Todo mundo sabia que o Damião era comunista. Era uma espécie de estigma que ele carregava consigo pela vida toda. Jamais duvidaram que fosse um comunista. No grupo todos diziam, alguns pesarosos, outros nem tanto: “o Damião é comunista como não se faz mais hoje em dia”.
Havia quem dissesse inclusive que o Damião era parente distante do Stalin, algo que ele não desmentia, “minha avó era meio irmã do primo do Stalin, o comunismo é hereditário”, ele alegava.
E se outra certeza havia sobre a predileção do Damião, era que ele não gostava de futebol. Torcia pro Lokomotiv de Moscou, “só pra lembrar dos velhos tempos”, declarava.
Quando o Damião morreu o grupo de amigos resolveu preparar uma cerimônia de despedida estrondosa, como o Damião merecia, afinal de contas o mundo estava perdendo um de seus poucos comunistas.
- O Jeremias sugeriu que se pusesse uma bandeira do PC do B sobre o caixão do falecido. Ideia que teve repúdio total:
- Que isso, o Damião nunca teve preferência política por aqui. Dizia que só se o próprio Marx se candidatasse à Presidência da República, teria o seu voto.
- Sem bandeira então.
O Adão Preto declarou aos berros, como era de costume:
- E uma foto do Stalin?
- Ah! Isso sim. Podemos mandar fazer um caixão personalizado, quiçá escrito: “Damião Stalin Pereira”.
- Boa! Boa!
- Decidido, o Damião merece.
Após mais alguns detalhes, resolveram-se todas as questões do enterro, do velório e da cerimônia. O Adão Preto seria o orador, e faria um discurso sobre a falta do Damião no grupo de amigos e na sociedade civil organizada, a qual Adão preferia chamar de (des)organizada.
Havia quem dissesse inclusive que o Damião era parente distante do Stalin, algo que ele não desmentia, “minha avó era meio irmã do primo do Stalin, o comunismo é hereditário”, ele alegava.
E se outra certeza havia sobre a predileção do Damião, era que ele não gostava de futebol. Torcia pro Lokomotiv de Moscou, “só pra lembrar dos velhos tempos”, declarava.
Quando o Damião morreu o grupo de amigos resolveu preparar uma cerimônia de despedida estrondosa, como o Damião merecia, afinal de contas o mundo estava perdendo um de seus poucos comunistas.
- O Jeremias sugeriu que se pusesse uma bandeira do PC do B sobre o caixão do falecido. Ideia que teve repúdio total:
- Que isso, o Damião nunca teve preferência política por aqui. Dizia que só se o próprio Marx se candidatasse à Presidência da República, teria o seu voto.
- Sem bandeira então.
O Adão Preto declarou aos berros, como era de costume:
- E uma foto do Stalin?
- Ah! Isso sim. Podemos mandar fazer um caixão personalizado, quiçá escrito: “Damião Stalin Pereira”.
- Boa! Boa!
- Decidido, o Damião merece.
Após mais alguns detalhes, resolveram-se todas as questões do enterro, do velório e da cerimônia. O Adão Preto seria o orador, e faria um discurso sobre a falta do Damião no grupo de amigos e na sociedade civil organizada, a qual Adão preferia chamar de (des)organizada.
Pouco antes da cerimônia, estávamos na casa do Damião, com o aval da Carmem, esposa dele, procurando fotos para ilustrar nossa despedida, e foi aí que tivemos a surpresa de nossas vidas. Damião era capitalista.
- CA-PI-TA-LIS-TA – alguém falou.
Diversas contas em nomes de laranjas, esquemas de lavagem de dinheiro e até fotos com Bill Gates, Bill Clinton e uma série de outros capitalistas famosos no mundo, estavam escondidas nos confins do roupeiro do Damião. Além de tudo aquilo, descobriram uma bandeira do Esporte Clube São José de Porto Alegre, bem dobrada e uma foto na qual Damião aparecia comemorando o título da Segundona, abraçado ao treinador do time na época, Vasques.
Ninguém acreditou no que viu, e por mais que quiséssemos preservar a integridade comunista e de inimigo do futebol do Damião, a notícia vazou, e no velório ninguém acreditava, todos queriam saber:
- CA-PI-TA-LIS-TA – alguém falou.
Diversas contas em nomes de laranjas, esquemas de lavagem de dinheiro e até fotos com Bill Gates, Bill Clinton e uma série de outros capitalistas famosos no mundo, estavam escondidas nos confins do roupeiro do Damião. Além de tudo aquilo, descobriram uma bandeira do Esporte Clube São José de Porto Alegre, bem dobrada e uma foto na qual Damião aparecia comemorando o título da Segundona, abraçado ao treinador do time na época, Vasques.
Ninguém acreditou no que viu, e por mais que quiséssemos preservar a integridade comunista e de inimigo do futebol do Damião, a notícia vazou, e no velório ninguém acreditava, todos queriam saber:
- Mas e ai, torcia pro Zéquinha mesmo?
2 comentários:
Gostei.
haha! muito boa!
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