A
Copa do Mundo do Brasil será o maior e mais importante evento realizado em
território nacional em todos os tempos. Não porque o Brasil é o país do futebol,
e é. Nem porque o povo brasileiro é um dos mais alegres do mundo, e é. Menos
ainda porque nossas mulheres são objeto de desejo de dez em cada dez homens ao
redor do globo, e são. A Copa do Brasil será o maior de todos os eventos para
nós brasileiros, pois mostrará ao mundo um país sem rumo e, quem sabe, mudará a
trajetória de uma morte há tanto tempo anunciada.
Faltando menos de três meses para o início do maior evento
esportivo já realizado em solo tupiniquim, existe apenas uma certeza: a
Presidente do Brasil não se fará presente na abertura do evento, com medo de que
retumbe um sonoro coro de vaias em réplica ao seu discurso. Veja que absurdos
nós brasileiros somos. A chefe de uma nação tão alegre, temendo vaias
depreciativas.
Obras que andam a passo de formiga, estádios que em seu limitado
percurso de execução quase dobraram de valor, estrutura viária reduzida e a
certeza de um trânsito abarrotado de veículos, pedestres, discussões,
nervosismo. Obras inacabadas, empurra-empurra de responsabilidade. O famoso
jeitinho brasileiro será escrachado ao mundo, um jeitinho safardana, um jeitinho
irresponsável, um jeitinho imoral. Que pena eu tenho de todos nós vexatórios
brasileiros.
Haverá festa, haverá euforia, haverá futebol do mais alto nível e,
mesmo com todos os problemas, não haverá ser vivo nascido em terra verde e
amarela que não vá torcer para que a seleção Canarinho fature o hexa, contudo,
as notícias sobre desigualdade social, sobre corrupção, desvio de dinheiro
público, miséria, precariedade da saúde pública nos grandes centros, a ausência
de um sistema educacional decente...todos os nossos problemas correrão o mundo
como pólvora, mostrando até aos evoluídos orientais o quanto pode ser pobre um
país tão rico.
Joguemos futebol, que a bola cura tudo, daremos então um
chapeuzinho nas doenças, um drible da vaca no desemprego, metamos a bola no meio
das canetas da miséria. Façamos um gol na gaveta (sem alusões) da corrupção, e
enfiemos uma goleada na desorganização de um país eternamente subdesenvolvido.
Pensemos assim que dói menos.
Que
o Brasil ganhe para que, no momento em que a seleção estiver levantando o
caneco, vibremos feito loucos, finjamos que estamos em um país de verdade: a
Alemanha, talvez, e que somos um povo evoluído, um povo educado. Esqueçamos, ao
menos por alguns instantes que naquele mesmo momento, haverá um sertanejo pobre
morrendo de fome, haverá um professor verificando sua conta negativa no banco,
haverá filas e mais filas nos hospitais das principais cidades do país. Enquanto
estivermos levantando a taça, mesmo que tentemos esquecer, o Brasil seguirá
sendo apenas o Brasil.
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