escrevo – e que agora tu lês – é
norteado por uma canção do Charlie Brown, e são tantas passagens
incríveis que penso, deixando pra lá tudo o que de errado Chorão
já fez, que a geração que cresceu ouvindo Charlie Brown criou-se
mais engajada, mais politicamente atuante, menos acomodada do que uma
geração que vejo agora dançando e ouvindo a volumes execrantes
músicas sem sentido e sem moral.
Não
valho-me desse espaço para julgar e sequer condenar alguém,
valho-me sim dele para dizer que essa perda levou consigo a trilha
sonora da minha juventude, porém, como quem realmente faz valer sua
estadia na Terra deixa seus rastros, o Chorão se foi, mas suas
músicas seguirão tocando no meu player, seja com a idade que for,
ouvir Charlie Brown me traz um bom sentimento, nostalgia quiçá,
porém, acredito ser muito mais provável que seja realmente alguns
ensinamentos que o mestre Alexandre Magno Abrão, que é esse o
verdadeiro nome dele, deixou. Uma dessas mensagens está presente na
música “Como Tudo Deve Ser”, que diz: “Vamos Viver Nossos
Sonhos, Temos Tão Pouco Tempo”.
Assim
sendo, viva seus sonhos, companheiro, afinal de contas, eu, tu e
todos os outros temos tão pouco tempo, menos tempo talvez do que a
minha já falecida e enterrada adolescência.
Só o que é bom dura tempo bastante pra se tornar inesquecível: vai com Deus Chorão! |
4 comentários:
Incrível o sentimento que você conseguiu transmitir com tão lindas palavras! Parabéns!
Já li esse texto umas três vezes e a cada leitura, percebo detalhes diferentes e ricos na tua forma de escrita. Como sempre digo, tenho orgulho de ti por esse talento, meu caro.
P.S. A foto dos cds, sobre a luminária e em forma de cruz, ficou fantástica. Parabéns ;)
Rosangela!
Que bom que sentiste a vibração do texto. É preciso usar das palavras para despertar sentimentos que muitas vezes estão em sono profundo.
Obrigado
Fredi, meu príncipe! hahaha.
Obrigado por mais um comentário por aqui.
O texto foi feito meio às pressas, porém com muito sentimento, o que o torna um tanto quanto arrebatador.
Agradeço pelos elogios e da mesma forma orgulho-me em ser teu amigo.
Abração
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