Quando Marília anunciou que não ia sozinha, César chegou a suar frio.
- Como assim não vem sozinha?
- Vou levar uma amiga, oras.
- Uma amiga? Mas e o que combinamos?
- Tu não consegue fazer com duas, Césinha? Ouvi maravilhas tuas e tu vai me decepcionar?!
- Não é que vou decepcionar, porém, não sei se consigo com duas mesmo. É muita coisa, preciso de mais tempo, mais concentração, tudo tem que estar no ponto, senão tu sabe o que acaba acontecendo, tudo vem a baixo. Uma série de fatores interferem.
- Sempre pensei que fosse o sonho de todo homem como você.
- Pode ser, mas é algo a se pensar, preciso estar preparado. Mas creio que se eu tiver tudo o que se precisa a gente pode fazer.
- Okey, eu te aviso um pouco antes de irmos então.
- Certo, eu preciso comprar mais ingredientes, afinal de contas, é sempre muito complicado fazer um bolo de framboesa.
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
O canhão do Albino
Que fosse todos os sábados, embora eu tenha quase certeza que tudo acontecia no meio da semana, mas sempre achei o sábado uma data especial, portanto, era sim no sábado. O areião da pracinha perto de casa, uma das tantas que já morei, era o palco de uma sagaz disputa, onde oito mirradas miniaturas de futuros craques de futebol, quatro pra cada lado, mediam forças para ver quem seria o dono do campinho.
O meu time era sempre o mesmo e entrávamos em campo sob uma ovação que condizia com o tamanho do clássico que disputaríamos, a torcida ensandecida contava com a participação da irmã do nosso atacante, e...bem, da irmã do nosso atacante, que clamava pelo início do jogo, e pela vitória dos guris da rua de baixo (nós).
O sistema de som (Cláudio, um gordinho um pouco mais novo que nós), anunciava efusivamente o nome dos atletas para a imensa torcida que se fazia presente:
- Entra em campo o time da rua de baixo: Zelando as traves e o bem estar das redes da goleira do time, Ricardinho (sim, eu era o goleiro); fazendo o areião levantar, botinando os adversários, o zagueiro é BelZebú. O carque do time, ele que joga com beleza e destreza, no meio campo está o Devagar; e no ataque o homem que trouxe consigo a maior torcida do clássico, o melhor atacante que o time da Rua de Baixo já conheceu, Cenoura.
Pronto, estávamos em campo, nossa estratégia consistia em uma uma única tática que era sempre aplicada á risca: chuta a bola pra frente e se sobrar o Cenoura guarda.
Enquanto mantínhamos conversas definindo a postura do nosso time, o gordinho começou a anunciar o time da Rua de Cima. Tudo estava na mais perfeita paz até ele anunciar o nome que não queríamos ouvir, o mais temido, o menos querido e mais feroz atacante que rondava o bairro: Albino. A confusão começou quando o dito nome foi anunciado. Não podíamos deixar, o Albino era um terror, e não condizia com nosso esteriótipo de franzinos atletas. Além do mais a faixa etária do nosso time era de oito anos e o Albino tinha 19, faço questão de escrever que o Albino tinha DEZENOVE anos. Era inadmissível, mas o que poderíamos fazer? Não havia um regulamento para o jogo, portanto, estávamos em desvantagem, clara e total desvantagem.
Sob nossos imensuráveis protestos, o Tamanduá (capitão do time da Rua da Cima), cedeu e declarou: “o Albino será nosso meio campo e não poderá fazer gol”.
Ufa! Aquela frase foi um alívio para mim, o Albino chutava tal qual o Roberto Carlos, que na época tinha um foguete na perna esquerda. Saldei ao Divino por ter me livrado da incumbência de barrar o melhor atacante que o bairro já viu.
O jogo começou, e o gordinho Cláudio transformou-se no árbitro. A cada lance ele manifestava-se com gestos efusivos, indicando que aquele gordinho cresceria afeminado, o que não nos dizia respeito, afinal era de fato um bom juiz.
Nossa tática começou a dar certo, o Cenoura era um fenômeno, fazia gols de todos os jeitos, de cabeça, joelho, barriga, peito, vez que outra até com o pé. Tem gente que jura ter visto o Cenoura fazendo gol de pescoço. Estávamos vencendo por 1x0. Gol de cenoura. O primeiro tempo acabou.
Fomos exaustos à casamata (a sombra de um pinheiro com poucas folhas), e faceirinhos que estávamos traçamos uma única estratégia: “Pelo amor de Deus vamos ganhar esse jogo, parece que o Albino ta meio bêbado hoje, vamos aproveitar”, eu falei. E de fato o Albino não estava no melhor dos seus dias, não tinha feito uma boa jogada e o Belzebú estava invocado, não queria saber de brincar, embora fosse uns 15 centímetros menor que o Albino, ainda assim estava jogando como se fosse um metro maior.
O jogo reiniciou e segurávamos o 1x0. Faltava menos de dois minutos para o jogo terminar, e sagrarmo-nos campeões do campinho. Foi quando tudo aconteceu. A bola estava nas mãos do Cedenir (goleiro do outro time), quando eu vi o Albino olhando-me com aqueles olhos de fúria, olhos que ofuscavam a minha visão e faziam-me tremer dos pés à cabeça. Eu sabia que algo de muito ruim aconteceria. O Albino estava tramando alguma coisa, e essa coisa não poderia ser boa.
O Cedenir lançou a bola com violência para o Albino que dominou-a no peito, desvencilhou-se do Belzebú com um jogo de corpo criminoso e apontou bem na minha frente, como se tivesse seis metros de altura, eu estava desprevenido, não contava com aquele acontecimento, eis que o Albino, mau caráter que era, desferiu um pontapé estrondoso na esfera futebolística, ali, em plena minha frente, a menos de dois metros de mim. O que aconteceu a seguir foi um milagre, sem dúvidas. Eu defendi. Defendi o chute poderoso do Albino, defendi com o face, é verdade, e em seguida consegui apenas ouvir o som do Belzebú afastando a bola para a lateral e o gordinho Cláudio apitando o final do jogo, antes de eu cair desmaiado, tendo tempo de ouvir alguém berrando eloquentemente: “Mas que defesa!”
O meu time era sempre o mesmo e entrávamos em campo sob uma ovação que condizia com o tamanho do clássico que disputaríamos, a torcida ensandecida contava com a participação da irmã do nosso atacante, e...bem, da irmã do nosso atacante, que clamava pelo início do jogo, e pela vitória dos guris da rua de baixo (nós).
O sistema de som (Cláudio, um gordinho um pouco mais novo que nós), anunciava efusivamente o nome dos atletas para a imensa torcida que se fazia presente:
- Entra em campo o time da rua de baixo: Zelando as traves e o bem estar das redes da goleira do time, Ricardinho (sim, eu era o goleiro); fazendo o areião levantar, botinando os adversários, o zagueiro é BelZebú. O carque do time, ele que joga com beleza e destreza, no meio campo está o Devagar; e no ataque o homem que trouxe consigo a maior torcida do clássico, o melhor atacante que o time da Rua de Baixo já conheceu, Cenoura.
Pronto, estávamos em campo, nossa estratégia consistia em uma uma única tática que era sempre aplicada á risca: chuta a bola pra frente e se sobrar o Cenoura guarda.
Enquanto mantínhamos conversas definindo a postura do nosso time, o gordinho começou a anunciar o time da Rua de Cima. Tudo estava na mais perfeita paz até ele anunciar o nome que não queríamos ouvir, o mais temido, o menos querido e mais feroz atacante que rondava o bairro: Albino. A confusão começou quando o dito nome foi anunciado. Não podíamos deixar, o Albino era um terror, e não condizia com nosso esteriótipo de franzinos atletas. Além do mais a faixa etária do nosso time era de oito anos e o Albino tinha 19, faço questão de escrever que o Albino tinha DEZENOVE anos. Era inadmissível, mas o que poderíamos fazer? Não havia um regulamento para o jogo, portanto, estávamos em desvantagem, clara e total desvantagem.
Sob nossos imensuráveis protestos, o Tamanduá (capitão do time da Rua da Cima), cedeu e declarou: “o Albino será nosso meio campo e não poderá fazer gol”.
Ufa! Aquela frase foi um alívio para mim, o Albino chutava tal qual o Roberto Carlos, que na época tinha um foguete na perna esquerda. Saldei ao Divino por ter me livrado da incumbência de barrar o melhor atacante que o bairro já viu.
O jogo começou, e o gordinho Cláudio transformou-se no árbitro. A cada lance ele manifestava-se com gestos efusivos, indicando que aquele gordinho cresceria afeminado, o que não nos dizia respeito, afinal era de fato um bom juiz.
Nossa tática começou a dar certo, o Cenoura era um fenômeno, fazia gols de todos os jeitos, de cabeça, joelho, barriga, peito, vez que outra até com o pé. Tem gente que jura ter visto o Cenoura fazendo gol de pescoço. Estávamos vencendo por 1x0. Gol de cenoura. O primeiro tempo acabou.
Fomos exaustos à casamata (a sombra de um pinheiro com poucas folhas), e faceirinhos que estávamos traçamos uma única estratégia: “Pelo amor de Deus vamos ganhar esse jogo, parece que o Albino ta meio bêbado hoje, vamos aproveitar”, eu falei. E de fato o Albino não estava no melhor dos seus dias, não tinha feito uma boa jogada e o Belzebú estava invocado, não queria saber de brincar, embora fosse uns 15 centímetros menor que o Albino, ainda assim estava jogando como se fosse um metro maior.
O jogo reiniciou e segurávamos o 1x0. Faltava menos de dois minutos para o jogo terminar, e sagrarmo-nos campeões do campinho. Foi quando tudo aconteceu. A bola estava nas mãos do Cedenir (goleiro do outro time), quando eu vi o Albino olhando-me com aqueles olhos de fúria, olhos que ofuscavam a minha visão e faziam-me tremer dos pés à cabeça. Eu sabia que algo de muito ruim aconteceria. O Albino estava tramando alguma coisa, e essa coisa não poderia ser boa.
O Cedenir lançou a bola com violência para o Albino que dominou-a no peito, desvencilhou-se do Belzebú com um jogo de corpo criminoso e apontou bem na minha frente, como se tivesse seis metros de altura, eu estava desprevenido, não contava com aquele acontecimento, eis que o Albino, mau caráter que era, desferiu um pontapé estrondoso na esfera futebolística, ali, em plena minha frente, a menos de dois metros de mim. O que aconteceu a seguir foi um milagre, sem dúvidas. Eu defendi. Defendi o chute poderoso do Albino, defendi com o face, é verdade, e em seguida consegui apenas ouvir o som do Belzebú afastando a bola para a lateral e o gordinho Cláudio apitando o final do jogo, antes de eu cair desmaiado, tendo tempo de ouvir alguém berrando eloquentemente: “Mas que defesa!”
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Ninguém trabalha de havaianas
Ninguém trabalha no verão! Absolutamente ninguém trabalha no verão. Não que ninguém queira trabalhar no verão, é bom que se diga. Menos ainda que todos estejam de férias no verão. O que acontece é simples, porém, cabe cuidado ao inciar uma explicação, ou diria ainda, uma explanação sobre tal teoria.
Vamos aos fatos. Eis que o sol que no inverno brilha longe – quando brilha – no verão aparece como mais novo melhor amigo de todo e qualquer par de havaianas que encontra-se ali, escondido em meio aos tênis velhos e as sapatos para se usar em casamentos. As havaianas no inverno, perdem em adesão popular até para as pouco discretas botas de chuva. Pois bem, não desvirtuando ao assunto, chegamos, com essa explicação, à uma das causas do por que ninguém trabalha no verão: quem diabos pode ir trabalhar de havaianas? Há exceções e eu bem sei que algumas pessoas trabalham de havaianas, mas sendo sabedor também, que ninguém em um escritório pode trabalhar de havaianas, e de que todos (sem exceção nesse caso) querem trabalhar assim no verão, aí já são cerca de 25% de pessoas que não trabalham no verão. Motivo? A falta das havaianas.
Não vou me ater à vestimenta veranista para justificar a minha tese, pois ainda me caberiam dois ou três parágrafos falando das bermuda/saias, das regatas/blusinhas e ainda do chapéu de palha.
Chapéu de palha, aposto que algum gaiato teve tempo para dizer: “eu não uso chapéu de palha”. Óbvio que não usa chapéu de palha. Aliás, acho que ninguém usa chapéu de palha. Eu não uso chapéu de palha, nunca usei, exceto em uma festa de São João que não vem ao caso agora. Porém, os mais atentos devem entender que o chapéu de palha é alusivo à uma coisa em especial, e digo mais, não é simplesmente uma coisa, é A Coisa, e só digo “coisa”, na falta de uma português mais amplo, que pudesse me ajudar à descrevê-la como de fato ela merece. A Coisa em questão, trata: se da praia, ou alguém nunca ouviu: “eu tava de chapéu de palha, na praia tomando sol”? A Coisa é a praia, o ápice do verão.
Quem trabalha no verão, enfurnado em um escritório, amparado por papeis e mais papeis que nem de longe lembram as dunas, de praias que pouco me importa se são Arroio do Sal ou Curumim? São praias.
Quem é o obcecado pela desgraça que rende alguma coisa abaixo de 35 graus célcios, quando esse mesmo sol que lhe ofusca a vista, vai estar lá em Marambaia, queimando o nariz dos poucos afortunados que já estão lá, degustando o inferninho (do bem), que o verão proporciona?
E Santa Catarina então? Chego a rir da possibilidade de alguém, por mais concentrado que seja, digitando freneticamente em seu computador, ou tentando arrumar a impressora que só fala em espanhol, quando poderia estar logo ali, há uns 400 quilômetros gastando suas energias na subida do Caminho do Rei, na Praia do Rosa, ou ainda testando o seu portuñol na Praia de Ferrugem?
Ninguém trabalha no verão, por causa das havaianas e da praia. Mais das havaianas que da praia, por único motivo em especial; as havaianas também lembram a praia. Portanto, aqui temos o chapéu de palha, na praia tomando sol, e de havaianas, por que ninguém que esteja na praia tomando sol de chapéu de palha, vai estar sem havaianas, isso é óbvio.
No verão ninguém trabalha, e mesmo na primavera, quando a temperatura começa a oscilar entre os 25 e 30 graus célcios, já começamos a parar de trabalhar, ou ainda de raciocinar, vide a baixa qualidade do texto que no instante acabo de escrever, e o senhor/a acaba de ler.
Vamos aos fatos. Eis que o sol que no inverno brilha longe – quando brilha – no verão aparece como mais novo melhor amigo de todo e qualquer par de havaianas que encontra-se ali, escondido em meio aos tênis velhos e as sapatos para se usar em casamentos. As havaianas no inverno, perdem em adesão popular até para as pouco discretas botas de chuva. Pois bem, não desvirtuando ao assunto, chegamos, com essa explicação, à uma das causas do por que ninguém trabalha no verão: quem diabos pode ir trabalhar de havaianas? Há exceções e eu bem sei que algumas pessoas trabalham de havaianas, mas sendo sabedor também, que ninguém em um escritório pode trabalhar de havaianas, e de que todos (sem exceção nesse caso) querem trabalhar assim no verão, aí já são cerca de 25% de pessoas que não trabalham no verão. Motivo? A falta das havaianas.
Não vou me ater à vestimenta veranista para justificar a minha tese, pois ainda me caberiam dois ou três parágrafos falando das bermuda/saias, das regatas/blusinhas e ainda do chapéu de palha.
Chapéu de palha, aposto que algum gaiato teve tempo para dizer: “eu não uso chapéu de palha”. Óbvio que não usa chapéu de palha. Aliás, acho que ninguém usa chapéu de palha. Eu não uso chapéu de palha, nunca usei, exceto em uma festa de São João que não vem ao caso agora. Porém, os mais atentos devem entender que o chapéu de palha é alusivo à uma coisa em especial, e digo mais, não é simplesmente uma coisa, é A Coisa, e só digo “coisa”, na falta de uma português mais amplo, que pudesse me ajudar à descrevê-la como de fato ela merece. A Coisa em questão, trata: se da praia, ou alguém nunca ouviu: “eu tava de chapéu de palha, na praia tomando sol”? A Coisa é a praia, o ápice do verão.
Quem trabalha no verão, enfurnado em um escritório, amparado por papeis e mais papeis que nem de longe lembram as dunas, de praias que pouco me importa se são Arroio do Sal ou Curumim? São praias.
Quem é o obcecado pela desgraça que rende alguma coisa abaixo de 35 graus célcios, quando esse mesmo sol que lhe ofusca a vista, vai estar lá em Marambaia, queimando o nariz dos poucos afortunados que já estão lá, degustando o inferninho (do bem), que o verão proporciona?
E Santa Catarina então? Chego a rir da possibilidade de alguém, por mais concentrado que seja, digitando freneticamente em seu computador, ou tentando arrumar a impressora que só fala em espanhol, quando poderia estar logo ali, há uns 400 quilômetros gastando suas energias na subida do Caminho do Rei, na Praia do Rosa, ou ainda testando o seu portuñol na Praia de Ferrugem?
Ninguém trabalha no verão, por causa das havaianas e da praia. Mais das havaianas que da praia, por único motivo em especial; as havaianas também lembram a praia. Portanto, aqui temos o chapéu de palha, na praia tomando sol, e de havaianas, por que ninguém que esteja na praia tomando sol de chapéu de palha, vai estar sem havaianas, isso é óbvio.
No verão ninguém trabalha, e mesmo na primavera, quando a temperatura começa a oscilar entre os 25 e 30 graus célcios, já começamos a parar de trabalhar, ou ainda de raciocinar, vide a baixa qualidade do texto que no instante acabo de escrever, e o senhor/a acaba de ler.
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