A cancha de bocha ficava a menos de 10 metros da casa do Azevedo, aliás, ele, o Camargo, o Tonico, e o Marquinha, passavam horas do dia na tal cancha, sempre com os mesmos papos, as mesmas duplas, os mesmos truques, as mesmas brigas quando o Camargo tentava marcar um ponto a mais para ele e o Marquinha. A cachaça era a mesma, 51, com um pouquinho de coca-cola.
Cerca de 30 dias eles ficavam na praia, em fevereiro. Passavam o carnaval ali, a cancha lhes servia de passarela, a Sapucaí em Capão da Canoa. A vida muda um pouco quando se tem mais idade.
O sol sempre fez parte das disputas mais acirradas dos quatro amigos, o Camargo sempre reclamando do calor, a testa suava, e o seu preparo físico, pouco invejável, do alto dos seus 130 quilos, não lhe dava todo amparo possível para um exaustivo jogo de bocha.
Começou uma discussão, mais um questionamento que uma discussão:
- Marquinha? Por que diabos te chamamos assim?- indagou o Tonico.
- Tchê, nem sei, sempre me chamaram assim, e nem me lembro mais o real motivo- revelou Marquinha, com aquela linda camisa regata do Posto Texaco.
Dali, passaram horas questionando a alcunha do amigo referido.
- Mas tchê, não tinha um apelido mais macho para pormos em ti? - brincou o Camargo, depois de alguns copos de 51 e coca.
- Que isso tchê, Marquinha é macho, vocês não acham?- lembrou o Marquinha
Risos ecoaram por todo o parque onde encontrava-se a cancha.
- Marquinha é a coisa mais gay que eu já ouvi um ser humano ser chamado, inclusive, nem sei o teu nome, só sei do Marquinha- proferiu o Azevedo.
Mais discussão entre os bochófilos. “Marquinha, gay ou não gay, eis a questão”. Venceu por unanimidade: Marquinha é gay.
A cachaça acabou, o jogo também, atracavam-se no tapa o Azevedo e o Tonico, pois discutiram e acirraram opiniões de que o Marquinha tinha o apelido por diferentes motivos. Tonico dizia que era por que ele tinha uma marca de nascença. Azevedo dizia que o apelido tinha a ver com a marca do cigarro que o Marquinha usava.
O Marquinha ouvia quieto.
Terminaram a discussão como começaram, sem saber o por que do apelido que eles mesmos inventaram.
As coisas começaram a se acalmar, o Azevedo, que era o típico bêbado chato, começou a jogar a coca-cola que tinha sobrado em todos os amigos. “Que brincadeira idiota”, diziam os amigos.
A bocha e a reunião dos amigos pararam por ali, depois da atitude lamentável do Azevedo. Mas foi assim, que tiveram a surpresa. Surgiu como um lampejo de felicidade, como se os bons e áureos tempos da juventude, quando os três recém tinham começado com a atividade da bocha na cancha da praia, tivera voltado. Depois de ter sua camisa regata, da Texaco, suja de coca-cola, o Marquinha resolvera tira-la do corpo. E quando estava indo embora, os amigos enxergaram, aquela linda marca branca da camisa, clara e nitidamente desenhada e estampada naquele corpo vermelho, como se nem tivesse de fato a tirado do corpo, lembraram da origem do apelido, o Marquinha, antes Juvenir, nunca tirava a camiseta, pegava sol e mais sol na praia, com aquela linda regata, quando a sacava do corpanzil, la estava, entalhada naquela púrpura pele de gringo.
-Lembrei-me agora, é por causa da marca da camisa, desenhada pelo avermelhamento dos braços do Marquinha- disse o Camarfo- Mas escuta, alguém, sabe do Nevasca? - indagou
- O Nevasca! Mas que saudade, será que ta vivo ainda? - questionou o Tonico.
- Claro que sim, e esse, me lembro direitinho o por que do apelido- disse o Azevedo- tinha muita caspa o infeliz.
- Não, não, ele morava em Gramado, e vivia contando histórias geladas pra nós – lembrou o Camargo.
- Ah, mas não é isso mesmo- disse um por fim, e iniciaram a discussão.
7 comentários:
Parabéns! Muito bom o texto (assim como todos os teus que já li). Continua assim. Abraço
Valeu Marco, obrigado pelo apoio, nessa época de crise virutal.
aushash
Abração
Cara... acho mt divertido ler tuas historias... parabens mesmo... xou de bola
Muito obrigado, Fredi.
Mesmo tu sendo meio suspeito pra falar, eu considero muito tuas opiniões. hehe.
Abração, cara
muito bom teu texto ricardinho!
parabéns mesmo :)
beijos
Bah!! Valeu Cindy. Muito obrigado mesmo.
Espero ver todos vocês, no tude-cide, tu é o roteirista.
Abração, e muito obrigado pela força.
...a Sapucaí em Capão da Canoa*
inspiração do nosso feriadão na praia? haha
Adoro teus textos, meu projeto de escritor preferido.
Beijo, te amo :)
Postar um comentário