Noutro
dia, enquanto eu estava em Buenos Aires pensava no que muitos pensam
quando estão em Buenos Aires: Jorge Luis Borges. Pensava no quão
difícil é, para um sul-americano perpetuar seu nome nos anais da
historia literária, valendo-se unicamente de talento, e enquanto
pensava isso, bateu-me um desânimo por lembrar que mesmo os maiores
autores brasileiros não têm sua obra vista como realmente influente
ao redor do mundo. Aí pergunto-me: e eu?
É
evidente que eu, em minha humilde insignificância, nem sequer almejo
colocar minha obra literária (aqui há o espaço para risadas) nas
estantes de livrarias do mundo todo e ter meu nome comparado ao dos
maiores escritores que já existiram, por que a mim não falta uma
coisa que falta a muitos: noção. O que acontece é que eu me sinto
frágil quando percebo que, mesmo escasso, o dom da escrita é um dos
únicos que tenho e ele não vai me levar a lugar nenhum. Entende o
meu desespero?
Quando eu
vejo, por exemplo, que o Fitzgerald escreveu o antológico “Great
Gatsby”, com 28 anos, eu penso: “Deus do céu, o que esse mundo
reserva pra mim?!”, aí preocupo-me exacerbadamente com o meu
futuro, mas ao mesmo tempo me desgosto do presente, por que os anos
doismil do Brasil são tão mais chatos do que devem ter sido os anos
1920 nos States, e me consolo um pouco.
Sabe o
que? Eu me preocupo demais com o meu futuro por que essa é uma
condição irrevogável do ser humano, e digo mais: há duas
preocupações constantes na cabeça das pessoas; uma delas é com o
passado e a outra é com o futuro. Por que o passado sempre foi bom e
o futuro sempre precisa ser bom. Só que existe uma coisa chamada
presente e é nele que vivemos. Que te parece?
A
nostalgia do passado está tão entranhada no teu peito quanto está
no meu, por que nós sempre olhamos pra trás e dizemos: “que tempo
bom que não volta”, só que quando estávamos no tempo bom que não
volta, olhávamos pra frente e pensávamos: “daqui cinco anos eu
quero ser rico”, ou olhávamos mais pra trás ainda e dizíamos:
“tempo bom que não volta”, outra vez. Ô coisa chata que nós
somos.
Enquanto
estamos olhando pra frente ou para trás, esquecemos que há uma
ligação entre esses dois estados temporais, um momento no qual
realmente podemos fazer as coisas, ou seja, um período de tempo no
qual podemos saudar o passado e preocuparmos-nos com o que ainda está
por vir. Chamamos isso de presente.
A vida é
curta demais para que nos preocupemos com algo que já passou ou que
ainda está por vir. O melhor é gozar o tempo todo, entendendo que
com o passar do tempo e o andar da carruagem todas as melancias
certamente se ajeitarão, e, mesmo que faça sentido, é por usar
frases como essa das melancias que eu me preocupo cada vez mais com o
meu futuro e me certifico que não chegarei aos pés de Fitzgerald, o
que pouco me importa, afinal de contas, o Fitzgerald é passado, e
eu, a partir de hoje, só vivo o presente.