O litoral
gaúcho reserva surpresas inimagináveis. São centenas e centenas de
quilômetros compondo algumas das menos favorecidas praias que esse
mundo já viu. Há, é verdade, praias que possuem sua beleza
peculiar, como Xangri-lá, outras são grandes centros, como
Tramandaí, outras realmente são belas, como Torres, e há praias
que não oferecem nenhuma dessas opções. Em especial, há uma praia
que não oferece nenhuma dessas opções, e ela chama-se Arroio
Teixeira.
A estória
que segue fala sobre amigos, mas não amigos qualquer. Fala sobre
amigos de Facebook, amigos de Instagram, daqueles que há hoje em
dia, preocupados muito mais com as postagens na grande rede, do que
em refestelar-se no Sereia's Bar, em Arroio Teixeira. Essa é uma
história sobre o tempo que muda, e sobre as pessoas que, cada vez
mais, mudam com o tempo.
Passava
um pouco do meio-dia quando a Estrada do Mar levou-os diretamente
para dentro de Arroio Teixeira, uma pequena praia do litoral gaúcho,
pertencente a Capão da Canoa, essa sim, uma grande cidade. Em Arroio
Teixeira as coisas são íntimas, as pessoas se conhecem, as ruas são
ruelas, os amigos se encontram, os sentidos se aguçam. Vá lá que é
uma praia feia, mas na companhia de amigos, todas as coisas se
ajeitam e a vida sempre é mais bela.
-Puta que
pariu que praia feia do caralho, Ramiro! - declarou solene, tão logo
ingressaram na pequena praia, o Tamanduá.
- Não é feia, cara, só é pouco explorada – defendeu-se o Ramiro que, afinal de contas, havia sugerido o lugar aos amigos, e possuía uma singela casa na prainha.
- Não é feia, cara, só é pouco explorada – defendeu-se o Ramiro que, afinal de contas, havia sugerido o lugar aos amigos, e possuía uma singela casa na prainha.
- Cacete.
Cadê as pessoas, cadê a galera, as festas, as músicas? Cadê a
civilização? - emendou o Luís Pedro.
- Ah,
meu. Arroio Teixeira tem seu charme. Não é muito bonita, mas a
gente sempre acha o que fazer. Tem um monte de gente conhecida, e a
gente pode comprar cerveja, assar uma carne, conversar. Há quanto
tempo não nos reunimos? Quanto tempo que eu não converso
com vocês? - seguiu Ramiro na defensiva.
- Mas tu tá muito veadinho, Ramiro. A gente quer muvuca. Como é que eu vou postar no Instragram que to numa merda dessas? - replicou o Luís Pedro.
- Mas tu tá muito veadinho, Ramiro. A gente quer muvuca. Como é que eu vou postar no Instragram que to numa merda dessas? - replicou o Luís Pedro.
-Nem tem
check-in nessa porra de praia! - bradou o Tamanduá.
Ramiro, ao ouvir aquilo, silenciou. Não havia solução para o caso que se apresentava. A retórica praticamente não encontrava argumentos para convencer aqueles dois sujeitos de que Arroio Teixeira tinha algo a lhes oferecer. Ele conhecia os encantos de Arroio Teixeira, sabia que a praia fazia as pessoas felizes, porque era justamente uma praia onde as pessoas estavam felizes. Arroio Teixeira era uma praia de gente legal, mas não era uma praia de Facebook. Sendo assim, uma única alternativa plausível lhe restava; havia uma única saída para que seus amigos não o surrassem pela escolha da praia. Ramiro, mesmo reticente, com apenas um fio de voz, comentou:
Ramiro, ao ouvir aquilo, silenciou. Não havia solução para o caso que se apresentava. A retórica praticamente não encontrava argumentos para convencer aqueles dois sujeitos de que Arroio Teixeira tinha algo a lhes oferecer. Ele conhecia os encantos de Arroio Teixeira, sabia que a praia fazia as pessoas felizes, porque era justamente uma praia onde as pessoas estavam felizes. Arroio Teixeira era uma praia de gente legal, mas não era uma praia de Facebook. Sendo assim, uma única alternativa plausível lhe restava; havia uma única saída para que seus amigos não o surrassem pela escolha da praia. Ramiro, mesmo reticente, com apenas um fio de voz, comentou:
-
Atlântida é pertinho daqui.
Aquele comentário serviu para alvoroçar o ânimo dos presentes e lhes arrancar urros de contentamento. Atlântida sim era lugar para eles. Afinal de contas, não importa se o almoço é sardinha, o que importa é arrotar salmão. Assim, combinaram a estratégia: apenas dormiriam em Arroio Teixeira, e durante o dia, não arredariam pé da mais badalada praia do litoral gaúcho.
No primeiro dia de praia, as hashtags bombaram nas redes sociais, e cada foto dos amigos não tinha menos que 30 likes. #Atlantida #mulherada #loucuraematlantida #altonivel #ondeficaarroioteixeira?, manifestavam-se em cada legenda das milhares de fotos sem camisa que tiravam e postavam em redes sociais.
Aquilo sim era vida para Luís Pedro e para Tamanduá, porém, Ramiro não pensava assim. Logo no primeiro dia ele quase desabafou com os amigos. Quase lhes revelou que aquilo tudo era uma grande de uma putaria. Não era possível que para manter aparências preterissem Arroio Teixeira daquela forma. Não era possível que depois de tanta alegria vivida na popular Texa's Beach, ele simplesmente rumasse a uma praia vizinha para que suas postagens no Facebook fizessem mais sucesso, ou para fingirem que eram da elite social. Ramiro sabia que aquilo era fingimento. Sabia que essa elite social não lhes pertencia e pouco se importava com isso, porque a única coisa que importava a ele, era ser feliz. Era evidente que ele queria ganhar dinheiro, era sabido que ele trabalhava muito para buscar isso, mas enquanto isso não acontecia, ele colocava-se no seu lugar, e não era um mau lugar. Era um lugar de gente autêntica, gente que não negava o que era, que era feliz com o que tinha. Ramiro era um sujeito diferente.
Para evitar uma reação colérica diante daqueles dois babacas que Ramiro já não conhecia mais, levantou-se da mesa do bar de beira de praia que estavam, e com uma postura digna da mais alta nobreza, declarou a frase que jamais sairá da cabeça de Luís Pedro e Tamanduá:
- De nada adianta gozar com pinto dos outros!
Dito isso, Ramiro foi desfrutar de tudo aquilo que Arroio Teixeira tinha a oferecer. Luís Pedro e Tamanduá não tinham mais onde ficar e, assim sendo, retiraram-se do litoral gaúcho e voltaram para suas respectivas casas, afinal de contas, mentiras sempre duram pouco.
Aquele comentário serviu para alvoroçar o ânimo dos presentes e lhes arrancar urros de contentamento. Atlântida sim era lugar para eles. Afinal de contas, não importa se o almoço é sardinha, o que importa é arrotar salmão. Assim, combinaram a estratégia: apenas dormiriam em Arroio Teixeira, e durante o dia, não arredariam pé da mais badalada praia do litoral gaúcho.
No primeiro dia de praia, as hashtags bombaram nas redes sociais, e cada foto dos amigos não tinha menos que 30 likes. #Atlantida #mulherada #loucuraematlantida #altonivel #ondeficaarroioteixeira?, manifestavam-se em cada legenda das milhares de fotos sem camisa que tiravam e postavam em redes sociais.
Aquilo sim era vida para Luís Pedro e para Tamanduá, porém, Ramiro não pensava assim. Logo no primeiro dia ele quase desabafou com os amigos. Quase lhes revelou que aquilo tudo era uma grande de uma putaria. Não era possível que para manter aparências preterissem Arroio Teixeira daquela forma. Não era possível que depois de tanta alegria vivida na popular Texa's Beach, ele simplesmente rumasse a uma praia vizinha para que suas postagens no Facebook fizessem mais sucesso, ou para fingirem que eram da elite social. Ramiro sabia que aquilo era fingimento. Sabia que essa elite social não lhes pertencia e pouco se importava com isso, porque a única coisa que importava a ele, era ser feliz. Era evidente que ele queria ganhar dinheiro, era sabido que ele trabalhava muito para buscar isso, mas enquanto isso não acontecia, ele colocava-se no seu lugar, e não era um mau lugar. Era um lugar de gente autêntica, gente que não negava o que era, que era feliz com o que tinha. Ramiro era um sujeito diferente.
Para evitar uma reação colérica diante daqueles dois babacas que Ramiro já não conhecia mais, levantou-se da mesa do bar de beira de praia que estavam, e com uma postura digna da mais alta nobreza, declarou a frase que jamais sairá da cabeça de Luís Pedro e Tamanduá:
- De nada adianta gozar com pinto dos outros!
Dito isso, Ramiro foi desfrutar de tudo aquilo que Arroio Teixeira tinha a oferecer. Luís Pedro e Tamanduá não tinham mais onde ficar e, assim sendo, retiraram-se do litoral gaúcho e voltaram para suas respectivas casas, afinal de contas, mentiras sempre duram pouco.