Foi ali, dividindo o diminuto espaço do meu assento no ônibus, com um senhor que dormia fervorosamente e espalhava seu corpanzil por sobre a área que deveria ser destinada ao meu pobre ser, que percebi uma coisa que já me deveria ser clara: as pessoas amam Gramado.
Estive em Porto Alegre outro dia, o que não é lá grandes coisas. Gosto da capital riograndense, gosto de ir ao Redenção, de passear pelo Moinhos de Ventos, ou até pelo Menino Deus. Gosto acima de tudo de ir ao Olímpico Monumental, mas isso não vem ao caso agora. O que acontece é que não estou preparado para ir a Porto Alegre. Sou um colono convicto, e a cidade grande me atordoa. Fico zonzo com aquele burburinho todo, com aquelas sinaleiras, aqueles táxis, Deus, há um táxi a cada oito passos, e eles surgem de algum lugar no infinito, onde deve haver milhões de táxis esperando a hora certa para cruzar ensandecidamente as ruas da capital do rincão. Passei uma noite, uma manhã e um começo de tarde em Porto Alegre e já queria voltar correndo para Gramado, e sabe o que eu fiz? Voltei correndo para Gramado.
Fui de ônibus para Porto Alegre, por que é sabido que o trânsito da capital é um inferno e eu, como deve ser contigo, quero distância do inferno, mas quando vou até ele, vou de lotação que é mais seguro. Aí, tendo ido de ônibus, me restou também regressar para minha terra natal de ônibus, justo né?
Depois de reunir minhas moedinhas e comprar a passagem de volta resolvi fazer o que se esperava que eu fizesse: procurei o box de partida, e por diabos que não achei! Ou a rodoviária ou eu, alguém estava obtuso de informação, e tenho a impressão de que era eu. Fato é que por sorte encontrei um amigo zanzando por lá e adivinha só, ele ia para Gramado.
Achado o
box, embarcar no ônibus eu consegui sozinho, só que percebi que já
havia alguém sentado na poltrona ao lado da minha, e todos sabemos
que é deveras inconveniente dividir espaços no ônibus, sendo
assim, resolvi aplicar um golpe, sentei-me na poltrona de trás, que
estava vazia e sem ninguém ao lado. Minha alegria e meu conforto
terminaram no aeroporto, quando um simpático casal pediu-me licença,
pois afinal de contas, compraram passagens cujas poltronas eram
aquelas. Educado que sou, saí e me desculpei pelo “erro”.
Pois bem,
aquela viagem não terminava nunca e o senhor do meu lado era gordo e
roncava enquanto dormia. Veja bem, não tenho nada contra gordos,
acho até que eu gostaria de ser gordo, só que dividir o espaço do
ônibus com um gordo é algo lamentável, por que eu saio perdendo
entende? Acabo sendo esmagado no meu pequeno espaço, por que ele
precisa de mais espaço que eu.
Quando
chegamos no pedágio de Três Coroas eu senti o entusiasmo tomar
conta de mim, e da mesma forma percebi que tomava conta do resto do
ônibus inteiro. Os comentários começaram a aumentar de tom, as
pessoas começaram a se mexer em suas poltronas como se fossem
atacadas por um exército de pulgas. Finalmente estava ali o pórtico
que decreta que se chegou em Gramado, o ônibus explodiu de
excitação. As pessoas empolgaram-se de forma vigorosa. Máquinas
fotográficas foram sacadas como que em passe de mágica e lá
estavam meus colegas de ônibus com seus flashes e registrando o que
viam pelas janelas do coletivo.
Eles eram
turistas, percebe? Turistas que embarcaram na parada do aeroporto e
que estavam conhecendo uma nova cidade, e uma cidade que sem dúvida
é diferente da deles. Eu prestava atenção nos comentários e na
forma como as pessoas demonstravam estar embasbacadas com o que viam.
A organização da cidade, a limpeza das ruas, a arquitetura
arrojada. Juro que vi uma senhora com o rosto grudado na janela e
cutucando seu marido, que estava ao lado, urrando para ele: “olha
amor, olha, olha, eles param na faixa de segurança mesmo”.
Até eu,
que passara poucas horas em Porto Alegre sentia-me aliviado, estava
voltando para a minha cidade. Posso ter poucas qualidades, posso ser
chato, ser feio, ser pouco esperto...posso ser qualquer coisa, mas
sou gramadense, e fazer parte dessa cidade é um orgulho dos maiores
que se pode ter.
O ônibus chegou, estufei o peito e desci na frente de todos, apontando para alguns dos visitantes, “ali vocês encontrarão táxis e para lá fica o centro”. Não perderia a oportunidade de mostrar para eles que eu sou de Gramado. Que orgulho, Santo Deus, que orgulho!
O ônibus chegou, estufei o peito e desci na frente de todos, apontando para alguns dos visitantes, “ali vocês encontrarão táxis e para lá fica o centro”. Não perderia a oportunidade de mostrar para eles que eu sou de Gramado. Que orgulho, Santo Deus, que orgulho!
4 comentários:
Escrita fodastica!!!!
Texto muito legal!!!!!
Parabéns.
Oo seu Marcon! Me achaste por aqui.
Valeu, meu querido.
Volte sempre, espero ter mais coisa boa para te apresentar.
Abração
Ricardinho!
Em primeiro lugar, parabéns pelo baita texto!
De todas as informações que tu bem colocaste no decorrer do texto, me identifiquei muito com uma.
Sim, também me assumo como colono nato. E tenho muito orgulho disso. E acho que esse é o primeiro lugar para se ter sucesso na vida. Ter orgulho de onde se veio, e não ter vergonha ou receio de dizer que pretendo continuar por aqui por muito e muito tempo.
Um abraço, parabéns!
E aí Sérgio Júnior!
Cara, te agradeço pelo comentário e elogio.
Realmente é fundamental que se tenha orgulho da origem, afinal de contas, não é renegando o passado que se conquista um futuro brilhante. Eu tenho orgulho de ser daqui e terei orgulho durante minha vida toda de ter nascido em Gramado.
Sabe-se lá o que o futuro nos reserva, o certo é que por enquanto esse é o meu lar.
Abraços,
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