Foi num almoço
qualquer, de um dia qualquer, em uma ocasião qualquer. O que se
sabe apenas é que aconteceu em uma cidade de interior, onde quase
todos se conhecem e onde todos sabem da vida de todos, antes mesmo
dos respectivos donos de suas próprias vidas saberem.
- Sabe o Geraldo?
- Sabe o Geraldo?
- Qual Geraldo? O
filho da Dionete?
- Não, não. O
Geraldo casado com a Taís, que é irmã do Tomás.
- Mas então, a mãe
do Geraldo é a Dionete.
- Não, a mãe do
Geraldo é a Janete. A Dionete é irmã dela, mãe da Samara e do
Felipe, sabe?
- Ah sim, a Samara
casada com o Tadeu?
- Não, a Samara tem
cinco anos.
- Ah é. Mas e o
Geraldo?
- Que Geraldo?
- O Geraldo filho da
Janete, casado com a Taís.
- Ah sim. Pois é,
encontrei ele outro dia, e sabe o que ele me falou?
- O que?
- Que a Dominique,
sabe a Dominique?
- Não.
- A que mora ali do
lado do Jorge que arruma as máquinas de lavar roupa. Acho que a mãe
dela era casada com o Cirilo, da van.
- Ah sim. Sei sim, ela
é meio prima daquele tiozinho do bigode que veio lá de Alegrete.
- Isso!
- Tá, e o que tem a
Dominique?
- Que Dominique?
- A Dominique que o
Geraldo te falou.
- Ah sim, pois é, ele
comentou que ela tá grávida do Samuel.
- Que Samuel?
- O Samuel que era
casado com a Diana. Filho da Clotilde. Ele tem uns 30 anos e mora
com ela ainda. Moram ali perto do cemitério, sabe?
- Samuel, Samuel...não
sei se to lembrado.
- Tu deves conhecer.
Ele é um baixinho, meio gordinho, tem um carro preto, bem novinho.
- Sabe o que eu tava
pensando, mãe?
- O que, Samuel?
- Que eu acho que eu
me lembrei bem da Dominique.
- Que Dominique? -
pergunta dona Clotilde, mãe do Samuel que engravidou a Dominique,
cuja mãe era casada com o Cirilo dono da van.