Queridos amigos que por ventura aqui vieram.
Sei que em suma, esperam por algo com humor, ou quiça algo pelo menos que se possa dar duas risadas secas ao final da leitura: “ha ha”. Peço perdão, pois hoje estou um tanto desolado, parece-me que só agora a fixa do que aconteceu com nossos pobres irmãos haitianos me caiu e eu me sinto impotente ante a essa situação. Aqui vai um texto que expressa um pouco da minha dor e do meu pesar. Espero que entendam.
"Girava em torno dos pés. Girava como se dançasse para esconder a tristeza. Tristeza essa que o coração inundava, e derramava junto ao pranto, que em detalhes lembrava tudo aquilo que lhe atrolhava o peito. Não fosse tudo o que aconteceu, não seria assim. Não estaria assim, afinal ela nunca fora assim.
Se milhares de pessoas mortas deixaram dor ao mundo, e à sua terra, o Haiti, a única dor que ela sentia era a da perda de sua filha. Aquela que com quem sozinha, dividia tudo o que tinha. Sua filha que saia de casa todos os dias, com sua mochila rumando para a escola. Muitos naquela região não tinham a mesma sorte, e não rumavam à escola. Rumavam sim, para o trabalho quase que sem remuneração. Mas a sua princesa, a haitiana mais linda do país, não. Ela merecia só o melhor, com seus oito anos, devia estudar para depois ser doutora.
Aquele cheiro putrefato que lhe nauseava, nem de longe era semelhante a dor lancinante que lhe assolava o peito. Não mais teria seu anjo negro. Não mais diria a ela: “M renmen w”, (eu te amo em creolé haitiano, a língua falada por quase toda a população daquele país). Não mais a veria, e menos ainda poderia toca-la.
A dor de uma mãe, analisando o corpo da filha, do qual se despede ali sentada na beira da calçada, aos prantos. Não deve haver dor tal qual.
Se eu te amo não mais pode-se dizer à ela, não ao menos em palavras diretas, mas sim em orações, o wè Do Na (adeus), traduz o sentimento da mãe e as palavras que teimam em engasgar-se naquela garganta, insistindo em não sair."
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